Juízes americanos recebem ameaças depois de provocarem governo Trump
A súplica do republicano gerou várias ameaças contra magistrados, com postagens exibindo juízes algemados

Foto: Isac Nobrega/PR
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou as redes sociais na última terça-feira (18) ao solicitar a destituição de um juiz federal que interrompeu seu decreto sobre deportações em massa sob a “Lei do Inimigo Estrangeiro”. A súplica do republicano gerou várias ameaças contra magistrados, com postagens exibindo juízes algemados.
A solicitação de destituição aconteceu em um cenário alarmante. Nove dias anteriores, policiais em Charleston, na Carolina do Sul, foram mandados para a casa de uma das irmãs da juíza da Suprema Corte Amy Coney Barrett por causa de uma ameaça de que tinha uma bomba caseira em sua caixa de correio. “A detonação do dispositivo será acionada assim que a caixa de correio for aberta novamente”, afirmava a ameaça mandada por e-mail.
A aparente bomba era um trote, porém, de acordo com os juízes, as ameaças e intimidações encaradas por eles e suas famílias nas últimas semanas são reais. Na hora em que o Judiciário está determinando assuntos cruciais sobre a legalidade das políticas do governo Trump, o risco de violência contra juízes parece estar crescendo.
Bombas, SWAT e entregas de pizza
As investidas de intimidação têm manifestado diferentes formas: ameaças de bomba, ligações anônimas mandando equipes da SWAT às casas dos juízes e até entregas de pizza.
“Eles sabem onde você e sua família moram”, declarou um juiz que monitora processos contra a administração Trump e recebeu uma entrega de pizza. O magistrado solicitou anonimato por motivos de segurança.
No mesmo dia em que a polícia respondeu à ameaça na casa da irmã da juíza Barrett, o Serviço de Delegados Federais dos EUA transmitiu um comunicado: “juízes federais estavam sendo alvos de entregas anônimas de pizza da Domino’s”. De acordo com a polícia, membros da família da juíza Barrett estavam entre os que recepcionaram as entregas.
Ameaças estão ligadas a processos contra o governo
Juízes que são indicados por presidentes dos dois partidos têm sido alvos, porém um padrão está aparecendo: muitas das ameaças são dirigidas a magistrados que estão julgando processos contra o governo Trump.
Depois do juiz John C. Coughenour, do Tribunal Distrital do Oeste de Washington, exprimir uma ordem impedindo a tentativa do governo Trump de acabar com a cidadania por nascimento para filhos de não cidadãos nascidos nos EUA, ele foi alvo de um ataque de “swatting” — uma denúncia falsa que policiais fortemente armados chegaram à ir na casa dele, acreditando ter um invasor armado. Logo após, uma ameaça de bomba na caixa de correio dele foi mandada para o FBI, porém revelou-se um trote.
'Ataque à independência judicial'
“Críticas não são surpresa; fazem parte do trabalho”, declarou o juiz Sutton, que é o presidente do Tribunal de Apelações do Sexto Circuito. “Mas acho que, quando chegam ao nível de uma ameaça, trata-se de um ataque à independência judicial”, finalizou.
Na terça-feira, Trump não somente solicitou o impeachment do juiz distrital James Boasberg, bem como o chamou, em uma publicação nas redes sociais, de “lunático da esquerda radical, encrenqueiro e agitador”.
O ataque levou o presidente da Suprema Corte, John G. Roberts Jr., a repreender Trump em uma excepcional declaração pública. “O impeachment”, disse ele, “não é uma resposta apropriada para discordâncias sobre uma decisão judicial.”
Porém, até o momento, os seguidores de Trump já tinham acompanhado seu exemplo. Perfis anônimos nas redes sociais chamaram juízes que deliberaram contra o ex-presidente de “traidores” e “fora da lei”. Uma postagem chamou Boasberg de “juiz que ama terroristas”. Outra sugeriu que ele fosse enviado para “Guantánamo por 20 anos”.
Motivações partidárias
O juiz James C. Ho, um conservador nomeado por Trump, declarou não estar convencido de que teve um crescimento nas ameaças e propôs que os alertas despertados no momento possam ter razões partidárias.
Dados recolhidos pelo Serviço de Delegados Federais revelam que o número de ameaças apuradas contra juízes federais, promotores, funcionários dos tribunais e visitantes de tribunais federais caiu nos últimos dois anos, de 1.362 em 2022 para 822 em 2024. O órgão não respondeu a uma solicitação de dados sobre os primeiros meses de 2025.
No relatório de final de ano do Judiciário federal, o juiz Roberts realizou um alerta grave sobre um “aumento significativo” nas ameaças. De acordo com ele, os dados revelam que as ameaças e comunicações hostis encaminhadas para juízes triplicaram na última década.