Michel Telles

Iara Ferreira canta sua visão de Brasil em álbum solo: VERDEAMARELA!

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Por Michel Telles
Ás

Iara Ferreira canta sua visão de Brasil em álbum solo: VERDEAMARELA!

Foto: Bolivar Alencastro

A carreira da cantora e compositora paulista Iara Ferreira é extensa. Com 15 anos de trajetória, ela reúne uma obra de cerca de 300 músicas – talvez uma das mais numerosas entre letristas brasileiras. Suas canções já foram gravadas e interpretadas por nomes como Yamandu Costa e Roberta Sá, entre muitos outros. Deste baú musical onde Iara vem reunindo suas criações – que já renderam prêmios –, ela fez um apanhado de nove inéditas que agora integram seu primeiro álbum solo, VERDEAMARELA (Tratore), lançado dia 30 de junho. "O conceito essencial do disco é: ver para poder amar (ela). Conhecer a terra do Brasil, falar de suas belezas, tragédias, povos, amores e lutas", conta a artista. 

Uma especialista da letra brasileira que trabalha com cerca de 80 parceiras e parceiros de composição, Iara fez um recorte amoroso, crítico e esperançoso para narrar o "seu" Brasil neste novo disco, que tem patrocínio do Município de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Modalidade Doação). "O intuito é poder celebrar o Brasil e tudo o que é do povo brasileiro por direito, inclusive de sua rica música, tão aclamada ao redor do mundo", afirma. As canções presentes no álbum passeiam por ritmos como o baião, samba de roda, bolero e ijexá; além de tratar de temas como a luta dos povos originários e a religiosidade caipira. Entre os nomes que assinam as composições das faixas ao seu lado estão Bebê Kramer, Guto Wirtt, Ian Faquini, Ney Souza e Silvia Duffrayer.

O repertório do disco já vinha sendo trabalhado em shows com o seu trio (Ney Souza e Tom Cykman), que passaram por festivais como o Floripa Jazz 2022 e também por Portugal, antes do álbum ser gravado em janeiro deste ano no estúdio The Magic Place, em Florianópolis (SC), cidade onde a artista reside atualmente. Para as gravações, somaram-se ao trio os percussionistas Carlinhos Ribeiro e Carolina Miranda e as cantoras Iara Germer, Emília Lira e Ellen Cristina. 

Capa do disco VERDEAMARELA, de Iara Ferreira, por Move (Caique Sanfelice & Claudio Mendes) -

A ideia da capa partiu do desejo de “criar novas possibilidades de representação para um Brasil popular, poético e ambivalente. Trata-se de um convite para viajar por diferentes Brasis em suas prosas e formas”, comentam os designers da Move, Caique Sanfelice e Claudio Mendes.

Shows

Vivendo em Florianópolis, Iara dá início a tour do disco na cidade, dia 07 de Julho, no Bugio Centro, a partir das 21h30 em noite com entrada gratuita. Depois, no dia 14 ela se apresenta no SESC Piracicaba, em Piracicaba, no interior de São Paulo. As músicas apresentadas serão as que compõem o álbum VERDEAMARELA e mais algumas canções lançadas em trabalhos anteriores. Mais datas serão anunciadas em breve.

Faixa a faixa

A faixa de abertura do disco, Pai Brasil, coloca o país como eu-lírico que pergunta aos seus filhos sobre o "amor que tu me tinhas",  evocando a canção infantil "Ciranda, Cirandinha". Com uma fusão musical que mescla ijexá e influências dos "Afro-sambas", a música questiona o que restará quando os recursos naturais se esgotarem. 

O disco segue com Mais Uma Hora, uma canção com ares de samba de roda inspirada por uma enquete realizada pelo presidente Lula no Twitter sobre a possibilidade da volta do horário de verão. A música aborda de forma divertida a ideia de ter "mais uma hora” no dia e as situações que poderiam ser vividas ao lado de seu amor se houvesse esse tempinho a mais. “Eu espero que entendam a piada”, brinca Iara Ferreira.

A próxima faixa é Curumim da Mata, um samba moderno que exalta a força e a determinação dos jovens indígenas brasileiros. A música defende a importância de diminuir a influência do "homem branco" na tomada de decisões que impactam o país, priorizando as vozes dos povos originários. "Saia curumim da mata, mande mensagem pelo celular/ rode o mundo inteiro até os EUA", canta Iara na música. A quarta faixa, intitulada Rosalina Xique-Xique, narra a história de um migrante nordestino em busca de uma vida melhor nas grandes cidades. A composição, fruto da colaboração entre Bebê Kramer e Iara Ferreira, faz parte de uma trilogia que desvenda a jornada de uma família do sertão do Cariri, revelando os desafios, a saudade e o amor que permeiam suas vidas. "Periodicamente, os três personagens – pai, mãe e filho –  emergem das melodias de Bebê para me contar suas histórias de vida. É um mistério que ainda reserva muitas revelações", compartilha Iara.

A próxima faixa, Bicho de Pinicar, é um cururu estilizado que presta homenagem à Baixa Mogiana, no interior de São Paulo, região de origem da artista. Com raízes nas violadas e na religiosidade caipira, a música transmite a simplicidade e a intensidade das paixões. A letra descreve a paixão como um incômodo, algo que coça tanto o peito quanto o calcanhar. "Essa paixão é bicho de pinicar/ Que me bole bole no peito e no calcanhar.../Valha, meu São João, quê que eu não faço por ela?".

A seguir, Xamã, que é mais uma colaboração com Bebê Kramer, existia como música instrumental havia muitos anos, mas agora ganhou uma letra especial. Inspirada pela leitura de "A queda do céu", livro de Davi Kopenawa e Bruce Albert, a canção é uma homenagem à luta dos povos originários. Na letra, o xamã convoca a comunidade para acordar os espíritos da mata, as crianças e realizar uma festa para espantar a tristeza e a morte trazidas pelos "caraíba", o homem branco. 

A sétima música, Maré de Quarto, surgiu a partir de um encontro de bar entre Iara Ferreira, Ney Souza (seu parceiro nesta composição) e um músico que passou por ali e também é pescador. Na conversa eles ouviram a expressão que dá nome à canção, e que  fala da maré de quarto crescente da lua, ideal para a pesca de determinados peixes. "Quando escutei, disse ao Ney: isso é nome de bolero. O Ney adorou a ideia e logo me mandou a melodia, e essa é nossa primeira parceria", conta. A letra descreve a entrada da maré no quarto dos amantes, simbolizando a intensidade da paixão que depois minguará, assim como as fases da lua. "Sou completamente apaixonada por boleros e acho que se eu tivesse que ouvir só um gênero musical pelo resto da vida, seria este", comenta Iara.

A penúltima faixa do álbum, Katendê, é um ijexá dedicado a Mestre Moa do Katendê, fundador do Badauê e grande mestre da cultura popular, da capoeira angola e do samba de roda. Mestre Moa foi tragicamente assassinado em 2018 por motivações políticas, deixando um vazio na comunidade. "Ele foi um grande mestre e amigo que marcou minha trajetória e me estimulou a cantar quando eu estava apenas começando, com sua generosidade imensa", relembra Iara. Esta canção é uma forma de honrar sua memória e destacar a importância de sua luta pela reafricanização da juventude. É também uma homenagem a todos os mestres e mestras da cultura popular com raízes africanas, que enfrentam obstáculos e persistem em espalhar conhecimento. 

Em Revolução, a nona e última faixa do álbum, somos convidados a entrar em um mundo onde a imaginação poética desafia as fronteiras da realidade, tornando possível uma verdadeira revolução. A poesia é retratada como uma fonte essencial de vida, tão vital quanto a farinha, o pão, a palavra e a oração. Inspirados pelas palavras de Manoel de Barros, somos encorajados a "transver" o mundo, enxergando além do óbvio e descobrindo a beleza oculta nas entrelinhas da existência. 

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