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Especialista explica por que retirada de vesícula biliar pode alterar ritmo intestinal e provocar diarreia crônica

Quadro afeta até 1 em cada 5 pacientes e está relacionado à dificuldade do corpo em digerir gordura

Por Emilly Lima
Ás

Especialista explica por que retirada de vesícula biliar pode alterar ritmo intestinal e provocar diarreia crônica

Foto: Reprodução/Ilustrativa

A cirurgia de retirada da vesícula biliar, conhecida como colecistectomia, é bastante comum e costuma trazer alívio para pacientes que sofrem com dores, inflamações ou risco de complicações causadas por cálculos biliares. No entanto, para uma parcela dos operados, o pós-operatório pode vir acompanhado de problemas digestivos subsequentes, a exemplo da diarreia crônica.

Estudos apontam que cerca de 20% dos pacientes que passam pela cirurgia podem apresentar alterações no ritmo intestinal, com episódios persistentes de diarreia, principalmente após o consumo de alimentos gordurosos.

Segundo o coloproctologista Dr. Ramon Mendes, do Instituto Bahiano de Cirurgia Robótica (IBCR), a explicação está na forma como a bile atua no processo digestivo. “A vesícula biliar funciona como um reservatório de bile. A bile é produzida pelo fígado e sempre é armazenada na vesícula biliar. Quando as pessoas se alimentam, a vesícula biliar contrai e joga bile para ajudar na digestão dos alimentos”, explicou em entrevista ao Farol da Bahia.

Quando a vesícula é retirada, o fígado continua produzindo bile, mas o corpo perde o controle sobre sua liberação. Ou seja, o fluxo passa a ser contínuo, sem o armazenamento que regulava a liberação da substância, o que pode dificultar a digestão de alimentos ricos em gordura.

“A vesícula funciona como se fosse um detergente. Quando a gente pega o detergente e joga na gordura, ela emulsifica e espalha aquela gordura, facilitando a digestão dos alimentos gordurosos. Então, quando a pessoa perde a vesícula, alguns pacientes podem ter sintomas diarreicos, por ele perder um pouco a digestão desse alimento gorduroso, e aí muda um pouco o ritmo intestinal”, afirmou o médico.

Paciente de pós-colecistectomia há quase sete anos, Lívia Ramos, de 33 anos, relatou à reportagem que convive com a diarreia crônica desde quando tirou a vesícula biliar, no ano de 2018. Ela desenvolveu um quadro de cálculos biliares e sofria com fortes dores abdominais, quando precisou realizar a cirurgia para a retirada do saco. "O médico cirurgião me informou na época que seria normal nas primeiras semanas ter diarreia porque o corpo estaria se readaptando sem a vesícula, mas até hoje tenho quadros diarreicos, principalmente após comer algo mais gorduroso", disse.

Ainda segundo Lívia, ela chegou a procurar um gastroenterologista especialista no sistema digestivo e iniciou um tratamento com um medicamento chamado colestiramina, no entanto, por ser muito caro, precisou interromper. "O remédio custava pouco mais de R$ 400 e durava apenas um mês porque eu tomava duas vezes ao dia. Ficou muito pesado dar continuidade, e foi aí que optei por seguir uma alimentação mais restrita, com acompanhamento nutricional", pontuou. Atualmente, mesmo com a dieta restrita, Lívia ainda sente desconforto e quadros de diarreia após ingerir determinados tipos de alimentos, porém, segundo ela, os sintomas reduziram após seguir uma dieta nutricional.

De acordo com o Dr. Ramon Mendes, a retirada da vesícula pode ser necessária em diversas situações clínicas. “Algumas pessoas acabam tendo que remover a vesícula biliar por alguns motivos. Pode ser porque ela tem um pólipo grande na vesícula, e aí tem o risco de isso evoluir para um futuro câncer. Às vezes o paciente tem cálculo na vesícula e esses cálculos, ele tem risco, algumas vezes, de causar obstrução e uma colecistite, que é a inflamação da parede da vesícula. Algumas vezes tem microcálculos, são cálculos pequenininhos que podem migrar e ir para o ducto pancreático e causar uma pancreatite”, detalhou.

Rastreio das causas da diarreia persistente 

Apesar da retirada da vesícula e a diarreia serem conhecidas pelos especialistas, o diagnóstico desse quadro não é automático. Segundo o coloproctologista, existem outras causas mais comuns e até mais graves que também podem provocar diarreia persistente, e precisam ser descartadas antes de associar o sintoma diretamente à colecistectomia.

“É sempre bom procurar um especialista. Não apenas porque o paciente tirou a vesícula biliar e tem diarreia, mas é preciso afastar outros fatores, sejam eles alimentares, como intolerância à lactose e intolerância ao glúten, ou neoplasia intestinal, que são mais importantes antes de pensar sobre o motivo da diarreia ser somente a remoção da vesícula biliar”, disse o especialista.

Exames como colonoscopia e testes laboratoriais são indicados a serem realizados pelo paciente antes de qualquer diagnóstico. “O diagnóstico da diarreia crônica após uma colecistectomia é um diagnóstico de exclusão. Primeiro, é preciso fazer os exames, fazer uma avaliação clínica, ver o histórico do paciente, um exame de colonoscopia, para a partir disso avaliar se tem algum outro motivo dessa diarreia, se é um supercrescimento bacteriano intestinal abdominal, se é uma neoplasia", frisou o Dr. Ramon Mendes ao reforçar que a diarreia crônica só pode ser ligada à cirurgia após descartar todas as outras possibilidades.

Mudança na alimentação é fundamental no tratamento 

Embora o quadro diarreico possa ser incômodo para muitos pacientes, ele tem tratamento e, na maioria dos casos, é possível devolver qualidade de vida. Mudanças na alimentação, controle do consumo de gordura, ajuste no padrão intestinal e até medicamentos que auxiliam na digestão da gordura podem ser usados para aliviar os sintomas.

“Se o paciente passou a ter uma diarreia crônica após a remoção da vesícula biliar, que não é tão comum, mas pode acontecer, existe sim tratamento. Entre eles, mudar os hábitos alimentares, mudar o tipo de dieta desse paciente, fazer uma pesquisa das fezes para ver o tipo que esse paciente está eliminando, e aí sim avaliar se vale a pena acrescentar algum sistema que ajude na digestão dessa gordura, alguns medicamentos que podem ajudar nessa emulsificação do tecido de gordura. É possível sim tratar e dar uma qualidade de vida para o paciente. É quando você realmente não trata, que ele fica com esse quadro mais desconfortável. E o mais importante sempre é cuidar dos hábitos de vida, hábitos alimentares, fazer atividade física, regular o ritmo intestinal", destacou o médico.

Dr. Ramon ainda reforça que, além da orientação nutricional e do cuidado com os hábitos de vida, os pacientes que passaram pela cirurgia e apresentem sintomas gastrointestinais persistentes procurem um gastroenterologista ou coloproctologista para avaliação individualizada.

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