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'Não tem como definir a minha dor', diz mãe de Marielle Franco durante julgamento

A mãe da vereadora disse ter feito questão de comparecer e depor para que todos conhecessem a vida pessoal da vereadora

Por FolhaPress
Ás

'Não tem como definir a minha dor', diz mãe de Marielle Franco durante julgamento

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco (PSOL), afirmou nesta quarta-feira (30) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que não tem como definir a dor que sentiu ao ter a filha assassinada.

Ela é a segunda testemunha a depor no julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos pelo crime, a quem chamou de "covardes".

"Quem sou eu para questionar? Os propósitos de Deus, eu não estou aqui para questionar. Não criei ódio no meu coração. Tem tristeza e revolta. Mas, na minha formação católica, quem sou eu para questionar? Deus não queria isso. Mas o livre arbítrio daqueles homens, daqueles covardes, foi o que eles fizeram", disse ela.

Marinete contou sobre a vida e a criação da filha no Complexo da Maré. Disse que ela começou a trabalhar aos 11 anos para contribuir com a renda da casa, além de cuidar da irmã mais nova, a hoje ministra Anielle Franco (PSOL).

"A gente primava pela educação, pela sabedoria que ela tinha desde muito nova. Por tudo que a gente se dedicou desde o dia que essa menina chegou ao mundo", disse Marinete.

"Marielle muito nova já sentia muita vontade de ser aquela menina que ia se destacar. Mesmo pequena, ela não queria ser aluna ou a menina que tomasse como uma outra qualquer. Queria ser a professora, a mãe."

A Promotoria exibiu cena do documentário da Globoplay sobre Marielle que mostra uma mensagem de Marinete ao número da vereadora 45 dias após a morte.

"Minha filha! O que fizeram com você?", escreveu a mãe.

O Ministério Público também apresentou mensagens de áudio trocadas entre Marielle e Marinete, a fim de demonstrar a relação próxima da ex-vereadora com a família.

A filha Luyara e a irmã Anielle choraram e se abraçaram por alguns minutos enquanto as mensagens eram apresentadas no telão.

A mãe da vereadora disse ter feito questão de comparecer e depor para que todos conhecessem a vida pessoal da vereadora, que se tornou símbolo ao redor do mundo.

"Eu não podia deixar de estar aqui. Não. Porque as pessoas não sabem. Sabem da Marielle como símbolo, sabem da Marielle como parlamentar, sabe como a guerreira que ela era. Mas não sabem que foi e quem era a família da Marielle", disse ela.

"Falar o quanto a minha filha faz falta... o que fez falta nesses seis anos e sete meses. Não tem como definir a minha dor. Não tem como definir o que passei esses anos. Passei por um câncer, tive quatro cirurgias e estou aqui hoje para dizer o quanto é importante dentro da minha vida e da minha família dizer que a Marielle fez falta como mãe. [...] A minha dor não tem nome. Não tem como alguém mensurar o que é isso. Estou aqui para pedir justiça para Marielle e Anderson."

Antes de Marinete, a jornalista Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle, prestou depoimento. Outras cinco testemunhas ainda serão ouvidas a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro. Mais duas foram selecionadas pela defesa de Ronnie Lessa.

O júri começou às 10h30 e deve se estender pela quarta (30) e a madrugada de quinta-feira (31). Ao todo, 21 pessoas comuns, sendo sete homens, foram sorteados para compor o júri. Os jurados ficarão incomunicáveis e vão dormir dentro do Tribunal de Justiça.

Lessa, preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e, Élcio, no Centro de Inclusão e Reabilitação em Brasília, serão ouvidos por videoconferência. Os dois firmaram acordo de delação e confessaram o crime.

O Ministério Público do Rio vai pedir pena máxima aos réus, que pode chegar a 84 anos de prisão. O acordo de Lessa prevê o cumprimento de pena em regime fechado até março de 2037. A reunião das penas nos 12 processos a que ele responde será feita pelo juízo de execução penal. Os detalhes do contrato de Élcio não são de conhecimento público.

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão e o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa são réus no STF (Supremo Tribunal Federal), sob acusação de planejarem a morte da vereadora. Ele foram apontados como mandantes na delação de Lessa. Todos negam o crime.
 

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