Material Girl: Madonna, moda e poder feminino
Foto: Billboard
O início da década de 80 foi palco de grandes momentos marcantes para a história da cultura pop mundial. Além da estreia da MTV em 1981, e do lançamento do icônico álbum Thriller, de Michael Jackson, em 1982, este mesmo ano testemunhou também o início da carreira de outra lenda do pop, a Madonna.
Madonna Louise Ciccone lançou o seu primeiro single, Everybody, em 82, e a partir daí sua figura se tornaria uma das grandes personificações da década de 80. Com o surgimento da MTV e a indústria do videoclipe ganhando uma importância que não tinha antes, a imagem do artista passou a ficar cada vez mais marcada na mente do público. Talvez por isso, os anos 80 sejam uma década de tantas cores, formas e visuais extravagantes.
Ironicamente, o visual da jovem Madonna foi fruto do improviso. Com pouca grana, a cantora compunha seu look com peças garimpadas em brechós. Seus cabelos cacheados com franja, sempre enfeitados com faixas, mix de bijuterias com crucifixos, total jeans e maquiagem colorida logo se tornaram sua marca registrada, e se traduzem até hoje como um retrato de moda da época.
Desde sempre levantando o debate a respeito da liberdade sexual da mulher, Madonna se apropriou como ninguém da ferramenta do figurino para gerar debate e levantar questionamentos. Em 1984, em sua apresentação no primeiro VMA, Madonna surgiu no palco com visual ‘noiva sexy’, com um cinto que dizia ‘Boy Toy’, para apresentar a música Like a Virgin. Precisa dizer o quanto aquilo foi provocativo e ousado para a sociedade da época?
Madonna sempre usou o poder do vestuário para demonstrar sua personalidade multifacetada e cheia de camadas, abraçando a sua sensualidade e rebeldia, e em outros momentos, evidenciando a sua beleza “Barbie”, como no figurino reinventado de Marylin Monroe, no clipe de Material Girl, de 1985.
No início dos anos 90, a cantora deixaria marcada para sempre a sua capacidade de se unir à moda para gerar um espetáculo ainda maior no palco e consolidar a sua imagem de ícone pop. Sua parceria com o designer de moda Jean Paul Gaultier, que criou para ela o espartilho com o sutiã cônico para a turnê BlondAmbition, foi um marco tanto para a moda quanto para a música, e colocou Madonna nos holofotes das grandes grifes.
A cada novo álbum e nova turnê, Madonna se reinventava e surgia com um visual completamente novo, que foi do girlboss ao cabalístico, passando por elementos das culturas indiana e oriental. Suas eras de ouro já foramcelebradas e revisitadasna moda atual. Em 2013, Jean Paul Gaultier recriou o visual da Madonna no início de carreira, em sua coleção ready-to-wear na Paris Fashion Week. A própria cantora mantém uma linha de roupas com sua filha, Lola, chamada Material Girl, que também já lançou coleções inspiradas em seu look clássico dos anos 80.
Além de ter sabido aproveitar o poder de uma imagem forte, Madonna foi, antes de tudo, uma mulher que abraçou a sua personalidade, enão teve medo de encarar as suas mudanças, tanto internas quanto externas. É muito simbólico que seus figurinos mais icônicos tragam elementos marcados historicamente por representarem a opressão feminina: a cruz, o vestido de noiva, o espartilho. Madonna apropriou-se desses objetos e de seus significados, e os transformou em armas para falar de liberdade sexual e igualdade de gênero.
Vale ressaltar que o debate proposto por ela sobretudo nas décadas de 80 e 90 se faz necessário ainda hoje, num momento em que o feminismo volta a ser pauta constante na sociedade. Além disso, os consumidores tem cobrado uma postura mais efetiva das marcas e estilistas a respeito das questões de gênero e do papel transformador da moda como agente de liberdade, e não aprisionamento do corpo. Madonna nunca esteve tão pop, e é um símbolo atemporal da mulher que não tem medo do seu poder e faz questão de estampá-lo em sua segunda pele, a roupa.