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Bahia

Livro de historiador baiano revela segredos, tensões e relações políticas em Camaçari

Para o autor, Diego Copque, não há como falar da história do Brasil sem mencionar o município

Por Emilly Lima
Ás

Livro de historiador baiano revela segredos, tensões e relações políticas em Camaçari

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Há pouco mais de 20 anos, quando tinha quase 26 anos, Diego de Jesus Copque, foi vítima de discriminação racial quando ocupava uma vaga de assistente administrativo no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. Esse foi o ponto crucial para que iniciasse uma busca sobre as origens étnicas e ancestrais do seu sobrenome, visto que era pouco comum na localidade em que morava. Porém, as descobertas o levaram a identificar que a genealogia não era especificamente da África, mas sim da Alemanha, com ascendência nos povos indígenas Tupinambás. "Eu sou a décima geração do fundador da companhia Copque, que existe até hoje. É a primeira fábrica produtora e exportadora de vinhos do porto", contou ao completar que os resultados não o agradaram tanto, pois acreditava ter algum tipo de familiaridade com alguma família negra, baiana e escravizada no período colonial.

E é a partir daí que começa a nascer a história do seu livro "Do Joanes ao Jacuípe – Uma história de muitas querelas, tensões e disputas locais", lançado em maio deste ano. Segundo Copque contou ao Farol da Bahia, ao descobrir que tinha ancestralidade alemã, destrinchou a história e encontrou que, dos seis netos existentes na época, dois se estabeleceram na Bahia: o Capitão José Joaquim Copque e Nicolau José Copque.

"Ambos têm uma relação direta, tanto com o Rio Joanes, tanto com Camaçari. O Nicolau José Copque era dono de um engenho de açúcar, que ficava situado em São Sebastião do Passé. E esse engenho ficava entre os rios Joanes e Jacuípe", explicou ao pontuar que é nesse momento que a história passa a sair de uma narrativa genealógica para geográfica. 

Foi lendo um jornal impresso de 1977 sobre Camaçari receber as primeiras levas de imigrantes que passou a ficar com diversas indagações, a exemplo de como deveria ter sido o município no período colonial e um obteve um impulsionamento para pesquisar sobre os processos de origens do sistema de pedágio e travessia do Rio Joanes e evolução da região."

Quando eu me dei conta eu já estava mergulhado em fontes documentais desde o século XVI relacionados aos rios Joanes, Jacuípe, Pojuca e, principalmente, ao aldeamento do Espírito Santo, que 200 anos depois se tornou a Vila da Nova Abrantes do Espírito Santos", disse. "Muitas pessoas dizem que esses rios separam as cidades, mas eu costumo dizer que os rios é o que nos aproxima".

Fundação de Camaçari: 1558 ou 1758?

Inicialmente, sem nenhuma formação acadêmica para dar conta de analisar tantos documentos, Diego buscou se graduar em bacharel e licenciatura em História para obter um olhar maduro sobre as fontes encontradas. O ponto do estudo, para além das querelas e tensões locais que Copque traz em seu livro, está a emblemática discussão que prevalece até os dias de hoje: o ano de fundação do município de Camaçari.

A cidade conserva na região de Vila de Abrantes uma igreja que possui 462 anos. No entanto, o município conta com apenas 262. São 200 anos que separam o marco da fundação da Paróquia Divino Espírito Santo e a cidade de Camaçari. "Há uma incoerência enorme nisso aí. Nós buscamos entender o lapso desses 200 anos e explicamos o que de fato aconteceu no meu livro", disse ao completar que a Câmara Municipal dos Vereadores possui conhecimento da data original de fundação de Camaçari, que é 29 de maio de 1558. "É a data do Dia de Pentecostes, onde se celebra o Divino Espírito Santo, e é onde, no Brasil, pela primeira vez, se celebrou o culto ao Divino Espírito Santo, em Vila de Abrantes".

No próximo dia 28 de setembro, conforme a prefeitura, Camaçari completa 263 anos desde a sua fundação. O Farol da Bahia entrou em contato com a gestão municipal na tentativa de compreender se há algum processo judicial em aberto que busca impor o ano de 1558 como o verdadeiro período de nascimento da cidade.  No entanto, a reportagem ainda aguarda o retorno. 

Em sua obra, Diego Copque também apresenta, rapidamente, a discussão em torno da consolidação da Independência da Bahia, o Dois de Julho que, segundo ele, não é devidamente narrado pela historiografia oficial."Nós temos Santo Amaro de Ipitanga, que é o município de Lauro de Freitas, temos Camaçari, Dias D'Ávila e Mata do São João que foram ativos no processo do 2 de Julho e não são mencionados com o devido respeito e valor".

Capítulos do livro

Além dessa descoberta, até então pouco aprofundada pelos memorialistas, o livro é dividido em quatro partes: a primeira é sobre as relações políticas, a construção de uma ponte sobre o Rio Joanes e a formação de quilombos na região. A segunda destrincha sobre a reconstituição da sociedade local da Vila da Nova Abrantes do Espírito Santo. A terceira traz os desdobramentos do legado patrimonial deixado pelo Capitão João Francisco da Costa e os engenhos de cana-de-açúcar. E, por último, a trajetória de algumas famílias residentes de Camaçari desde o século XVIII. 

Com base em suas pesquisas, Copque ainda frisou que a cidade de Camaçari e os municípios do recôncavo norte estão inseridos em diversas perspectivas de participação ativa da história do Brasil. Segundo ele, para fazer do país no século XVI, é necessário mencionar o aldeamento do Espírito Santo, Ipitanga e Mata de São João. "Os quatro mais importantes aldeamentos indígenas fundados no século XVI estavam na nossa região [Camaçari]. O aldeamento do Espírito Santo é Vila de Abrantes; aldeamento de Santo Antônio de Rendé, que hoje é Arembepe; aldeamento de Santo da Ressaca, que é Barra do Jacuípe; e aldeamento de Açu da Torre, que é Bom Jesus de Tatuapara", explicou. 

"Falar dessa região é falar da história do Brasil e falar da história do Brasil, dentro dessas perspectivas, do processo de colonização e miscigenação, não se pode ficar de fora nenhum desses municípios", finalizou. 

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