Líder do governo defende mudanças na gestão Lula: 'Se estivesse bem, teria 80% de aceitação'
Ele alegou que Lula sempre será uma pessoa chave dentro do partido, mas que é necessária a realização de um debate amplo dentro do PT
Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE) defendeu uma renovação na Esplanada dos Ministérios e uma chacoalhada geral no PT para o enfrentamento do bolsonarismo nas ruas e nas redes sociais.
"Toda renovação é bem-vinda. Evidentemente que o presidente é quem encaminha. Mas às vezes nós temos que evitar em qualquer governo a acomodação, a sensação de que está tudo bem. Se estivesse tudo bem, o Lula estava com seus 80% de aceitação. Não está tudo bem", afirmou Guimarães ao ser questionado sobre a necessidade de uma reforma ministerial.
As declarações do congressista foram dadas horas antes de o governo sofrer uma série de derrotas na votação dos vetos presidenciais do Congresso Nacional nesta terça-feira (28).
Guimarães disse ainda ser necessário repensar a estratégia de comunicação, o que não significa necessariamente a substituição do titular da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).
Segundo ele, o terceiro governo Lula "entregou demais". Mas nem sempre o fruto desse trabalho chega à população, inclusive porque alguns programas sociais retomados pelo Palácio do Planalto já estão incorporados como políticas de Estado, não como novas conquistas.
O deputado federal rechaçou o termo desgaste como referência à queda na avaliação do governo.
"Não é desgaste. É a manutenção da mesma toada que nós tivemos na eleição. Nós temos que avançar. Tem tempo ainda para reformular muitas coisas. Eu acho que dá tempo da gente reverter isso para Lula chegar a um índice de aceitação grande em 2026", acrescentou.
Segundo Guimarães, os oposicionistas construíram um Estado à parte, fundado em fake news, e o país está dividido. Por isso, o governo não pode se dar ao luxo de errar. "O país é 50% nós e 50% com eles."
Ele defendeu, ainda, uma reconciliação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), citando haver benefícios na retomada da relação para a Casa e para o país.
O líder do governo Lula disse que o PT precisa voltar às suas origens e admitiu a possibilidade de concorrer à presidência da legenda no próximo ano, apesar da preferência do mandatário pelo prefeito de Araraquara (interior de São Paulo), Edinho Silva, para a sucessão de Gleisi Hoffmann.
Alegou que Lula sempre será uma pessoa chave dentro do partido, mas que é necessária a realização de um debate amplo dentro do PT e que não ouviu manifestação do presidente em favor de Edinho. Ele defendeu um nome do Nordeste para a direção nacional da sigla.
"Por que não o Nordeste pela primeira vez depois do [José Eduardo] Dutra, por que não ter um nordestino na presidência do PT? Por que não eu? Por que não Humberto [Costa]? Por que não outros nomes do Nordeste? O Nordeste continua o sustentáculo maior do PT", ressaltou o congressista.
Guimarães afirmou ainda que Gleisi tem que comandar sua sucessão.
"Temos que fortalecer a Gleisi até para reconhecer o legado dela. Se tivesse dado errado, ela pagaria um preço altíssimo [...] O que a gente não pode é desmoralizar, porque essa mulher foi muito corajosa", reiterou o deputado, lembrando já ter defendido o nome dela para o ministério de Lula.
Argumentando ter havido uma excessiva institucionalização da agremiação, o líder do governo defendeu "uma chacoalhada geral dentro do PT".
"O conjunto do PT se institucionalizou em demasia. Claro que minha função aqui é institucional, mas nem todo PT tem a mesma função. Então, precisa que a gente dê conta dessa nova disputa que está em curso no Brasil, nas redes e nas ruas. Não pode ser uma coisa dentro do governo, na defesa do governo."
"Se não, no próximo ano, vamos eleger a nova direção sem ideias, sem compromisso social e sem perspectiva de manutenção do PT. O PT como um todo, nós como dirigentes, precisamos entender que aconteceu com o país. O Brasil não é o Brasil de 2002 nem o Congresso é aquele. O Brasil é outro país e o governo tem que ser outro, porque o Brasil mudou", disse.
Para Guimarães, o partido "não é mais o PT de São Bernardo", sendo necessária uma renovação. E que a nova direção deve pensar um projeto de país não só para ganhar a eleição. "Mas é pensar um projeto de país em que o partido se enraíze, se estruture. A direita está dando uma lição muito grande para nós. Ela se organiza em outro instrumento, que é a tal rede social."
Sobre seu dia a dia, descreve:
"Eu tenho que conversar com o governo. Nem sempre todos do governo conversam afinados com o presidente da Câmara. E aí eu tenho que me virar em dez. O fato é que nós aprovamos tudo que o governo quis. Com uma ou outra pequena mudança. Mas as questões centrais do governo nós aprovamos aqui na Câmara".