‘Essa eleição é sinal de respeito à trajetória das mulheres’, diz Ana Patrícia Dantas Leão
Candidata à presidência da OAB-BA concedeu entrevista ao Farol da Bahia
Foto: Daniel Santana/Divulgação
De forma simpática e bem humorada, a advogada Ana Patrícia Dantas Leão, uma das candidatas à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil- Seção Bahia (OAB-BA), recebeu o Farol da Bahia no escritório dela no bairro Caminho das Árvores, em Salvador, para uma entrevista. Respeitando todos os protocolos sanitários para conter a disseminação do novo coronavírus, ela reforçou, no primeiro momento, a importância de ter uma eleição marcada pelo protagonismo feminino. Para Ana Patrícia, é extremamente importante a ocupação de mulheres em lugares majoritariamente ocupados por homens.
“Nós termos figuras femininas protagonizando os debates da advocacia é verdadeiramente sinal de respeito à trajetória das mulheres. Na verdade, isso é o verdadeiro sinal da democracia. Ter mulheres ocupando esse espaço é um passo para sair do discurso e efetivar medidas democráticas. Isso porque o discurso de democracia e valorização da mulher é palatável, as pessoas gostam deste discurso. No entanto, dificilmente as mulheres conseguem estar nesse espaço se não for pela força”, disse.
Neste ano, diferentemente das eleições anteriores, todas as candidatas à presidência da OAB-BA são mulheres. Demonstrando estar feliz por vivenciar este momento, a advogada e primeira mulher a ocupar a vice-presidência da OAB-BA, Ana Patrícia, afirma que esse é um momento histórico e, por mais que esteja em um ambiente de competição, ela deixa claro que aprecia a caminhada de cada candidata nesse processo. “Nessas eleições, nós temos mulheres valorosas de lado a lado protagonizando esse debate. Mas é importante deixar claro, no entanto, que isso só foi possível devido a um movimento de força”, afirmou.
“Se não fosse por um movimento de força e, para além disso, se não fosse por uma imposição minha, nós não estaríamos aqui disputando esse espaço nas eleições. Do contrário, nós não estaríamos protagonizando absolutamente nada. Se não fosse por tudo isso, estaríamos seguramente todas nós, mais uma vez, trabalhando para eleger advogados. Então, foi necessário um movimento brusco e de muita coragem da minha parte para que houvesse essa mudança. Isso foi necessário para que os nossos colegas percebessem que chegou a hora das mulheres assumirem”, completou.
Ao falar do ato corajoso que precisou tomar para romper paradigmas dentro da instituição, a advogada se refere à decisão tomada por ela em julho deste ano, quando se desligou do atual presidente da OAB-BA, Fabrício de Castro Oliveira, para lançar a própria candidatura. Durante toda a entrevista, Ana Patrícia mostrou o quão se sente orgulhosa por não deixar que o machismo estrutural a impedisse de realizar sonhos.
Apesar de estar do outro lado da disputa, a candidata enfatiza que tem carinho e respeito por todos aqueles que estiveram ao lado dela em 9 anos participando da atual gestão. Ela pontua, ainda, que esse é o momento em que se sente preparada para seguir o seu próprio caminho. Segundo Ana Patrícia, toda essa ruptura foi motivada pelo desejo de não ter mais uma participação simbólica como mulher em uma instituição masculinizada.
Ao ser questionada sobre o diferencial que apresenta em relação às outras candidatas, Ana Patrícia deixou de lado todo o viés da disputa eleitoral e afirmou, de forma convicta, que “enxerga duas colegas muito valorosas”. “Para mim, em especial, é uma enorme satisfação saber que esse processo eleitoral contém advogadas que são muito qualificadas. Então, é isso que eu tenho a dizer em relação às minhas adversárias", afirmou. “Existe naturalmente a competitividade, mas afirmo que ela é respeitosa. É uma competitividade positiva e sempre pautada no amor à advogacia”, continuou.
Logo depois, Ana Patrícia fez questão de falar sobre o projeto dela e também comentou sobre as trajetórias que percorreu até chegar aqui. “Eu faço parte de um grupo que tem muito amor à advocacia e muita paixão pela OAB. Então, o que nós estamos buscando oferecer para a advocacia é ir além de cuidar da dor imediata, da violação de prerrogativas e, além disso, nós queremos ir além de protestar por melhorias no poder judiciário. Nós queremos realmente apresentar projetos que tenham potencialidade de provocar uma reestruturação do nosso poder judiciário e uma melhoria”, disse.
“Assim, o nosso projeto é ir além do que já foi feito. Preciso dizer que eu ainda faço parte de uma gestão, hoje presidida por Fabrício, e ao longo desses últimos anos pude ver, sim, progresso significativo. Mas, agora, é necessário que façamos mais. A gente precisa mais do que estar cuidando da dor imediata, através dos desagravos, e verdadeiramente lutar pela reestruturação do poder judiciário”, afirmou.
Pauta extremamente defendida pela candidata, a reconfiguração do poder judiciário perpassa por muitas questões. De acordo com Ana Patrícia, nesse processo é necessário que ocorra e, de fato, se estabeleça um diálogo com todos os poderes. “Na falência do diálogo, a OAB precisa ter ações e projetos efetivos. Então, nós temos projetos em todas as áreas. Nós temos projetos para a advocacia trabalhista, para a jovem advocacia, para as mulheres advogadas, para os advogados idosos e para os advogados com deficiência. E, claramente, o nosso principal projeto busca uma reestruturação do poder judiciário”, disse.
Pré-campanha e chapa
Em relação aos trabalhos realizados durante a pré-campanha, Ana Patrícia, primeiramente, afirmou que o tempo que os candidatos têm é muito curto. “Nós temos três meses, sendo que um mês e meio é destinado para a pré-campanha e o restante é realizada a campanha efetivamente. Então, esse primeiro momento foi de buscar apoios”.
“Nós estamos mostrando para a advocacia a viabilidade da nossa caminhada e eu considero que essa primeira parte marcou um momento hesitoso. Isso porque nós conseguimos estruturar um grupo de advogados e advogadas muito forte”, explicou.
“Eu considero esse primeiro momento de pré-campanha muito importante. Para mim, em especial, foi um momento de fortes emoções devido a saída de um grupo que eu fiz parte por nove anos. Então, emocionalmente falando, foi um momento difícil. Mas, reafirmo, que a decisão que tomei foi muito segura e consciente. Sei que é preciso que eu escreva a minha história a partir dos valores que eu acredito”, afirmou.
Recentemente, a candidata anunciou que o advogado Carlos Tourinho será o pré-candidato à vice-presidência de sua chapa. Além disso, o advogado e professor Gamil Föppel declarou apoio à pré-candidatura de Ana Patrícia Dantas à presidência da OAB-BA. “Essa fase marcou uma mudança na minha vida. Eu não sei aonde isso tudo vai dar. Verdadeiramente, eu não sei. Eu entrego a Deus e peço que aconteça o que for melhor nos planos dele. Aonde quer que esse processo chegue, sei que já deixei uma lição para todas as mulheres", disse.
Eleição
Caso se torne eleita, Ana Patrícia afirmou que a maior prioridade será o fortalecimento da advocacia para exercício profissional. “Nós precisamos que a advocacia seja respeitada. Hoje, nós estamos advogando de uma maneira muito precária. Então, a minha primeira prioridade caso seja eleita é fazer com que essa profissão volte a ser respeitada no estado da Bahia”, disse.
Amor à instituição
Por fim, a advogada afirmou que, independente do resultado, está muito feliz por todo esse processo. “Esse momento eleitoral, que a advocacia baiana está vivendo, tem servido para que nós recuperemos o amor à nossa instituição. Essa é a minha motivação. Eu estou fazendo tudo isso porque eu amo a advocacia, eu amo a minha profissão", concluiu.
Crédito: Daniel Santana/Divulgação