França cancela condecoração dada a ex-capitão da ditadura argentina
Ricardo Cavallo foi condenado anos depois por crime contra a humanidade
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O Ministério das Relações Exteriores da Argentina anunciou nesta quinta-feira (7), que o governo francês retirou uma condecoração concedida em 1985 ao ex-capitão de corveta Ricardo Cavallo, condenado anos depois por crimes contra a humanidade na ditadura argentina (1976-1983.
Em comunicado, a chancelaria afirmou que “a pedido do governo argentino, o Ministério das Relações Exteriores recebeu uma notificação de que o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro, Edouard Philippe, assinaram o decreto pelo qual eles retiravam a Ordem de Mérito Nacional que aquele país lhe havia concedido no dia 27 de junho de 1985, ao repressor Ricardo Cavallo".
O ditador, na época, trabalhava como adido naval na representação diplomática Argentina em Paris.
Ainda de acordo com o comunicado, o pedido foi uma solicitação dos sobreviventes da ditadura e foi transmitido à França durante a visita oficial que o presidente Alberto Fernández fez ao país europeu em fevereiro.
Ricardo Cavallo está preso na Argentina depois de duas sentenças de prisão perpétua, uma recebida em 2011, por vários crimes no centro clandestino de tortura que funcionava na Escola de Mecânica do Exército (ESMA), e outra em 2017, em um julgamento pelo chamado "voos da morte".
O ex-capitão, também conhecido como "Sérpico" ou "Marcelo", de 68 anos, foi um dos oficiais da Marinha que fazia parte do Grupo de Tarefas 3.3.2, responsável por milhares de sequestros, torturas, estupros e assassinatos na ESMA, incluindo os das freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet em 1977.
Em 2010, a existência da condecoração para o ditador havia sido confirmada pelo então ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kourchner, a pedido da organização humanitária Nouvaux Droits de L'Homme. Desde então, os sobreviventes da ESMA têm exigido a retirada da distinção.
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina agradeceu ao presidente Macron e seu ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, "pela pronta resposta a um pedido de vítimas de terrorismo de Estado", diz o comunicado.