Economia

Entenda o que ocasionou a disparada do dólar cronologicamente

Diante dos juros dos EUA e a desvalorização do real, o presidente Lula acusa o comportamento do BC e a Roberto Campos

Por Da Redação
Ás

Atualizado
Entenda o que ocasionou a disparada do dólar cronologicamente

Foto: Reprodução/Pexels

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),  diante deste cenário com nova alta na moeda norte-americana e desvalorização da moeda brasileira, tem feito várias declarações com o tom que tem desagradado agentes do mercado financeiro.

Entre 118 moedas, o real era a quinta com a maior desvalorização até meados de junho. Com esse desempenho, o real se tornou uma das moedas que mais se desvalorizou no ano até aqui, segundo o levantamento da Austin Rating.

7 de junho: dólar vai a R$ 5,32

O dólar subiu 1,42% e fechou a R$ 5,3242, o maior patamar em mais de um ano e meio. Na ocasião, o foco foi externo: investidores seguiram de olho nos sinais sobre o futuro dos juros dos Estados Unidos.

Os impactos do mercado de trabalho no país vieram mais fortes do que o esperado, resultando em Mais vagas de empregos e salários mais altos, consequencias de uma economia mais aquecida e que pode trazer uma inflação mais elevada.  Essa é a lógica considerada pelo Fed para manter os juros do país mais altos e, assim, tentar conter a inflação.

Juros mais altos nos Estados Unidos jogam a favor do dólar, já que tornam os rendimentos norte-americanos mais atraentes para investidores estrangeiros. Ou seja, se investidores tiram dólar do Brasil e levam aos EUA, o real perde força.

12 de junho: dólar chega a R$ 5,40

O dólar engatou a 4ª alta seguida e fechou cotado a R$ 5,4066, sob impactos externos e internos. O Fed decidiu manter os juros dos EUA inalterados em uma faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. 

A indicação foi que os responsáveis pela política monetária do país pretendem cortar a taxa de juros apenas uma vez até o final 2024. A estimativa ficou de apenas um corte de 0,25 p.p (ponto percentual) este ano. E juros mais altos favorecem a força do dólar.

O mercado inverteu o sinal positivo após o presidente Lula, discursar em um evento, defendendo que a economia não pode deixar de lado o social.

18 de junho: dólar a R$ 5,43

O dólar fechou em alta de 0,22%, cotada a R$ 5,433, após uma entrevista de Lula à Rádio CBN, em que ele critica o BC e seu presidente, Roberto Campos Neto. Ele afirma que o comportamento do Banco Central é desajustado, e o presidente tem um lado político que trabalha para prejudicar o país. "Não tem explicação a taxa de juros estar como está". 

O mandato de Campos Neto acaba em 2024, e Lula afirmou que vai indicar para seu lugar alguém com "compromisso com o crescimento do país". Ele também disse que Campos tem pretensões políticas, e sugeriu que ele possa assumir um cargo no Governo do Estado de São Paulo quando seu mandato no BC acabar.

Em 19 de junho, a moeda brasileira ultrapassou a da Argentina e a do Japão e saltou da 7ª para a 5ª colocação entre as que mais se desvalorizaram frente ao dólar.

20 de junho: dólar a R$ 5,46

A alta de 0,38% naquela quinta-feira levou o dólar a R$ 5,46, marcando, então, o maior nível da moeda norte-americana já registrado no governo Lula.

O colegiado tinha decidido manter a Selic, taxa básica de juros, inalterada em 10,50% ao ano. O presidente lamentou a decisão dos diretores e afirmou que o povo brasileiro é quem mais perde.
 
"A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro e nos especuladores. Nós queremos investir na produção", afirmou Lula durante entrevista à Rádio Verdinha, em Fortaleza.

26 de junho: dólar a R$ 5,51

O dólar fechou em alta e chegou a R$ 5,5188, maior nível desde janeiro de 2022. Era dia de novos dados da prévia da inflação brasileira, que veio abaixo das expectativas, mas com aumento preocupante em preços de alimentos e núcleo de serviços.

Neste dia, Lula também voltou a criticar a decisão de juros, tomada pelo Copom uma semana antes. O presidente disse ainda que o governo está analisando os cortes de gastos. Na visão do mercado financeiro, essa relativização da necessidade de cortar gastos significa uma relutância do governo, o que poderia comprometer o controle fiscal.

Também entrou na conta do dólar uma declaração de Michelle Bowman, diretora do Federal Reserve. Ela reiterou sua opinião de que manter a taxa de juros dos Estados Unidos estável "por algum tempo" provavelmente será suficiente para deixar a inflação sob controle.

28 de junho: dólar a R$ 5,58

O câmbio teve mais um dia ruim após Lula voltar a criticar o Banco Central. Em entrevista à rádio O Tempo, ele disse que o patamar de juros no Brasil "vai melhorar" quando ele indicar o próximo presidente do BC. A fala dele deu a entender que o novo presidente vai promover quedas forçadas na taxa básica de juros, a Selic.

A sucessão de falas do presidente resultou em uma alta de 2,71% do dólar na última semana, quando fechou cotado a R$ 5,5884.

1º de julho: dólar a R$ 5,65

Com mais uma alta de 1,15% na segunda-feira (1º), a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,65, atingindo seu maior valor em dois anos e meio.

Dessa vez, Lula afirmou que próximo presidente do Banco Central olhará para o Brasil "do jeito que ele é, e não do jeito que o sistema financeiro fala". Mais uma vez, a fala do presidente é vista pelo mercado financeiro como uma tendência de interferência na autoridade monetária, receio que fortalece o dólar frente ao real.

2 de julho: dólar a R$ 5,66

Em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (BA), o presidente disse nesta terça-feira (2) que há um "jogo de interesse especulativo" contra o real e que a alta do dólar após as críticas feitas por ele ao BC e a Campos Neto "não têm explicação".

Lula também voltou a defender que o BC seja autônomo e reafirmou que Campos Neto tem viés político. "A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do Banco Central não fiquei vulnerável às pressões políticas", disse.

O mercado também ficou mais de olho na corrida eleitoral dos Estados Unidos. Nesta terça, o dólar avançou em relação às principais moedas de países emergentes em meio às preocupações de um fortalecimento de Donald Trump rumo à Casa Branca.

Juros dos EUA e o Cenário Fiscal Brasileiro 

A queda na expectativa de cortes nos juros dos Estados Unidos e o cenário fiscal brasileiro, são outros fatores importantes que têm entrado na conta do dólar, em meio ao desafio do governo de buscar o déficit zero em 2024 (ou seja, ter gastos ao menos iguais à arrecadação). 

De acordo com especialistas, o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA pode representar queda de impostos e um avanço do protecionismo na maior economia do planeta. Os resultados tendem a ser uma taxa de juros mais alta no país, fortalecendo, assim, o dólar.

Com a forte desvalorização do real e disparada do dólar, há temores de que a economia brasileira possa sofrer, a começar pela inflação, que já é de 2,27% em 2024, já que muitos dos nossos produtos são importados.

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