Ex-feirante estuda novas tecnologias para desenvolver vacina contra a Covid-19 na USP
Atualmente, Gustavo Miranda é pesquisador
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O imunologista Gustavo Cabral de Miranda, 38, que integra o time de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédica da Universidade de São Paulo (USP), busca desenvolver em conjunto com o Instituto do Coração (InCor) uma vacina contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a partir de partículas de VLPs (Virus Like Particles). Quando criança, Gustavo trabalhava na roça da família plantando feijão e milho e, depois, vendendo os alimentos na feira em Tucano, interior da Bahia.
Vinte anos separam o momento da virada na vida do doutor Miranda. “Sempre fui um menino esperto para negócios. Vendia geladinho, comprava galinhas, vendia, comprava um porco, depois já tinha um bezerro”, disse à Folha de S.Paulo.
Ele foi o primeiro da família a se graduar. Em seguida, fez mestrado em imunologia na Universidade Federal da Bahia, com foco em doenças parasitárias e nanotecnologia. O doutorado foi na USP, em São Paulo, em imunologia. “Eu via o pessoal fazendo o doutorado sanduíche, indo para outros países e decidi que seguiria o mesmo caminho. Mas meu inglês era muito mediano. Fui então para o instituto de engenharia e nanotecnologia do Porto, em Portugal.”
Nesse período, fez um curso de imersão de inglês na Irlanda. “Foi um mês que pareceu um ano.” Ao terminar o doutorado na USP, foi aceito em um pós-doutorado na Universidade de Oxford, Reino Unido. Ficou lá três anos e meio trabalhando com vacinas no Instituto Jenner, referência mundial e onde foi desenvolvida a “vacina de Oxford”, licenciada pela farmacêutica AstraZeneca.
No final do ano passado, Miranda teve seu projeto sobre o uso das VLPs aplicadas em vacinas para o vírus da zika e da chikungunya aprovado pela Fapesp. Em março deste ano, com a pandemia de coronavírus, mudou o alvo para o agente infeccioso que já matou quase 200 mil no Brasil.
Covid-19
Com foco em desenvolver uma vacina contra a Covid-19, Miranda se mostra animado com a resposta rápida que a ciência deu para o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus, mas, ao mesmo tempo, teme a pressão política em torno da imunização.
“Temos que ter muita cautela nesse momento. Se a gente, por pressão política, tirar a autonomia de instituições como a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], será um prejuízo gigantesco”, disse. Segundo ele, embora qualquer vacina aprovada seja segura e eficiente, é preciso cuidado ao levantar bandeiras para o uso em massa de vacinas apenas com resultados preliminares de estudos.