Longyearbyen: a cidade que está derretendo.
Pequeno arquipélago na Noruega sofre com aquecimento global
Foto: Florence D por Pixabay
De acordo com um relatório da Agência Ambiental Norueguesa, a cidade de Longyearbyen, na Noruega, é o lugar do planeta onde o aquecimento global está chegando mais rápido. Nesta cidade do arquipélago de Svalbard, as temperaturas aumentaram 4ºC desde 1971. No inverno, quando as mudanças são mais acentuadas, a temperatura subiu 7ºC. São aumentos que o resto do mundo não deverá registar, pelo menos, até ao século XXII.
O arquipélago de Svalbard, ligeiramente menor do que a Irlanda, está posicionado geograficamente, numa zona de intempéries. As pressões de temperatura vêm do Norte (a atmosfera do Ártico, que aquece o dobro da média global) e do oceano próximo (que traz correntes cada vez mais quentes do Golfo do México). À medida que a sua superfície de neve derrete, a terra reflete menos e absorve mais calor do sol. E com o derretimento do gelo nas zonas costeiras, o clima continental calmo é substituído por tempestades costeiras.
No local, a exploração do petróleo começou em 1906 e, até 10 anos atrás, o tema das alterações climáticas era tabu porque a indústria mineira sempre controlou a cidade. Devido as mudanças que precisam ser feitas por causa do aquecimento, a coisa mudou e já se fala sobre o assunto, mas, até hoje, esta indústria ainda detém a maioria das casas, bares e restaurantes, que são decorados com fotografias e retratos de mineiros. A estátua na rua principal da cidade é um grupo de mineiros e mesmo correndo risco pelo degelo, eles são idolatrados, uma vez que ainda é o carvão que mantém as luzes acesas e as casas quentes. Com a cidade literalmente "derretendo" , toda a população decidiu se emprenhar para mudar ou, pelo menos, postergar que a cidade desapareça e abraçou a causa ambientalista. Com isto, os residentes de Svalbard se tornaram um das maiores colaboradores dos cuidados com o meio ambiente e as causas climáticas da Europa.
Hoje é impossível atravessar alguns fiordes (extensão de água congelada) com motos de neve, uma vez que os locais já não congelam no inverno, algo inimaginável há algumas décadas. Nesta região, anteriormente conhecida como “deserto do Ártico”, já chove. Os glaciares que cobrem 60% do arquipélago estão derretendo e provocando deslizamento de terras, o que danifica a estrutura dos imóveis.
Quase 150 casas estão a sendo movimentadas em um procedimento que deverá custar 350 milhões de coroas norueguesas (36 milhões de euros). Além disso, estão sendo escavados novos canais de drenagem. Mesmo assim, as autoridades não estão certas de que consigam acompanhar o ritmo das alterações climáticas.
Lena Berntsen, moradora local, conta que aprendeu "muito sobre a neve - a boa neve e a má neve". "Se há chuva seguida de gelo, seguido de neve, então sabe-se que se tem que fazer as malas". No verão passado, Lena foi obrigada a abandonar permanentemente o seu antigo apartamento porque este estava localizado numa "zona vermelha" de alto risco. Agora, está um pouco mais segura, na "zona laranja", onde os edifícios já tiveram de ser evacuados por três vezes, desde que se mudou para cá.
Arild Olsen, ex-mineiro e líder do conselho, explicou que "é difícil assegurar a segurança das pessoas", porque "estão acontecendo coisas que não deviam". "Temos que adaptar uma cidade inteira. É difícil". Olsen, quer transformar Svalbard num exemplo para o resto do mundo, pelo modo como se preparam e como lidam com a ruptura climática. Para isso, decidiu se concentrar nos pontos positivos: ter a oportunidade de melhorar o plano habitacional, incrementar a eficiência energética e tornar Longyearbyen uma cidade neutra nas emissões de carbono.