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Salvador

Falta de manutenção preventiva dos canais de Salvador contribui para os alagamentos na cidade, explica especialista

Ao Farol da Bahia, o arquiteto e urbanista Marcos Guerra pontua a importância da macro e micro drenagem

Por Emilly Lima
Ás

Falta de manutenção preventiva dos canais de Salvador contribui para os alagamentos na cidade, explica especialista

Foto: Victor Silveira/TV Bahia

Quem mora em Salvador sabe que a cidade é conhecida por fazer sol o ano inteiro, mas também está ciente que a temporada de chuva após o término do Verão é "de lei". Nos oito primeiros dias de abril, choveu mais que o esperado para o mês inteiro na capital baiana, de acordo com a Defesa Civil (Codesal). Na terça-feira (9), a cidade foi registrada como a com mais chuva em todo o Brasil em um tempo de 24 horas, registrando 91,4mm.

O ranking nacional destacou os bairros de Ondina, (89,4 mm) e Mussurunga I (51,6 mm) como dois dos pontos que mais choveram no país. Já na escala local, outros bairros que tiveram destaque com os maiores acumulados foram Liberdade/Vila Sabiá (308 mm), Calçada (306 mm), Pituba/Parque da Cidade (459mm), Liberdade/Vila Sabiá (426,2mm), Campinas de Brotas (416,4mm) e Retiro (413,2mm), segundo a Codesal.

O volume de chuva fez com que a capital baiana registrasse alagamentos, deslizamentos de terra e desabamento de imóveis em diversos pontos da cidade. Com isso, o Farol da Bahia procurou um especialista para explicar as razões pelas quais a cidade alaga e provoca transtornos para toda a população.

Segundo o arquiteto e urbanista Marcos Antônio Pinto Guerra, Salvador conta com 12 bacias hidrográficas: Camarajipe, Ipitanga, Jaguaribe, Lobato, Lucaia, Macacos, Ondina, Rio Paraguari, Rio Passa Vaca, Rio das Pedras, Rio dos Seixos e Rio do Cobre. E todas elas precisam passar por uma manutenção com macro e micro drenagem, principalmente antes do período conhecido como o de chuva.

"Essas são as 12 bacias hidrográficas localizadas no município de Salvador. Esses canais precisam ter uma manutenção preventiva. Se a gente analisar isso, não é uma obra de seis meses, mas sim de um ou dois anos, para que essa lâmina de terra embutida no canal tenha um descrescimento muito grande para que a gente possa ter um volume de água menor e poder ter uma tranquilidade nessa parte de alagamentos na cidade", explicou o especialista, que já atuou como gerente de Equipamentos Urbanos de Salvador.


                                                           Foto: Arquivo Pessoal

A micro drenagem é responsável por captar e conduzir as águas da chuva que caem nas ruas, calçadas, praças e lotes urbanos. Já macrodrenagem é conhecida por ser um sistema condutor das águas dos sistemas de micro drenagem até os corpos hídricos receptores, como rios, lagos ou mares.

"O que houve agora na bacia hidrográfica de Ipitanga, que cobre a área de São Cristóvão e Trobogy, por exemplo, é justamente a falta de uma limpeza assídua dos canais. Eu acredito que com essa limpeza preventiva e preditiva, os locais com mais imersão serão localizados", destacou o urbanista.

Outro ponto levantado por Guerra, é a quantidade de moradores de Salvador que, segundo o Censo Demográfico de 2022, chegou a 2,4 milhões de pessoas. Segundo ele, o aumento populacional faz com que o consumo e o descarte de dejetos aumentem.

"Hoje nós temos 2,4 milhões de pessoas em Salvador, isso imerge no sistema de infraestrutura e acumula dejetos, água e tudo mais. Então, se a gente não faz uma manutenção, passamos a ter esses tipos de problemas", acrescentou.

Guerra destacou ainda sobre a conscientização da população soteropolitana em fazer os descartes corretos de produtos, eletrodomésticos e mobília nos canais da cidade, o que pode entupir e ocasionar transtornos para a região prejudicada.

"A população também precisa ajudar em relação a isso. A gente vê sofás, eletrodomésticos e muita coisa sendo jogada nos canais. Com esse tipo de ação a gente dá uma satisfação educacional melhor para a população de Salvador e melhora um pouco a situação [dos alagamentos]. Mas, o trabalho e macro e micro drenagem é fundamental para as manutenções, separar as áreas que tem que limpar, qual a frequência, quais serão mais direcionadas, porque a população aumenta, o consumo aumenta, os dejetos aumentam, a água aumenta e tudo isso precisa ser visto", reforçou o lembrete.

Áreas verdes de Salvador

À reportagem, o arquiteto e urbanista também mencionou sobre o paisagismo e arborização da cidade, que cada vez mais tem sido menos vista. Em 2018, um grupo de ambientalistas chegou a protestar contra as obras do Bus Rapid Transit (BRT), que causou a derrubada de centenas de árvores e o tamponamento de rios.

"O paisagismo, a vegetação e arborização de Salvador estão cada vez mais prejudicados e isso, com certeza, faz com que o calor aumente e que o volume de água seja maior. Essa preservação da área ambiental é importantíssima e eu como arquiteto sou totalmente contra qualquer tipo de degradação porque eu sei quais são as consequências que ela oferece ao urbanismo", disse.  

"Salvador hoje precisa dessa conscientização. A área verde é uma área que deveria ser muito bem cuidada, a gente não pode querer executar obras de urbanismo e edificações", continuou.

Guerra lembrou ainda que a requalificação da orla de Jaguaribe é uma localidade de muita preocupação entre os arquitetos que fazem parte do Instituto de Arquitetos da Bahia (IAB) e se mobilizam para coibir a ação da prefeitura de alterar a área de arborização urbana.

"Hoje nós podemos ver a região de Jaguaribe e estamos fazendo uma grande intervenção de muita preocupação. Aquela é uma das áreas que ainda tem um pouco de preservação e eu fico preocupado. Nós do IAB [Instituto de Arquitetos da Bahia] estamos tentando coibir esta ação de acabar com uma grande área de arborização que existe. As autarquias precisam entender que isso é imprescindível para a vida do ser humano dentro da cidade urbana", completou.  


                                                             Foto: Divulgação 

Atualmente, a prefeitura de Salvador realiza a requalificação da orla na Avenida Octávio Mangabeira, entre as praias da Boca do Rio, dos Artistas, Pituaçu, Jaguaribe até Piatã, com novos espaços de lazer, mobiliários e atrativos. O investimento é de R$ 135,4 milhões.

Em dezembro de 2023, o prefeito Bruno Reis (UB) enviou à Câmara de Vereadores um projeto que põe em risco 17 áreas verdes da capital baiana, totalizando uma extensão de 111.841 m². A região com maior espaço de área verde está localizada em Stella Maris, totalizando 33.942,29 m², e outra de 29.410 m² em Porto Seco Pirajá. Também existem espaços verdes em Itapuã, Stiep, Rio Vermelho, Corredor da Vitória, Imbuí, Mata Escura, Pirajá, Moradas da Lagoa, Caminho das Árvores e na Barra. A área do Itaigara chegou a ser arrematada por quase R$ 6 milhões pela  Incorpora Brasil, construtora baiana, mas o IAB conseguiu o embargo da venda.

O terreno no Corredor da Vitória trava uma batalha na Justiça entre a prefeitura e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA).

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