Na véspera do Dia Nacional da Mata Atlântica, Instituto e entidade reforçam importância de preservação do bioma
Mãos na Terra e SOS Vale Encantado explicaram que cenário demonstra gravidade na Bahia
Foto: Divulgação/PlantVerd
O Instituto Mãos na Terra (Imaterra) e o coletivo SOS Vale Encantado reforçaram nesta quinta-feira (26), em evento virtual, a importância de preservar a Mata Atlântica, cujo dia nacional é comemorado nesta sexta-feira (27). De acordo com as instituições, o bioma é alvo de desmatamento, o cenário é grave no Brasil e, principalmente, na Bahia. Dados da Fundação SOS Mata Atlântica apontam que a floresta é lar de 72% dos brasileiros e concentra cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
O bioma é necessário, portanto, para o desenvolvimento de serviços essenciais como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo. Atualmente, restam apenas 12,4% da floresta no Brasil. Com o objetivo de alertar a população e as autoridades governamentais sobre a necessidade de preservação, o evento realizou um giro por alguns postos avançados da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), um programa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para conservação e gestão compartilhada de áreas importantes para o mundo do ponto de vista ecológico.
Além disso, o evento reforçou a necessidade de conservação de fragmentos de floresta como a do Vale Encantado, localizado no bairro de Patamares, em Salvador. Em palestra, Margareth Maia, professora e pesquisadora do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (IBIO/UFBA), afirmou que a Bahia tem figurado na lista dos estados que mais desmataram a Mata Atlântica nos últimos anos. Com base nos dados do último Atlas da Mata Atlântica, a especialista disse que, hoje, Salvador conta com menos de 5% da vegetação original em seu território.
“A Mata Atlântica é um bioma presente em 17 estados. Quando a gente se refere a esse bioma é importantíssimo não esquecer que estamos nos referindo ao mapa da área de aplicação da lei da Mata Atlântica, que é uma marco instituído pelo decreto de 2008 e, portanto, abrange toda a zona costeira do nosso estado. Segundo dados do SOS Mata Atlântica de 2021, restam cerca de 130 milhões de hectares, o que corresponde a 12,4% dos remanescentes originários do país. Nesse contexto, a Bahia não anda muito bem”, afirmou Maia.
“Nós estamos posicionados em sétimo lugar, com 11,1% da mata original no nosso estado. Isso é o que nos resta. Em relação às unidades de conservação, a Caatinga se destaca em número percentual de bioma protegido. É pouquíssimo, mas ainda sim é superior à situação do Cerrado e da Mata Atlântica. Quando falamos em desmatamento no estado, no indicador, nós estamos péssimos. Há alguns anos a Bahia está entre os estados líderes de desmatamento, ficando revezando sempre com o primeiro e segundo lugar. Esse desmatamento, segundo os estudos, é via poder público. Nesse caso, acontece por meio de autorização do INEMA [Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos]”, completou.
Ainda no evento, Margareth Maia afirmou que o “cenário é bem crítico no estado”. “A supressão de vegetação nativa no estado da Bahia é uma política pública. Isso porque é o estado que está autorizando todo o desmatamento que o SOS pública todos os anos. Se tornou, portanto, uma política pública. Essa supressão não tem nenhuma relação com a redução das desigualdades sociais. Essa coisa de ‘para desenvolver, é preciso desmatar’ é uma falácia, não se sustenta por dado científico”, explicou Maia.
“A Bahia é um estado que desmata absurdamente como política de estado e isso não se reverte em melhorias de qualidade de vida e melhorias de indicadores socioeconômicos. A não implementação de planejamento por parte do estado e do município é um desafio. Então, nós temos desafios grandiosos, mas também temos oportunidades”, concluiu.
Reservas da Biosfera e Postos Avançados
Reserva da Biosfera é um título conferido à Mata Atlântica pela Unesco que reconhece a importância do bioma para o mundo e busca aumentar a participação na gestão e conservação do patrimônio natural e cultural, promoção de pesquisa e do desenvolvimento sustentável. Existem 7 áreas reconhecidas como Reservas da Biosfera no Brasil e a da Mata Atlântica é a maior e mais complexa, pois abrange praticamente toda a área do bioma, cruzando 17 estados.
Os postos avançados são locais onde esses atributos são evidentes, por isso são conhecidos como as vitrines das Reservas da Biosfera, centros de divulgação das ideias, conceitos, programas e projetos desenvolvidos pela Reserva. O título é concedido por 4 anos a locais onde ao menos dois dos 3 seguintes atributos sejam praticados exemplarmente: conservação, desenvolvimento sustentável e conhecimento tradicional e científico.