Em livro de estreia, doutora em engenheira promove autoconhecimento e ensina a afastar as influências do ambiente e a própria negatividade cerebral
Aos detalhes...
Foto: Divulgação
A engenheira paraibana Maria Paz é uma promotora da vida e do valor de cada pessoa. Em seu livro de estreia, Prazer em ser humano, a autora convida o leitor a entrar em um processo de autoconhecimento em busca de reencontrar seu verdadeiro eu. Mais que a transformação pessoal, Maria acredita que as mudanças individuais afetam o coletivo e são o caminho para construção da paz.
Com pós-doutorado em Engenharia Civil (pela UFRGS) e especialista em teologia, a escritora compartilha na entrevista a seguir, a intensa pesquisa multidisciplinar e a sua vivência que resultaram na concepção da obra e seu propósito.
Por que você decidiu retratar esse tema tão amplo no seu livro de estreia?
Quem somos nós? Por que estamos aqui? O que eu posso fazer para tornar esta vida mais fácil para mim e para os demais? Estas três questões fundamentais acompanharam-me durante toda a vida. São questões contundentes presentes em nossa racionalidade humana e, para elas, eu não encontrei respostas nem sossego. Assim, compreendi ser necessário pesquisar sobre o tema com dedicação, sem camuflagens, e foi o que eu fiz. E o que descobri já não me pertence; é de toda a humanidade. Daí a necessidade de escrever o livro e compartilhar o conhecimento.
Como foi o processo de pesquisa para compor a obra e quanto tempo levou?
Quando a minha vida deu uma forte pane, busquei a verdade, o conhecimento para além do que o maravilhoso e muito preciso método científico pode nos proporcionar. Compreendendo haver uma lacuna, direcionei a minha sede por conhecimento verdadeiro, empregando a prática em pesquisa adquirida na academia, para conhecer o legado de pensadores geniais, que refletiram o humano como promotor da PAZ e buscador da FELICIDADE.
Peguei a pista do potentia do físico quântico Heisenberg e fui buscar Platão com a sua Teoria do Conhecimento da Linha Dividida. Li e reli vários livros de Platão e depois descobri a profundidade do pensamento agostiniano que, em sequência ao meu estudo de Platão, aprofundou a minha própria vivência na interioridade. E fui somando pensadores clássicos e contemporâneos a variados artigos científicos e colocando tudo isso em uma linguagem acessível, de tal forma que este livro se fundamenta em seis anos de pesquisa bibliográfica transdisciplinar e posso afirmar que sou autora devido à necessidade de comunicar e testemunhar toda essa riqueza humana.
Qual foi a sua maior inspiração para escrever “Prazer em ser humano”?
Segundo Agostinho, a razão para filosofar é a felicidade. De fato, é a busca pela felicidade de podermos significar com liberdade e lucidez a nossa vida que me levou a escrever “Prazer em ser humano”. Quanto mais eu pesquisava, mais percebia o valor da contribuição genuína de pensadores apaixonados pelo conhecimento verdadeiro, que com sinceridade e extremado amor se dedicaram a descobrir e depois a nos legar pistas seguras e preciosas sobre a vida e a dignidade humana.
Qual é a principal mensagem que a obra traz aos leitores?
Não desista. Viver vale a pena! Comece hoje a se autoconhecer (para além do condicionamento ambiental e da negatividade cerebral) e a experienciar o seu valor único. Silencie e flua em sua interioridade, para que você não seja apenas uma peça na engrenagem, mas de fato, tenha alma, escolha com lucidez e signifique o que sente e o que te acontece com a clareza da racionalidade sadia que usufrui do livre-arbítrio.
Sua formação como engenheira influenciou na construção da obra. Mas como foi feita essa relação com as outras áreas dos saberes, como filosofia e sociologia?
A especificidade profissional é uma riqueza da ciência, cada um se aprofundando em sua própria vocação. Como engenheira eu amo o método científico que possibilita toda a maravilhosa tecnologia que nos cerca. Contudo, a fragmentação dos saberes não pode abarcar a consciência humana, fazer isso nos exila de nossa completude na interioridade, e apartados da integralidade desaprendemos a significar o que sentimos e o que nos acontece. Portanto, entender e conectar as complementaridades dos saberes que se apresentam muito separados na contemporaneidade foi o grande desafio para escrever este livro. Cada pergunta que eu fazia na busca pelo ser humano, abria um imenso leque multidisciplinar e eu fui, com coragem e dedicação sem preconceitos, buscando compreender a ação conjunta dos saberes humanos que passa despercebida e, às vezes, parece proibida, contraditória ou impossível.
Quais são os desafios de ser escritora no Brasil?
Inúmeros. E o principal é fazer com que, em meio ao imenso turbilhão de informações, as pessoas saibam que a sua obra existe e que ela traz uma contribuição legítima para a sociedade e para cada pessoa.
Cada um de nós tem a missão de contribuir para melhorar o mundo e pensando nisso escrevi este livro. Sei que o brasileiro tem sede de conhecimento, porém a maioria ainda é mantida envolvida em tendências e necessidades repetitivas que são amplamente estimuladas. Assim, não há tempo nem incentivo para as pessoas descobrirem a sede inata por leitura e nem acessar o conhecimento que precisamos para escolher com lucidez e realizar com criatividade.
Você também é especialista em teologia e acrescentou elementos espirituais na obra. Como você fez essa conexão com os demais temas abordados?
A obra trata do ser humano integral, pois quando estamos fragmentados
somos como máquinas movidas pelo condicionamento ambiental adquirido e pelos circuitos cerebrais de emoções negativas e viciantes herdados. Se não cuidarmos em despertar, passaremos a vida em modo automático sem usufruirmos do nosso livre-arbítrio nem das potencialidades criativas que tornam possível a felicidade humana.
Não se trata de um livro religioso, mas cuida da qualificação do humano e, por isso, evidencia que cada um tem o potencial para se tornar uma pessoa humana desperta em sua interioridade e para além do intelecto, onde Deus nos ilumina. No livro, ensino este processo segundo a minha própria vivência pessoal e o testemunho de pensadores clássicos e contemporâneos. Imagine todos sendo curados na interioridade e despertando para a felicidade possível, que é viver o propósito de suas vidas. E o propósito de cada um, embora seja diferente e inédito, sempre irá se realizar na coletividade, construindo um mundo melhor para todos, incluindo a preservação e restauração da natureza que como o ser humano tem sofrido tanto desrespeito e aviltamento.
De que forma o desenvolvimento humano, a sustentabilidade e o livre-arbítrio, podem levar à racionalidade saudável das pessoas?
Essa é uma questão importantíssima. Para além do condicionamento ambiental e dos pensamentos repetitivos gerados por nossos circuitos cerebrais, nós temos livre-arbítrio e podemos com lucidez escolher criativamente novos contextos e significados. Porém, se ficarmos apenas no automático, seguimos determinados como máquinas sem alma e discernimento, deixando de saborear o conhecimento que harmoniza e desperta o livre-arbítrio da pessoa humana e isso não podemos admitir. Portanto, precisamos redescobrir o prazer plenificante e libertador que nos faz humanos, a nossa racionalidade sadia. O ser humano está muito maltratado, apartado de sua própria interioridade jaz torturado e assombrado pelo vazio e a solidão. Cansados, explorados, feridos e movidos por metas externas, passamos pela vida sem viver e isso não é bom para ninguém.
Como o autoconhecimento pode levar as pessoas a resgatarem a felicidade?
Primeiro vamos compreender que o autoconhecimento não significa entender por que razão: eu penso isso, sinto aquilo ou ajo daquele modo. Essa bagagem negativa todos nós temos; precisamos ir além dessa nuvem coletiva.
A partir do momento que você percebe que aqueles pensamentos repetitivos, viciantes, intensos e reativos que passam pela sua cabeça e influenciam o seu comportamento e percepção não representam você, e que são apenas sugestões de seu maravilhoso biocomputador (o cérebro) e do ambiente, sua vida começa a mudar. Porque você para de ser um joguete que reage conforme a dobradinha condicionamento cerebral e ambiental, e começa a sua jornada para se tornar uma pessoa desperta, capaz de escolher criativamente como se sente, o que pensa e significa e como agir diante das circunstâncias no cotidiano de sua vida.
O livro “Prazer em ser humano” é um convite para esse processo de cura, conhecimento e libertação que, gradualmente, possibilita o reencontro com o “seu verdadeiro eu” e com o prazer em ser humano. Aceite o processo e venha descobrir que você tem valor! Não um valor comparativo, mas valor original, único e específico do seu ser. Acredite, você traz um propósito que lhe proporciona felicidade e aponta para o ganho coletivo, porque o ser humano é um ser social e a racionalidade sadia busca construir a sociedade da vida em abundância para todos. Seja luz!
Sobre a autora: Maria Paz é autora do livro “Prazer em Ser Humano” e há anos vem pesquisando a potencialidade humana para a paz e a felicidade. Sua obra literária se caracteriza pela leveza, fundamentação bibliográfica e qualificação do humano. A autora busca traduzir, de modo acessível e sem deturpação, conhecimentos relevantes, desde Platão até a ciência atual, a fim de resgatar a racionalidade sadia de cada pessoa.
Por formação é engenheira mecânica, engenheira de segurança do trabalho e mestre em Engenharia de Produção (pela UFPB); especialista em Pedagogia Religiosa – Teologia (pela UNIPÊ); doutora com pós-doutorado em Engenharia Civil (pela UFRGS). Possui capacitação em Carisma Missionário Franciscano (pela USF) e em Ecologia (pela UFCE). Conhece o trabalho dos pioneiros da Física Quântica e a analogia quântica idealista. Atuou por mais de duas décadas no ensino e na pesquisa de melhores condições de trabalho para todos e de desenvolvimento ambientalmente sustentável.