Festival digital de pagode baiano leva à periferia acesso a arte e lazer sem a necessidade de internet
Evento utiliza como ferramenta o vídeo mapping
Foto: Divulgação
O acesso limitado e não igualitário à internet é um problema de exclusão recorrente nas periferias brasileiras que tem ficado ainda mais evidente durante a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, devido às adaptações ao digital. Pensando nisso e em todas as dificuldades desse momento de crise sanitária, foi desenvolvido o festival ‘Mete Dança Digital’ que utiliza a linguagem do mapping para tornar a arte acessível aos moradores da periferia de Salvador, incluindo quem não tem acesso à internet. A primeira edição do evento será realizada no Nordeste de Amaralina, na próxima terça-feira (15).
O idealizador do projeto, Ismael Fagundes, disse ao Farol da Bahia que o principal objetivo do festival é a inserção da periferia na retomada de atividades culturais da cidade de Salvador, levando em consideração a necessidade do isolamento social. “Hoje, com todo contexto pandêmico e com as motivações que me fizeram escrever o projeto, o principal objetivo é a inserção da periferia na retomada de atividades culturais da cidade de Salvador. As casas dos moradores do Nordeste de Amaralina se transformam em palco e plateia de uma festa democrática e segura. Quando estivermos em um cenário pós pandemia, o festival seguirá democratizando a linguagem do mapping dentro das periferias e fortalecendo com a cena do pagode”, disse.
Segundo ele, o festival nasceu a partir do lançamento dos editais da lei Aldir Blanc e as premissas tinham como objetivo contemplar o mapping, uma iniciativa digital, veiculado na internet. “Eu passei algum tempo pensando em um projeto que fosse híbrido. O Mete Dança é uma proposta digital, mas que acontece sob o olhar do público respeitando o distanciamento social. A ideia é não deixar de fora parte da população que não tem acesso à internet”, explicou.
“O Mapping chega como ferramenta para ampliar todo esse movimento que é o pagode para os moradores, mas de uma perspectiva nova. Os festivais de Mapping normalmente acontecem nos grandes centros e nunca nas ‘quebradas’. O Mete Dança Digital nasce para ser também o primeiro festival de mapping da periferia”, disse Ismael Fagundes.
A capital baiana é uma cidade cultural que, devido à pandemia, tem sofrido bastante com a ausência das festas de rua. De uma forma singular, Salvador se torna ainda mais diferenciada por causa da riqueza e do talento dos artistas locais. A primeira edição do festival vai contar com a trilha sonora do grupo baiano Trapfunk&Alivio e coreografia do Coletivo Bote Fé. A direção artística é do fotógrafo e cineasta Rafael Ramos e as projeções são dos VJs Ani Haze e Caetano Britto.
“O Mete Dança é um festival de Pagode e tecnologia, eu gosto de defender dessa forma, pois ele tem diversos desdobramentos. Breve será lançada a trilha sonora com oito faixas inéditas, assinadas pelo TrapFunk&Alivio, com diferentes sonoridades do pagode e um videoclipe com direção de Rafael Ramos, que assina a direção artística do Festival, além da fotografia do Alan dos Anjos”, afirmou o idealizador do projeto.
Zero aglomeração
O horário do evento não foi divulgado para evitar aglomerações. Além disso, ainda de acordo com Ismael Fagundes, foram realizadas diversas adaptações do projeto original que previa uma área maior, justamente para priorizar a saúde dos moradores. “Quando começamos a desenhar o plano de divulgação, em fevereiro, com Joyce Melo, que assina a direção de comunicação do festival, já estávamos atentos à necessidade de produzir algo que propusesse a não-aglomeração”, disse.
“A ideia é que os moradores sejam surpreendidos nesse contexto pandêmico com show de luz, som e muito mete dança, sem ter necessidade de sair de suas casas. Mensagens de distanciamento social serão projetadas durante o evento e as intervenções do Mc Sagatti, integrante do grupo TrapFunk&Alivio, que assina a trilha inédita do festival e estará como mestre de cerimônia, relembrará às pessoas de curtirem em seus lares. Toda estrutura será montada numa laje e a duração é de uma hora. Estamos trabalhando com uma equipe reduzida, adotando todos os protocolos sanitários”, completou.
Ainda em entrevista, ele afirmou que toda a equipe já está pensando em futuras edições. Segundo o idealizador do projeto, outros bairros da periferia da capital baiana serão contemplados com o festival Mete Dança Digital, utilizando como ferramenta o vídeo mapping. Ele disse ainda que a técnica consiste na projeção de vídeos em objetos e superfícies irregulares, como fachadas de edifícios. “Estamos trabalhando para a circulação do Festival para outros bairros da cidade. A ideia é que Mete Dança entre no calendário dos festivais de Salvador. Acontecendo sempre na periferia e com artistas da periferia”, concluiu.
O Mete Dança Digital foi contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.