João Carlos Martins diz que não teme a morte após diagnóstico de câncer
Após o diagnóstico, maestro decide focar em legado na educação musical para crianças

Foto: Divulgação
O maestro João Carlos Martins foi diagnosticado com um câncer agressivo em março deste ano. Em dois dias, ele fez uma biópsia e passou por uma cirurgia, tratada até agora com descrição. O maestro se apresentou pela 30° vez em Nova York, onde tocou pela primeira vez em 1962, quando tinha apenas 21 anos.
Segundo informações da coluna de Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, João Carlos relatou que, quando recebeu a notícia, foi algo "devastador" e também passou por momentos dramáticos no pós-operatório. Ele também disse que acredita estar curado e mantém agenda de apresentações. Na próxima quarta-feira (30), ele fará uma prévia na Sala São Paulo, na capital paulista, com o mesmo repertório da apresentação em Nova York.
O maestro disse que está entrando para terceira fase da vida: a da construção de um legado, trazida à educação musical. Ele afirma que não tem medo de nada. "Estou preparado para ter outros voos no futuro, depois da morte".
Ao todo, João Carlos passou por 30 cirurgias, principalmente nas mãos. Ele contou à coluna que só estava esperando ser diagnosticado com câncer de próstata, o que realmente aconteceu, em março passado. O maestro disse que era um câncer muito agressivo e que a operação durou 4h20, mas no fim foi um sucesso de 100%.
O maior desafio dele foi o pós-operatório. Segundo ele, nunca tinha vivido algo tão dramático. Após uma tomografia com contraste, João Carlos contou que os médicos informaram a ele que estava correndo risco de ter o intestino delgado perfurado. Havia uma obstrução e as fezes já estavam perto da circulação.
Ele foi submetido a mais uma operação que durou 24h. O maestro relatou que injetaram um litro de uma substância para desobstruir o intestino, e era como se ele estivesse em uma galeria de esgoto. João Carlos precisava ser trocado de meia em meia hora.
"Foi a pior noite da minha vida. Fiquei traumatizado. Eu durmo e acordo com isso. Mas, graças a Deus, eles me salvaram", relatou.
João Carlos sofre de uma doença rara, desde 1962: distonia focal do músico - um distúrbio que causa contrações involuntárias nos músculos, e que já levou artistas proeminentes a tirarem a própria vida.
"Eu interrompi minha carreira duas vezes por causa disso, por sete anos. E quando você tem um estresse grande, o cérebro direciona toda a sinapse para o órgão em que a distonia se manifesta. A minha mão esquerda [depois do pós-operatório] fechou totalmente", contou.
"Eu agora estou tratando e reabrindo porque em maio vou tocar na Sala São Paulo, no Brasil, e no Carnegie Hall [em Nova York]. Depois do câncer, eu desejo deixar o meu legado, como eu prometi para o meu pai. E é isso que eu vou fazer. Tenho certeza. Sei que sou como uma flecha que vai chegar no destino certo".
João Carlos pretende se dedicar totalmente a uma revolução na educação musical para crianças de cinco e seis anos de idade.
"Já comecei [um projeto] no [colégio paulista] Liceu Pasteur e fiz uma exposição no Senado Federal. Estou falando com o Conselho Nacional de Educação. [É um projeto] não para enfiar goela abaixo da música para uma criança, mas sim, através de uma brincadeira, a criança procura a música".