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Machismo ainda trava desenvolvimento do futebol feminino no Brasil

Confira mais uma matéria especial em alusão ao Dia Internacional da Mulher

Por Ane Catarine Lima
Ás

Machismo ainda trava desenvolvimento do futebol feminino no Brasil

Foto: Arquivo pessoal/Farol da Bahia

Embora seja conhecido mundialmente como o país do futebol, o Brasil não mostra grandes evoluções quando o assunto é mulher dentro do campo. Na semana do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, dados comprovam as desigualdades de gênero existentes em todos os setores da sociedade brasileira. Em 1979, quando o Brasil já era tricampeão mundial entre os homens, as mulheres ainda eram proibidas de jogar futebol. Agora, em 2022, quantas figuras de destaque como as jogadoras Marta, Cristiane e Formiga o país tem?

É inegável que há anos a mulher dentro da sociedade vem conquistando espaços muitas vezes imagináveis, mas no esporte o cenário ainda é diferente. Desde o início, o futebol feminino enfrenta diversas dificuldades, não só com a falta de investimento, estrutura e visibilidade, mas também pelo preconceito que as jogadoras sofrem por conta do machismo estrutural. 

As barreiras que limitam sonhos e ditam lugares de ocupação começam na infância, quando as meninas ganham bonecas ao invés de uma bola. O machismo, além de negar espaço, também desacredita meninas talentosas. Emilly Simões, por exemplo, tem 20 anos e contou ao Farol da Bahia que desde criança se identifica com o futebol. Apesar de ter habilidades para o esporte, ela afirma nunca ter sido encorajada a tentar uma carreira profissional. 

Moradora do bairro Jardim Santo Inácio, em Salvador, Emilly disse que desde muito jovem é rotulada com frases preconceituosas como, por exemplo, “se joga futebol, só pode ser sapatão”. “Meu interesse pelo esporte se deu de forma muito natural. Eu tinha cinco anos quando vi os meninos jogando bola e queria jogar também, queria estar naquele meio. Tudo começou aqui na comunidade. Eu criei gosto por jogar bola e, apesar do que escuto, não paro. Várias vezes eu sou discriminada por ser mulher e por jogar bola. Eu escuto sempre que sou ‘sapatão’, mas as pessoas não entendem que tem coisas que a gente gosta de fazer. Isso, infelizmente, sempre vai existir”, disse Emilly.

Foto: Arquivo Pessoal/ Emily Simões

Para ela, o machismo trava o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. “Hoje em dia está um pouco melhor, mas antigamente era horrível. A gente consegue perceber que de uma forma muito tímida estão dando mais oportunidades para mulheres no futebol, mas ainda é muito pouco. O machismo limita a mulher no esporte. Eu já pensei em jogar profissionalmente, sei que posso ter futuro, mas nunca me encorajaram. Tem dificuldades de financiamento também, porém muita coisa que eu ouvi me desmotivou de uma certa forma. Eu não tive apoio necessário dentro do futebol. Hoje, eu treino porque  gosto muito”, afirmou Emilly, que completou dizendo que mulheres que desejam seguir carreira precisam ser fortes, ter foco e disciplina. 

Pouca valorização e dificuldade

Ex-coordenadora do time feminio do Vitória e campeã internacional de futevôlei, Many Gleize disse ao Farol da Bahia que as mulheres não são valorizadas como deveriam dentro do esporte. “A mulher tem várias dificuldades relacionadas à parte fisiológica, mas isso não impede que tenha força e dedicação. As mulheres estão sempre treinando e buscando atingir o nível máximo, então há uma menor valorização. No entanto, eu acredito que com o passar do tempo isso vá mudando”, disse a atleta.

“Hoje, nós já temos vários exemplos de superação no esporte feminino. Aos pouquinhos a gente está ganhando força e reconhecimento. Não é uma luta fácil. Também não é uma luta rápida, mas a gente tem esperança de que sejamos mais valorizadas”, completou.

Em relação ao futebol feminino, Many Gleize afirma que as dificuldades são oriundas da permissão tardia para o exercício do esporte no Brasil. “Antes, as mulheres não podiam jogar futebol. Então, essa defasagem atrapalhou muito o desenvolvimento do futebol feminino. A gente está anos luz atrás de outros países e, claro, até mesmo do futebol masculino, onde nós vemos milhões de reais investidos. No futebol feminino não existe isso, o investimento e a visibilidade”, afirmou Gleize.

“Na minha opinião, o futebol feminino deveria ser mais divulgado para ser mais visto. Nós ainda temos uma concentração de jogos masculinos sendo transmitidos na televisão, e isso dá visibilidade. O futebol feminino não tem isso”, concluiu. 

Foto: Maurícia da Matta/EC Vitória

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