Fernando Peixoto fala sobre as particularidades dos saveiros da Bahia em palestra no Museu do Mar

Até meados do século passado, a Baía de Todos os Santos era cruzada por saveiros, embarcações que tiveram importância decisiva na Independência da Bahia, consolidada em 2 de julho de 1823. Visando fomentar a importância dos saveiros para os baianos e, sobretudo, falar sobre as particularidades dessas embarcações, o renomado arquiteto Fernando Peixoto comanda uma palestra no Museu do Mar Aleixo Belov, no Largo de Santo Antônio, em Salvador, na próxima sexta-feira (28), a partir das 15h. 

Velejador e apaixonado pela arquitetura naval, Peixoto reforçou ao Farol da Bahia o seu fascínio por barcos. Segundo ele, falar sobre a forma e a função dos saveiros é importante porque “nunca ninguém se dedicou a falar sobre esse assunto”. “Tem toda parte histórica, as formas e as pinturas usadas nos saveiros, por exemplo, que são coisas bastante interessantes. Apesar de ser notável, ninguém nunca falou sobre essas coisas. O barco flutua e anda, mas ele tem os mais diversos formatos possíveis. Então, os barcos podem ter muitas variedades”, explicou o arquiteto.

“O saveiro, por sua vez, começou a pegar características soltas e combiná-las para que tivesse uma harmonia. As características do saveiro não são normais porque, na verdade, todo barco é diferente do outro. Tem uma série de coisas que influenciaram para que o saveiro tivesse a sua própria característica que, apesar de não ter técnica no sentido erudito, é resultado do costume e do uso. Na palestra eu vou falar justamente sobre isso, sobre todas as características do saveiro e um pouco do processo de construção”, completou.

De acordo com Peixoto, o saveiro é muito forte na Bahia devido ao papel que desempenhou no abastecimento da cidade de Salvador com produtos vindos do Recôncavo. “O saveiro da Bahia não tem em nenhum outro lugar. Quem olha um barco deve pensar que todos os outros são iguais, mas não são. Cada um tem uma característica diferente a depender da sua função, e repito que isso é muito importante. A força do saveiro na Bahia se dá justamente pela ligação do Recôncavo a Salvador. Antigamente, todo abastecimento da capital baiana era feito por meio do Recôncavo e o saveiro era o meio de transporte, além de ser utilizado para pesca”, disse Peixoto.

“Mas a  força do saveiro aqui na Bahia foi esse transporte. Para chegar em Salvador saindo do Recôncavo praticamente você tem que dar a volta no mundo, não é mesmo? Sair de Itaparica para Salvador de carro, por exemplo, é uma volta enorme. Então, fazer essa travessia pelo mar é mais perto. O grande incentivo e sucesso do saveiro na época foi essa facilidade de ajudar no transporte na Baía de Todos os Santos, mas quando chegaram outros automóveis o saveiro foi perdendo sua força”, reforçou o arquiteto.

Considerado um dos mais influentes arquitetos da atualidade, Peixoto já desenhou e construiu barcos, apesar de não fazer isso como profissão, e foi o representante oficial do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza, um dos mais importantes do mundo, em 1992. 

Palestra e Kirimurê

A Fundação Aleixo Belov, com apoio do cibergrupo Kirimurê, promove a palestra “Saveiros: a forma e a função” na próxima sexta (28). Sobre o Kirimurê, Peixoto contou que o grupo visa discutir assuntos acerca da Baía de Todos os Santos.

“Kirimurê é o nome que a Baía de Todos os Santos tem na linguagem indígena. E o grupo é composto por pessoas que são interessadas na Baía de Todos os Santos. Então, nós discutimos e criamos assuntos que se refiram a esse universo. Vale reforçar que a baía é muito diferente, ela é a maior do Hemisfério sul. Então tem certas características que são diferentes, mas não são notadas e nós discutimos isso”, explicou Peixoto. 

Já em relação à palestra, todo evento será transmitido ao vivo pelo canal do Museu no Youtube. Para quem deseja comparecer presencialmente, as vagas são limitadas e os interessados devem confirmar presença através do (71) 99994-1144. 

^{_{Foto: Roberto Faria}}