Empresa de Vitor Souto foi investigada pela PF em caso de assassinato de Binho do Quilombo
Empresário teria ainda atuado para trocar a licença entre suas próprias empresas, com o intuito de se afastar das investigações
Foto: Divulgação/Naturalle
A empresa Naturalle, que tem como sócio o empresário Vitor Souto, é citada mais de dez vezes na investigação sobre o assassinato de Binho do Quilombo, filho de Mãe Bernadete, morto em agosto de 2017, com mais de dez tiros. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (20) pelo site Intercept Brasil.
Ainda de acordo com o veículo, após o assassinato de Binho do Quilombo, Souto teria atuado para trocar a licença entre suas próprias empresas, com o intuito de manter o controle do empreendimento e tentar se afastar das investigações.
Vitor Souto é filho de Paulo Souto, ex-governador da Bahia, e é empresário com negócios em limpeza urbana e construção de aterros para tratamento de resíduos. Ele é conhecido por frequentar eventos sociais e restaurantes de luxo na Bahia.
Em 2016, a Naturalle recebeu uma licença da prefeitura de Camaçari para iniciar um aterro de inertes em um terreno de 163 hectares em Área de Proteção Ambiental, a APA Joanes Ipitanga, no Vale do Itamboatá. O lucro estimado deste aterro é de R$ 20 milhões.
Luta contra aterro
Antes da sua morte, tanto Mãe Bernadete quanto seu filho lideraram uma luta contra a instalação deste empreendimento da Naturalle. Na época, eles eram responsáveis por realizar manifestações, cria abaixo-assinados e chegaram, inclusive, a participar de audiências públicas, onde criticaram abertamente o negócio.
Após o falecimento de Binho, o Inema inicialmente negou a licença ambiental para a Naturalle em abril de 2018. No entanto, a empresa entrou com um pedido de reconsideração e obteve a licença em 2019. Em dezembro de 2020, foi autorizada a instalação do aterro.
Um ano depois, em 2021, os registros da Receita Federal mostram a criação de uma empresa chamada Recycle Waste Energy (RWE), que passa a herdar todas as licenças da Naturalle sobre o aterro de Simões Filho em janeiro de 2022.
No documento de transferência das licenças, o endereço da Recycle é praticamente o mesmo da Naturalle, localizado em um prédio comercial na Pituba, bairro nobre de Salvador. A única diferença é a sala: 106 para a Naturalle e 201 para a Recycle.
Em nota enviada à imprensa, Vitor Souto disse que a troca de licenças "aconteceu por uma decisão empresarial, que foi submetida a todos os órgãos competentes e aprovada por eles". O empresário afirmou ainda que resolveram criar a Recycle para "se dedicar exclusivamente à gestão de aterros sanitários, ficando a Naturalle e a LimpCity responsáveis pelos contratos ligados à limpeza pública".
Investigações
A Polícia Federal manteve como uma das linhas de investigação os conflitos entre a empresa Naturalle e o Binho do Quilombo no inquérito que investiga a morte do líder quilombola. O nome de Vitor, no entanto, não foi citado em nenhum momento no inquérito e nem procurado para depor.
Procurado, Souto disse que "deseja que o assassinato de Flávio Gabriel Pacífico seja esclarecido e os responsáveis punidos”. E reiterou que “a mudança foi uma operação estritamente empresarial, sem nenhuma relação com fatos policiais ou de outra natureza qualquer”.