Imprensa internacional repercute voto de Fux a favor de Bolsonaro no STF: "rompendo com pares"
Agências e jornais internacionais destacaram que Fux criticou a competência da Primeira Turma do STF para julgar o caso e provocou divergência com colegas

Foto: Reprodução
Agências e jornais da imprensa internacional, como Reuters, Associated Press, EFE, Al Jazeera, El País e La Nación, repercutiram o voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que abriu divergência ao se posicionar pela absolvição de Jair Bolsonaro (PL) no julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado.
O “voto-maratona” do magistrado, que durou mais de 13 horas, foi interpretado fora do país como um movimento de impacto no processo contra o ex-presidente.
A Reuters destacou que Fux “rompeu” com seus pares, deu força à tese de que o julgamento deveria ocorrer no plenário do STF e avaliou que a divergência aumentou a tensão em um caso já polarizado. A agência ponderou que, mesmo com o voto, a condenação ainda parece provável, mas um eventual longo processo de recursos poderia “aproximar os procedimentos da campanha presidencial de 2026”.
O canal Al Jazeera também ressaltou que Fux “rompeu com os colegas” e enfatizou sua declaração de “incompetência absoluta” da Primeira Turma para julgar o caso, além da crítica ao “tsunami de dados” apresentado pela acusação. Segundo a emissora, embora o voto tenha representado um alívio momentâneo, “é improvável que a pequena vitória dure muito”.
A Associated Press registrou o rompimento de Fux com “dois pares” — Alexandre de Moraes e Flávio Dino — e disse que a decisão deu “algum alívio” a Bolsonaro. A agência chamou atenção para a duração da manifestação, que “levou mais de 13 horas”, e para os “olhares de desgosto” de outros ministros durante a leitura.
A EFE destacou a defesa de Fux da “incompetência absoluta”, enquanto o jornal espanhol El País afirmou que “o duro voto de Fux tem potencial, segundo analistas, de abrir caminho para que a defesa peça o arquivamento do caso no futuro”. O veículo também lembrou que o ministro falou em “tsunami de provas” e alertou contra “o juiz inquisidor”.
Já o argentino La Nación estampou: “Um juiz do Supremo Tribunal Federal pede a anulação do processo sobre trama golpista contra Bolsonaro”, ao repercutir a argumentação de Fux de que a Primeira Turma não seria competente para julgar o caso.
Como foi o voto de Fux
Fux divergiu dos ministros Alexandre de Moraes (relator) e Flávio Dino pela condenação de Bolsonaro. Ele votou pela absolvição de todos os cinco crimes que o ex-presidente responde. Com isso, o placar na Corte é de 2x1.
Em uma votação que durou 13 horas, sendo a terceira mais longa da história da Corte, Fux também defendeu a absolvição de Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Alexandre Ramagem e Augusto Heleno.
No caso de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, e Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, Fux votou para condená-los apelas pelo crime de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Com isso, o STF formou maioria pela condenação dos dois.
O magistrado divergiu ainda dos colegas Moraes e Dino ao afirmar que não há golpe de Estado sem a deposição de um governo eleito e ao rejeitar o crime de organização criminosa, afirmando que não basta um plano criminoso para caracterizar o delito.
Acatou as preliminares da defesa de que golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito configuram, em tese, apenas um único crime; a de cerceamento de defesa por excesso de dados no processo; e de “incompetência absoluta” do STF para julgar a trama golpista.
Fux reconheceu a validade da delação de Mauro Cid, formando maioria no STF para manter o acordo firmado com a PGR: 3 x 0.
O julgamento retoma nesta quinta-feira (11) com o voto da ministra Carmen Lúcia. Caso ela vote pela condenação de Bolsonaro, o STF formará maioria contra o ex-presidente. O início da sessão foi adiado para às 14h devido o tempo que levou o voto de Fux.
LEIA TAMBÉM:
• Marcos Do Val diz ter aconselhado Fux em "reunião secreta" a votar contra a condenação de Bolsonaro no STF
• Quais foram as diferenças dos votos de Fux, Moraes e Dino no julgamento de Bolsonaro?
• Veja reação de políticos de esquerda ao voto de Fux no julgamento de Bolsonaro
• Fux cita “tsunami de dados” ao comentar volume de provas analisadas em julgamento de Bolsonaro
• STF: Fux diz que tentativa de golpe não é simples inconformismo eleitoral
• Juízes devem se abster de 'declarações públicas frequentes', diz Luiz Fux
• Após mais de 1,6 mil votos alinhados a Moraes, Fux muda posição em casos do 8 de janeiro
• “Não há golpe de Estado sem deposição de governo legitimamente eleito” afirma Luiz Fux
• Fux apoiou julgamento de políticos com foro privilegiado nas turmas do STF em 2014
• Réus não tinham dever de impedir danos do 8/1, diz Fux
• Fux diz que existência de plano não é suficiente para caracterizar organização criminosa
• Incompetência do STF, delação de Cid e unificação de crimes: entenda como Fux se tornou esperança do bolsonarismo no julgamento da trama golpista