Levantamento aponta que 'inflação do motorista' é a maior em 21 anos
Gasolina, Gás Natural Veicular (GNV) e etanol são os principais vilões

Foto: Reprodução / G1
O levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) mostra que o aumento do preço dos combustíveis passou a consumir boa parte do orçamento dos brasileiros nos últimos meses. A alta também provocou uma enxurrada de reclamações de motoristas de aplicativo, que viram a renda do trabalho diminuir – as principais empresas do setor até anunciaram um aumento no repasse no valor da corrida para os trabalhadores.
Segundo o estudo, com o preço da gasolina, do gás natural (GNV) e do etanol em alta, a inflação para o motorista no Brasil disparou e já chega a 18,46% no acumulado em 12 meses até outubro. É a maior inflação para esse grupo desde 2000.
Uma comparação com os índices que medem a inflação cheia para o consumidor reforça como a alta de preços tem sido mais expressiva para o motorista:
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – calculado pelo IBGE – acumula alta de 10,25% até setembro; e
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – apurado pela FGV – subiu 9,57% nos 12 meses até outubro.
Para calcular a 'inflação do motorista', o Ibre levou em conta uma série de itens, além da variação do combustível. No cálculo, estão preço do automóvel novo e usado, gasto com peças e acessórios, seguro, entre outros.
"A gasolina, o GNV (Gás Natural Veicular) e o etanol têm sido o principal vilão", afirma Matheus Peçanha, pesquisador do Ibre e a autor do levantamento.
"A gasolina e o GNV têm sido prejudicados pelo barril de petróleo, que tem subido de preço por causa da política da Opep, de reduzir a produção. E há o impacto do câmbio porque a Petrobras reajusta os seus preços com base nessas duas variáveis", acrescenta Peçanha.
Já o preço do etanol acumula uma alta expressiva por causa da crise climática, que prejudicou a produção de cana de açúcar.
O motorista sofre ainda com o desarranjo das cadeias de produção por causa da pandemia
O levantamento aponta ainda que a combinação entre a interrupção das fábricas e a retomada econômica acelerada de boa parte dos países provocou uma escassez de chips no mundo todo e, consequentemente, de peças, o que fez com que várias montadoras fossem obrigadas a interromper a produção de automóveis.
Com esse descompasso, houve uma queda na oferta de veículos novos e, consequentemente, um aumento na procura por carros usados. O resultado foi uma alta de preços generalizada.