Lula faz 6ª reforma de seus três governos, a primeira sob manto da impopularidade
Na atual reforma, a sexta, Lula é pressionado a ampliar o inédito espaço dos partidos de centro e de direita em sua gestão eles já controlam 11 pastas
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A atual reforma ministerial de Lula (PT) é a sexta de seus três governos, a primeira sob o manto da impopularidade, como mostram pesquisas de opinião.
Nas outras ocasiões em que mexeu em bloco algumas peças de sua equipe, Lula sempre esteve com a avaliação positiva acima da negativa, mesmo no auge do escândalo do mensalão, em meados de 2005.
Agora, de acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha, a aprovação do governo é de 24%, o menor índice de todos os seus governos, contra 41% de rejeição, também um recorde.
Lula chegou ao poder em 2003, derrotando o candidato de situação, o tucano José Serra.
Na transição, seu futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), costurou um acordo para a entrada no governo do PMDB (hoje MDB), que na época tinha eleito a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados, com 75 das 513 cadeiras.
A ideia era dar aos peemedebistas duas pastas, Minas e Energia e Integração Nacional. A negociação, porém, naufragou às vésperas da posse.
Como resultado, o primeiro ministério de Lula ficou recheado de petistas e com apenas algumas pastas distribuídas a outros partidos de esquerda. Apenas duas siglas de direita figuravam na composição, o PL (Transportes) e o PTB (Turismo).
Ao final do primeiro ano de gestão, Lula acabou sendo obrigado a fazer a sua primeira reforma com o objetivo de, enfim, levar parte do PMDB para o governo. A sigla de Michel Temer ficou com duas pastas, o senador Amir Lando na Previdência e o deputado federal Eunício Oliveira nas Comunicações.
Lula aproveitaria a ocasião também para trocar peças que avaliava não estarem rendendo o suficiente, em especial na Educação, em que demitiu o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque (PT) pelo telefone e colocou em seu lugar Tarso Genro (PT).
A segunda reforma ministerial de Lula ocorreu um ano e meio depois, já em meio ao impacto do escândalo do mensalão, esquema de compra de apoio político no Congresso Nacional.
Nesse período, meados de 2005, o Datafolha mostrava uma erosão na popularidade do petista, mas não como a detectada agora eram 35% de aprovação e 23% de rejeição (esses índices iriam piorar até o final daquele ano).
Na ocasião, Dilma Rousseff (PT) assumiu a Casa Civil no lugar de Dirceu (que voltaria para a Câmara e teria o mandato cassado meses depois), e o articulador político que sobrou, Aldo Rebelo (PC do B), foi substituído por Jaques Wagner (PT).
O PPB (hoje PP), quinta maior bancada da Câmara, desalojou o PT do Ministério das Cidades, e o MDB trocou a mirrada Previdência pelas robustas Saúde e Minas e Energia, somando três ministérios.
Lula acabou conseguindo superar a crise, e sua terceira reforma ministerial ocorreu apenas para empossar interinos e ministros-tampões nas vagas dos titulares que se desincompatibilizaram dos cargos para disputar as eleições de 2006.
O petista foi reeleito para um segundo mandato naquele ano, derrotando Geraldo Alckmin (PSDB), hoje seu vice, e viveu de 2007 a 2010 uma popularidade e uma estabilidade congressual muito mais altas.
Tanto é que nesses anos fez apenas trocas pontuais na equipe e promoveu uma reforma, a quarta de seus governos, apenas no ano eleitoral, novamente para empossar ministros-tampões no lugar daqueles que iriam disputar as eleições de 2010.
O PT continuou hegemônico no controle dos ministérios, tendo o MDB como principal parceiro tanto é que indicou Michel Temer como vice na chapa da sucessora de Lula, Dilma Rousseff. Os demais partidos de esquerda e o PP e o PTB eram coadjuvantes, com uma pasta cada um deles.
Já no atual mandato, o terceiro, Lula assumiu com um cenário bem mais adverso.
O centrão e demais partidos de centro e de direita, que controlam o Congresso, emplacaram nove ministérios de cara, três para MDB, três para PSD e três para o União Brasil, partido que tem em sua origem o PFL, arquirrival de anos anteriores.
Já antes do primeiro ano, Lula fez a quinta reforma ministerial de suas gestões.
Dessa vez para trocar a ministra do União Brasil que havia perdido a sustentação do partido a deputada Daniela do Waguinho perdeu o Turismo para o deputado Celso Sabino, também do União e para levar para o governo deputados federais do PP e do Republicanos André Fufuca (Esporte) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), respectivamente.
Na atual reforma, a sexta, Lula é pressionado a ampliar o inédito espaço dos partidos de centro e de direita em sua gestão eles já controlam 11 pastas. Ele estava sendo pressionado a entregar a alguém dessas legendas a coordenação da articulação política do governo, mas nesta sexta-feira (28) acabou anunciando a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para a vaga.
A atual reforma começou com a troca de Nisia Trindade (Saúde), que não é filiada, mas é ligada ao PT, por Alexandre Padilha (PT), que até então chefiava a pasta de Relações Institucionais. Em janeiro Lula já havia sacado o petista Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação e colocado o marqueteiro Sidônio Palmeira.
Pela primeira vez nas gestões de Lula, os ministros de outros partidos e sem vinculação partidária representam mais da metade dos ministros filiados ao PT, 26 a 11, embora a sigla mantenha o comando de postos-chave como Fazenda, Casa Civil, Educação, articulação política e, agora, Saúde.