Coronavírus

Militares da Marinha do Brasil estão em isolamento dentro do isolamento, na Antártica

Brasileiros estão em missão na Estação Comandante Ferraz, no único continente sem casos de covid-19

Por Da Redação
Ás

Militares da Marinha do Brasil estão em isolamento dentro do isolamento, na Antártica

Foto: Reprodução / Agência Brasil

O grupo de brasileiros em missão na nova Estação Antártica Comandante Ferraz estão no único continente livre da covid-19. Os 15 homens e uma mulher se dividem entre o alívio de estar longe da doença e a preocupação de ter de acompanhar a distância o que ocorre com parentes e amigos no Brasil. 

“É uma mistura de sentimentos”, resume o capitão de fragata Luciano de Assis Luiz, chefe da estação. “Fico alegre por mim e por minha equipe porque somos privilegiados por não ter contato com a doença, mas triste porque nossos familiares estão no Brasil vivendo isso e não temos como dar o aporte necessário.”

Luciano falou com o Estadão por videochamada na terça-feira da semana passada. Estava ao lado da médica e capitã-tenente Letízia Aurilio Matos. Ela conta que os pais são idosos e saíram do Rio por causa da pandemia. Uma prima – médica como ela – testou positivo para a covid-19 e está se tratando em casa. 

“Não é fácil não”, resume. “Ficar longe gera ansiedade. Mas a gente pede para a família falar a verdade. Está todo mundo bem realmente? Marco horário, faço reunião pelo computador e digo ‘quero ver tal e tal pessoa’. Porque às vezes eles querem nos proteger, dizer que está tudo bem, mas só ficamos aliviados quando vemos todo mundo. A gente se preparou para o isolamento, eles não.”

Os 16 militares brasileiros na Antártida compõem o chamado Grupo Base Ferraz. Eles desembarcaram na Ilha Rei George, onde fica a estação brasileira, em 4 de novembro de 2019 com a missão de permanecer ali até a primeira quinzena de dezembro deste ano. Ocuparam, a princípio, o Módulo Antártico Emergencial (MAE) até a inauguração oficial da estação, em 15 de janeiro. 

Por causa da covid-19, estão tendo de viver um isolamento dentro do isolamento. Em épocas normais, são comuns, por exemplo, as visitas à Estação Polonesa Henryk Arctowski, a mais próxima da base brasileira, distante cerca de nove quilômetros. Mas agora, por causa da pandemia, o contato com os vizinhos é só por vídeo ou WhatsApp. 

Dependendo da evolução da pandemia no Brasil, até a próxima Operação Antártica Brasileira (Operantar) pode ser afetada. “Caso seja encontrada uma vacina, uma cura, a Operantar poderá seguir sua programação normal. Mas, se fosse pegar a situação atual e levar para o final do ano, eu diria que a nossa operação será basicamente logística, de aporte de mantimentos e combustível para estação, mas reduzindo bastante as pesquisas”, diz o oficial. “Porque muitas pesquisas são realizadas nos navios e quanto mais pessoas no navio pior.”

Nem o frio que afasta tantos microrganismos da Antártida promete ter efeito sobre a doença. Letizia conta que pesquisas já identificaram outros vírus, como o H1N1, em fezes de aves na região. E ainda não é possível saber o estrago que a covid-19 poderia fazer por lá.
 

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