Entrevista: 'Não aceito imposições. Se há problema de Rui com o PT, é problema deles', diz Leão
Segundo o vice-governador, Wagner foi responsável por Rui Costa deixar disputa pelo Senado
Foto: Divulgação/Seplan
O vice-governador João Leão (PP), que pediu exoneração do cargo de secretário da pasta de Planejamento (Seplan) na última segunda-feira (14), explicou ao Farol da Bahia, nesta quarta-feira (16), os motivos que levaram o PP a romper com a base do governo após 14 anos de caminhada. Durante a entrevista, ele também se defendeu ao comentar sobre não ter sido o responsável pela desistência do governador Rui Costa (PT) na disputa pelo Senado nas eleições deste ano.
"Toda a Bahia sabia do interesse do governador Rui Costa (PT) de sair candidato a senador. Me convidaram pra permanecer no governo, com a seguinte condição: eu seria governador", diz o pepista ao mencionar sobre a proposta feita pelo próprio Rui Costa, com quem tem uma amizade de mais de sete anos.
No entanto, Leão aponta o senador Jaques Wagner (PT) de não ter honrado com o compromisso, ao ter comunicado em uma entrevista que Otto [Alencar] não iria disputar o governo da Bahia e que Rui Costa não sairia do governo do estado. No entanto, dias antes, o senador Wagner teria visitado a casa do vice-governador e para convidá-lo para assumir a gestão da Bahia, em caso de desistência de Otto.
"Jaques Wagner vai na minha casa, senta na minha cabeceira e me convida para eu ser o governador tampão, com Rui senador e Otto, governador da Bahia. Passa o sábado, passa o domingo. Na segunda-feira, Wagner vai dar uma entrevista dizendo que Rui não ia sair e que Leão não ia assumir e que a coisa estava resolvida. Eu pensei: "Não vou ficar". Acordo político é para ser cumprido. Se não honra, eu vou fazer o quê? Eu disse que infelizmente não daria para continuarmos juntos", afirmou.
O vice-governador Leão também lembrou de uma declaração de Rui Costa, onde ele afirmou que "colocaram a faca no pescoço" dele. O pepista se defendeu e disse que não colocou não colocou faca no pescoço de ninguém.
"Quem colocou a faca no pescoço dele foi Jaques Wagner, que não deixou ele ser candidato a senador. Foi o PT que colocou essa faca no pescoço dele. Eu continuo o mesmo homem e a mesma pessoa e, por isso, não aceito de maneira nenhuma imposições. Se está havendo esse problema de Rui com o PT, é problema deles. Não é problema meu", declarou.
O pedido de exoneração
Ao relembrar da última eleição para o pleito estadual, o pepista comentou sobre ter ficado na dúvida entre ir para o Senado ou permanecer na vice-governadoria e que, após muitos pedidos decidiu ficar. Mas que isso não aconteceu dessa vez porque ele foi traído. "Não deu certo. Agora não deu certo a continuidade. Não deu certo porque não honraram com os compromissos. Eu não traí, eu fui traído. É totalmente diferente", disse ao comentar que chegou a receber pedidos de Rui Costa e da prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, para permanecer na Seplan.
"Até quando eu entreguei minha carta de exoneração Rui disse: "Leãozinho, não faça isso não. Fique conosco". Foi até uma coisa bonita o meu pedido de exoneração. Eu li a carta para ele, entreguei, pedi para mandar protocolar e disse que estava me despedindo. Eu dei uma abraço nele, ele me deu um abraço. Depois, eu dei um beijo nele, e ele me deu outro beijo. Nós somos amigos. O que eu não admito é que não falem a realidade dos fatos", acrescentou.
Questionado sobre qual a realidade, Leão explicou que o presidente do PT Bahia, Éden Valadares chegou a dizer que o PP estava fugindo e que o partido nacional impôs que o PP Bahia se aliasse com o presidente Jair Bolsonaro (PL). "Não existe nada disso. O partido nacional, por um acordo político que é honrado ao nacional, fica com quem quiser. A Bahia fica com quem quer", rebateu a declaração do petista.
Possível futuro no Senado
Ainda sem ter declarado a entrada na disputa por uma vaga no Senado Federal, Leão esclareceu que não quer brigar com o seu concorrente Otto Alencar e que a Bahia vai julgar cada um conforme os feitos no estado.
"Eu trabalho pela Bahia. Eu honrei todos os meus mandatos trabalhando pela Bahia. Quero dizer o seguinte, vou disputar com o senador Otto Alencar e não quero brigar com o senador e nem ter querelas. O que eu quero dizer é que cada um apresente aquilo que fez pela Bahia. Ele em oito anos de Senado e Leão nos anos que passou como deputado federal. Que a Bahia julgue", afirmou.
Apoio à Lula
Após o rompimento do PP com o PT, o Progressistas se aliou à base do pré-candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (UB), ao mesmo tempo que declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não tem ligação com o partido do ex-prefeito de Salvador. "Eu pretendo apoiar a minha história. Eu tive uma história muito grande há 20 anos ao lado do presidente Lula. Na política, a gente apoia quem quer o nosso apoio. É a minha vontade [apoiar Lula]", disse ao informar que ainda não teve a oportunidade de conversar com Lula após a saída da base do governo do PT, mas que está no aguardo da ligação do petista.