Mesmo com queda de casos e mortes, especialistas alertam que Brasil corre risco de repique da Covid
Dados da Fiocruz indicam que 10 estados e o DF têm taxas de ocupação de UTIs superiores a 90%
Foto: Reprodução/USP
Mesmo com a queda nos números de casos, mortes e internações por Covid-19 no Brasil, os especialistas dizem que não é hora de otimismo e alertam que, se a população abandonar os cuidados, pode haver um recrudescimento e situação ainda mais grave no mês de junho. A quarta-feira (28) foi o sexto dia de queda nas médias móveis de mortes, com -19% em relação a 14 dias atrás.
A média móvel de casos, que vinha caindo, apresentou estabilidade, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa. De acordo com um levantamento do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também divulgado nesta quarta aponta queda no número de casos, mortes e ocupação de leitos, mas mostra também que os valores permanecem em patamares críticos.
Segundo os pesquisadores que fizeram o levantamento, isso revela “uma tendência de ligeira queda, mas ainda não de contenção da epidemia”. O estudo mostra ainda que a taxa de letalidade mais que dobrou, de 2% no final de 2020 para 4,4% na semana de 18 a 24 de abril.
Para a equipe da Fiocruz, esse aumento estaria relacionado à sobrecarga dos hospitais e, apesar do menor número de mortes e casos, hospitais continuam lotados. Dez estados e o Distrito Federal têm taxas de ocupação de UTIs superiores a 90%, outros dez apresentam taxas entre 80% e 89%, quatro estão na zona de alerta intermediária (entre 60% e 80%) e apenas dois estados estão fora da zona de alerta.
Para Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista, a principal razão para a queda nos casos e mortes é a adoção de medidas restritivas por estados e municípios durante os meses de março e abril. "Quando veio aquela tsunami, muitas cidades fizeram um pseudolockdown. Depois de 14 dias a gente colhe os resultados", disse.
Com a flexibilização das restrições, o infectologista diz acreditar que as próximas semanas vão ser decisivas. Com base em dados do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, Barbosa traçou três possíveis projeções para o Brasil no dia 17 de junho. Sendo que no mais otimista (com restrições e máscaras), haveria 1.068 mortes/dia.
No cenário atual (com máscara e distanciamento, sem medidas restritivas), seriam 1.867 mortes/dia. Enquanto que no pior caso (baixa adesão às máscaras e ao distanciamento social), o número pode chegar a 3.165 mortes/dia, o que configuraria uma situação semelhante ou pior do que no pico da segunda onda.
"Há queda em função do que fizemos no passado recente e, se todos estão na rua, vamos ver um recrudescimento a seguir, com um monte de gente doente daqui a pouco. Estamos perto do Dia das Mães e isso pode ser um matricídio", diz o sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Gonzalo Vecina.
Na terça (27), um levantamento do Imperial College de Londres mostrou, pela primeira vez desde novembro, a taxa de transmissão (Rt) menor que 1, o que reforça a tendência de desaceleração do contágio. O índice do Brasil nesta semana foi de 0,96. Nos dois relatórios anteriores, estava em 1,06.
Para a epidemiologista e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Lucia Pellanda, as medidas de restrição tiveram efeito. "É hora de comemorar, mas não relaxar. Não acabou a pandemia, ainda temos níveis muito piores do que no pior momento de 2020", reforça.