Leão quer palanque de PP para Lula na Bahia, mas partido é tripé de Bolsonaro
Junto com o PL e o Republicanos, PP controla mais de R$ 149,6 milhões na administração federal
Foto: Arquivo Pessoal
Cacique do PP na Bahia e pré-candidato ao Senado pelo grupo político de ACM Neto (União Brasil), o vice-governador João Leão tem dito que dará palanque para o ex-presidente Lula (PT) na disputa pela Presidência da República, mesmo após romper aliança com o governador Rui Costa (PT).
O pedido de exoneração de Leão e de outros integrantes do PP que comandavam pastas importantes na gestão de Rui resultou em uma verdadeira reorganização da máquina pública na Bahia. Em uma retaliação firme, o governador destituiu de seus cargos quase 100 servidores que tinham alguma relação com o núcleo pepista.
No cenário nacional, a situação é diferente. Apesar de o presidente estadual do PP declarar publicamente apoio a Lula nas eleições deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não demonstra interesse em qualquer tipo de retaliação.
Na Bahia, órgãos federais seguem sendo comandados pelo Partido Progressista, a exemplo da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e da Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra a Seca).
Não interessa a Bolsonaro qualquer retaliação ao partido na Bahia porque o PP, no âmbito nacional, é um dos tripés do governo federal. Apesar de Leão declarar apoio a Lula, seu partido é o que mais possui indicados em cargos de chefia no Executivo federal.
Um levantamento recente feito pelo O Globo revelou que o PP, juntamente com o PL (de Bolsonaro) e o Republicanos, controla mais de R$ 149,6 milhões e detém o comando de 32 cargos de poder na administração federal.
O levantamento revelou ainda que deputados e senadores das três legendas foram beneficiados com ao menos R$ 901 milhões do orçamento secreto, mecanismo de distribuição de verba parlamentar de forma desigual e sem transparência.
Além de comandar a Casa Civil, o PP ainda ajuda Bolsonaro a aprovar matérias importantes na Câmara dos Deputados, cujo presidente é o pepista Arthur Lira (AL).
Em 2020, durante passagem pela Bahia, o próprio presidente da República fez questão de realizar mudanças em pastas federais e colocar nos cargos de poder indicações ligadas ao partido de João Leão.
Na ocasião, Bolsonaro colocou a Codeba (Companhia das Docas do Estado da Bahia) nos colos do PP ao nomear o vice-almirante da Marinha do Brasil, Carlos Autran de Oliveira Amaral, para o comando do órgão.
A Codeba é a empresa responsável por administrar os portos de Salvador, Aratu e Ilhéus, sendo cobiçada por partidos políticos devido ao alto faturamento (em torno de R$ 15 milhões). Após a nomeação, chegou a ser especulado que o nome do novo diretor teria sido indicação do então prefeito de Salvador, ACM Neto. Hoje pré-candidato ao governo da Bahia, Neto descarta apoio de Bolsonaro, a quem se aliou para as eleições de 2018.
Com o desembarque do PP na base de ACM Neto, visando eleger João Leão senador pelo grupo do União Brasil, o governador Rui Costa tem dito que "agora ficou fácil" para a população ver que o PP está com Bolsonaro, apesar do apoio explícito de João Leão a Lula e da declaração de Neto de que apoiaria o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) para a Presidência.
"Tem a frase que diz que Deus escreve certo, por linhas tortas. Talvez, os acontecimentos tenham facilitado. Com a ida do PP, temos os bolsonaristas de um lado e tem a turma do Lula no outro. O povo que vai escolher em quem votar", declara Rui, sinalizando que o ex-presidente Lula não deve aceitar o palanque oferecido por João Leão.