Entenda como a paralisação da Toyota vai afetar a produção de veículos do país
Produção deve ficar parada até o começo de 2026

A destruição da fábrica de motores da Toyota em Porto Feliz (SP), provocada pelas fortes chuvas da última semana, trouxe incerteza para o mercado automotivo brasileiro. O galpão, responsável pela produção de motores flex 1.5 e 2.0, teve parte do telhado arrancado e danos estruturais significativos, levando à suspensão imediata das operações.
Modelos impactados
A unidade de Porto Feliz abastece alguns dos veículos mais vendidos da Toyota no Brasil:
- Corolla Cross – líder no segmento de SUVs médios, com cerca de 5.000 unidades produzidas por mês.
- Corolla – referência entre os sedãs médios, com produção mensal em torno de 3.000 unidades.
- Yaris Cross – que teria lançamento oficial em outubro, mas teve produção suspensa logo no início. Trata-se do maior projeto da Toyota para ganhar mercado em 2026.
- Yaris hatch e sedã – fabricados na Argentina, também dependem dos motores de Porto Feliz e tiveram sua produção interrompida.
A exceção é a Hilux (assim como SW4, Hiace e RAV4), produzida ou importada da Argentina e Japão, que não sofre interrupção imediata.
Estoque para alguns dias
Segundo fontes ligadas à rede de concessionários, o estoque é baixo:
O Corolla Cross possui apenas alguns dias de disponibilidade em versões específicas, com fila de espera em determinados acabamentos. O Corolla tem estoque para poucas semanas, mas já sem reposição prevista, inclusive para versões voltadas ao público PCD e taxistas. A rede sinaliza preocupação com a queda no fluxo de vendas e a dependência de modelos importados, mais caros e de nicho.
Em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, já há concessionárias sem previsão de novas entregas dos modelos nacionais.
Perspectiva é de retomar em 2026
A Toyota ainda não divulgou prazos oficiais para o retorno da produção. Porém, o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Feliz alertou que os danos podem levar a uma paralisação prolongada, com possibilidade de retomada apenas em 2026, cenário considerado crítico para a estratégia da marca no Brasil.
Mesmo com alternativas de importação de motores, há um entrave: os blocos fabricados fora do país não contam com a tecnologia flex, exclusiva para o mercado brasileiro. Isso inviabiliza o uso imediato em modelos nacionais sem uma adaptação custosa e demorada.
Repercussão no mercado e concorrência
A suspensão das operações da Toyota abre espaço para rivais diretos em segmentos estratégicos:
SUVs médios: BYD Song Pro/Plus, GWM Haval H6 e Jaecoo 7 devem avançar sobre a fatia do Corolla Cross.
Sedãs médios: a Caoa Chery pode reforçar as vendas do Arrizo 6 Pro, aproveitando a falta do Corolla.
Compactos/SUVs de entrada: a Honda prepara o novo WR-V, concorrente direto do Yaris Cross, agora adiado.
A ausência da Toyota pode ainda acelerar a expansão de marcas chinesas, que já disputam espaço com preços competitivos e eletrificação avançada.
Em 2024, a Toyota vendeu mais de 180 mil veículos no Brasil, sendo uma das líderes nos segmentos de maior valor agregado. Uma interrupção prolongada pode reduzir a participação da marca para menos de 3% do mercado geral, em comparação aos atuais 8%–9%, além de afetar a rede de mais de 290 concessionárias no país.
O impacto também se estende à cadeia de fornecedores e trabalhadores: a fábrica de Porto Feliz emprega cerca de 700 pessoas diretamente, sem contar terceirizados e prestadores de serviço.