Vídeo: líder do PDT na Câmara diz que saída da base de Lula partiu de "insatisfação na reciprocidade" com o governo
Ao Farol da Bahia, Mário Heringer afirmou que a legenda busca independência

Foto: Paulo Sergio/Câmara dos Deputados
Em entrevista exclusiva ao Farol da Bahia, o líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG) afirmou que a decisão da saída do partido da base do governo Lula aconteceu após um longo período de “insatisfação na reciprocidade da relação”.
“O PDT já não se sentia há algum tempo contemplado nas suas lutas, nas suas tentativas de políticas públicas junto ao governo e nesse período de dois anos e meio essa relação se exauriu e há, como em todas as relações, uma decisão de separação”, declarou. Veja vídeo:
Nesta terça-feira (6), Mário anunciou que a resolução ocorreu de forma unânime entre os 17 parlamentares que compõem a legenda. Segundo o deputado federal, o PDT busca independência e não vai necessariamente para a oposição, mas planeja que cada parlamentar possa votar de acordo com o que desejar, sem necessidade de união da sigla em todos os debates.
“Não é separação para ir para oposição, por vingança, criar problema, mas para que nós possamos procurar nossos caminhos, nossos destinos, para onde nós vamos (...) Não queremos ser confundidos com a atual oposição, não temos afinidade política nenhuma com a atual oposição. Mas quando a gente se diz independente, a gente está querendo dizer que nós vamos também ser críticos das posições que o governo apresentar (...) liberar a bancada para votar conforme sua vontade própria”.
A decisão do PDT acontece quatro dias depois da demissão do ministro da Previdência Social e presidente do partido, Carlos Lupi, em meio ao escândalo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Para o lugar de Lupi, Lula nomeou o ex-deputado Wolney Queiroz, número dois na hierarquia da pasta.
Segundo interlocutores, a nomeação de Wolney não atendeu as demandas do PDT. Já Mário disse que o partido está satisfeito com a escolha e teceu elogios ao ex-deputado.
“Wolney preparado, importante para nós como membro do PDT, um excelente profissional, muito bem escolhido pelo presidente [Lula], talvez se eu fosse presidente também o teria escolhido. É com certeza um quadro que honra o PDT. Mas a gente quer deixar muito claro que não houve por parte da gente uma troca de ministros. Há um ministro do PDT, se o governo achar por bem mantê-lo vai ser um excelente quadro”, comentou.
Eleições 2026
Conforme Mário, as eleições de 2026 também estiveram entre os fatores analisados para a decisão. A busca pelo percentual exigido pela claúsula de barreira teria apressado a necessidade de escolha.
“Temos que ter votação suficiente em um número estado grande em 2026, precisamos escolher esse caminho desde já, então oportunamente a gente tomou essa decisão”.
Questionado sobre a presença da legenda na disputa presidencial, Mário disse que o PDT reforça a luta contra a bipolaridade, mas não confirmou.
“O PDT há algum tempo vem tendo sim um candidato próprio. A gente no segundo turno sem opta pelo candidato que é mais afeito ao nosso campo ideológico. Se for esse caso, por que não termos? A gente ajuda nessa nossa posição em acabar com a bipolarização, esse negócio de Lula e Bolsonaro. A gente pode ser o caminho. Se nós queremos acabar com a polarização como vamos oferecer isso para os outros se nós estamos em um campo polarizado? É uma pergunta que a gente se fez também e acha que devesse pensar com mais frieza daqui para a frente”.
Escândalo do INSS
Lupi pediu demissão depois do escândalo de desvios de valores de aposentadorias e pensões pagas pelo INSS ser descoberto pela Controladoria-Geral da União (CGU) e Polícia Federal (PF).
Conforme as investigações, as fraudes começaram no ano de 2019. Associações e entidades faziam descontos irregulares na folha de pagamentos de aposentados e pensionistas sem a devida autorização.
Segundo estimativas do governo federal, mais de 4 milhões de pessoas podem ter sido lesadas. O prejuízo total pode chegar a cerca de R$ 6 bilhões.
Posicionamento de Gleisi
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, disse que respeita a decisão da bancada do PDT. “Respeitamos o posicionamento da bancada, e seguimos dialogando com o PDT, contando com o apoio do partido nas matérias de interesse do país”.
Em entrevista à CNN, na segunda (5), a ministra havia definido o partido como "fundamental" para o governo. Responsável pela interlocução do Palácio do Planalto com o Congresso, Gleisi disse ainda que apesar da decisão da legenda, segue contando com o apoio em votações prioritárias para o governo.
Os partidos que integram a base do governo Lula somam cerca de 130 deputados, abaixo dos números necessários para o governo aprovar projetos de lei complementar (257) e propostas de emendas constitucionais (308).
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