Fogo Cruzado: tiroteio decorrentes de ações policiais crescem 15,5% em Salvador e RMS
Das 916 ocorrências mapeadas no 1º semestre deste ano, 349 são atribuídas à atuação das forças de segurança
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ao menos 38% dos tiroteios mapeados em Salvador e na região metropolitana da capital baiana, no primeiro semestre deste ano, foram decorrentes de ações policiais. Os números foram divulgados, na manhã desta terça-feira (17), pelo Instituto Fogo Cruzado, e fazem parte de um relatório semestral com dados da violência em território baiano.
O percentual está acima do observado em pesquisas anteriores. Em julho de 2023, por exemplo, essa proporção era de 35%, e, entre julho e dezembro do ano passado, alcançava 37%. Segundo o levantamento, o aumento é de 15,5% na comparação com o primeiro semestre de 2023, quando 793 tiroteios foram mapeados, 285 deles em ações policiais.
Os números da pesquisa mostram, ainda, que 860 pessoas foram baleadas no mesmo período: 682 morreram e 178 ficaram feridas. Em relação ao acumulado do primeiro semestre de 2023, o número de mortos é 14% maior, e o de feridos, 10,5% superior. Em igual período do ano passado, 758 pessoas foram baleadas, das quais 597 morreram e 161 ficaram feridas.
Entre as 860 pessoas baleadas, 309 delas foram atingidas durante ações/operações policiais, número que equivale a 36% das vítimas. Foram 248 pessoas mortas e 61 feridas nessas ações. De janeiro a junho de 2023, das 758 pessoas baleadas, 33% foram atingidas em ações policiais: 205 morreram e 45 ficaram feridas.
“Os dados do relatório semestral do Fogo Cruzado não deixam dúvidas: a política de segurança baiana continua colocando a população frequentemente na linha de tiro. A participação policial nos tiroteios está em uma escala crescente, amedrontando os mais vulneráveis e tornando Salvador e região metropolitana um espaço cada vez mais inseguro”, afirma Dudu Ribeiro, cofundador e diretor executivo da Iniciativa Negra, organização parceira do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, e, também, integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia.
Municípios e bairros mais violentos
Entre os municípios que fazem parte da região metropolitana, Salvador foi o mais impactado pela violência armada, concentrando 76% dos tiroteios, 72% dos mortos e 81% dos feridos mapeados no primeiro semestre de 2024. Camaçari e Lauro de Freitas completam o pódio. Confira o ranking completo abaixo.
- Salvador: 699 tiroteios, 491 mortos e 144 feridos
- Camaçari: 84 tiroteios, 77 mortos e 10 feridos
- Lauro de Freitas: 36 tiroteios, 28 mortos e 8 feridos
- Dias D’Ávila: 22 tiroteios, 20 mortos e 2 feridos
- Simões Filho: 20 tiroteios, 18 mortos e 4 feridos
- Mata de São João: 15 tiroteios, 15 mortos e 2 feridos
- Madre de Deus: 9 tiroteios, 7 mortos e 2 feridos
- Candeias: 8 tiroteios, 7 mortos e 4 feridos
- Vera Cruz: 8 tiroteios, 6 mortos e 1 ferido
- São Sebastião do Passé: 6 tiroteios e 6 mortos
- São Francisco do Conde: 4 tiroteios e 4 mortos
- Itaparica: 4 tiroteios, 4 mortos e 1 ferido
- Pojuca: 1 tiroteios e 1 morto
Considerando os bairros da região metropolitana, os mais impactados pela violência armada estão localizados em Salvador, que são:
- Paripe: 24 tiroteios, 18 mortos e 5 feridos
- São Cristóvão: 22 tiroteios e 18 mortos
- Valéria: 20 tiroteios, 16 mortos e 1 ferido
- Pero Vaz: 20 tiroteios, 14 mortos e 4 feridos
- Fazenda Grande do Retiro: 19 tiroteios, 20 mortos e 5 feridos
Balas perdidas
O estudo mostra, ainda, que 21 pessoas foram vítimas de balas perdidas este ano: três morreram e 18 ficaram feridas. Entre as vítimas, sete foram atingidas em meio a ações policiais: uma morta e seis feridas.
Em 2023, neste mesmo período, 30 pessoas foram vítimas de balas perdidas. Nove morreram e 21 ficaram feridas. Dessas, dez foram atingidas em operações policiais, levando ao óbito de uma e nove feridos.
Disputas armadas
O Instituto Fogo Cruzado também mapeou os números envolvendo as brigas entre facções criminosas na Grande Salvador. Em 2024, foram contabilizados 81 tiroteios em meio a disputa entre grupos armados na região. No total, 58 pessoas foram baleadas: 35 morreram e 23 ficaram feridas.
Em 2023, neste mesmo período, foram contabilizados 94 tiroteios, com 88 pessoas baleadas, sendo que 58 morreram e outras 30 ficaram feridas.
Vítimas por faixa etária
Entre as 860 pessoas baleadas no primeiro semestre de 2024, 819 eram adultas entre 18 e 59 anos, representando 95% dos baleados. Deste total, 651 morreram e outras 168 ficaram feridas.
Foram computados, ainda, 30 adolescentes baleados, sendo que 24 acabaram indo a óbito e seis ficaram feridos. Seis idosos também foram vítimas da violência armada, enquanto duas crianças também foram baleadas e sobreviveram. Houve ainda uma pessoa morta e duas feridas, que não tiveram a idade divulgada.
No primeiro semestre do ano passado, as vítimas foram 712 adultos, sendo que 751 morreram e 141 ficaram feridos, e 24 adolescentes, sendo que 18 morreram e seis ficaram feridos. Foi registrado ainda oito crianças baleadas, que sobreviveram. Uma pessoa morta não teve a idade revelada.