Nunes diz que Enel mente e pede intervenção federal
Segundo o prefeito, ontem a concessionária não tinha nem 40 veículos nas ruas da capital paulista

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou que considera necessária uma intervenção do Governo Federal na Enel. Mais de 50 horas depois do vendaval que atingiu a Grande São Paulo, mais de 700 mil imóveis estão sem energia, segundo o boletim publicado pela concessionária às 10h.
Nunes disse que Enel mente ao afirmar que tem 1500 equipes em campo. Segundo o prefeito, ontem a concessionária não tinha nem 40 veículos nas ruas da capital paulista. "Estou na rua direto, não tem essas 1500 equipes. Nós pegamos os dados das placas dos veículos que a Enel diz que tem, colocamos no SmartSampa e essas placas não aparecem circulando em nenhum local da cidade de São Paulo", declarou em entrevista à CBN.
O prefeito lembrou que há 48 árvores caídas há mais de 70 horas na cidade. "Estamos esperando a Enel vir desligar a energia para a árvore ser removida, porque há o risco de energizar algum funcionário". Para ele, se fosse verdade a informação de que há mais de 1000 equipes nas ruas, o serviço de energia já teria sido reestabelecido.
Falta de equipes da Enel dificulta o reestabelecimento de energia elétrica em São Paulo. "O que nós estamos fazendo é essa pressão por uma empresa que infelizmente não tem tido condições de atender as demandas da cidade. A gente sabe que cada vez que tiver um vento, uma chuva, nós vamos passar por isso. Então, a gente precisa deixar claro que essa empresa não tem como mais continuar em São Paulo", disse o prefeito.
Ricardo Nunes defendeu que o Governo Federal encerre o contrato com a Enel. "A gente gostaria que o Governo Federal fizesse a intervenção na Enel, começasse o processo de caducidade, iniciasse o processo de contratar uma empresa que tenha a capacidade de atender as demandas da cidade de São Paulo. Essa empresa mente, não tem gente e não pode mais continuar aqui", criticou.
A concessão, fiscalização e regulação da energia é feita pela União. O contrato da distribuidora vence em 2028, mas a Enel quer prorrogar o acordo por mais 30 anos e aguarda a decisão do Governo Federal. O governo e a prefeitura são contrários à renovação e apontam falhas recorrentes e lentidão no restabelecimento da energia.
A reportagem procurou a Enel para um posicionamento sobre as declarações do prefeito e aguarda retorno.
"Como essa empresa está prestando um atendimento muito ruim na cidade, obviamente, nós temos que pedir ao Governo Federal que tire essa empresa daqui e traga uma outra empresa boa, como aconteceu em Goiás. Inacreditavelmente, o ministro de Minas e Energia estava querendo antecipar a renovação que vai vencer em 2028", disse Ricardo Nunes à CBN.
O UOL procurou o governo federal para um posicionamento sobre a renovação do contrato da Enel. Em caso de manifestação, o texto será atualizado.
TARCÍSIO AFIRMOU QUE ENTRARÁ NA JUSTIÇA CONTRA RENOVAÇÃO DA ENEL EM SÃO PAULO
Em setembro deste ano, o governador de São Paulo disse que situação seria um "absurdo". O estado vai protocolar ação "com certeza", disse Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele afirmou que a Enel "não atende o cidadão" e se escora nos termos do atual contrato para não fazer novos investimentos, o que aumenta os problemas a cada evento climático. Tarcísio questionou também a falta de sinais de preparativos para uma nova licitação.
Governador lembrou que contrato da empresa é com o Governo Federal. Isso é um dos principais empecilhos para que ele e a Prefeitura de São Paulo ajam mais incisivamente em relação aos problemas. Na última segunda-feira, uma chuva deixou mais de 500 mil pessoas sem energia na região metropolitana de São Paulo.
Intervenção na Enel é apontada como caminho possível por Tarcísio. Segundo ele, uma medida do tipo permitiria "entrar no caixa da empresa para fazer contratação de pessoal". Outra possibilidade aventada foi a divisão da área da Enel entre mais companhias, para otimizar investimentos e acelerar respostas.
Nesta quinta-feira (11), o governador voltou a criticar o contrato. De acordo com Tarcísio, trata-se de um convênio muito antigo, contrato que tem uma determinada facilidade de se alcançar indicadores.
Nesse sentido, Tarcísio não deixou de atribuir a responsabilidade pela questão da Enel ao governo federal. Segundo o governador, foram feitas sugestões de medidas regulatórias ao ministério e à Aneel. Ele também relembrou que já convocou um dos relatores de processos encaminhados no Tribunal de Contas da União para uma reunião com prefeitos de municípios afetados.
O QUE DIZ A ENEL
A Enel informa que restabeleceu o fornecimento de energia para cerca de 1,8 milhão de clientes, dos 2,2 milhões afetados por um ciclone extratropical. Outros cerca de 500 mil novos casos ingressaram ao longo do dia de ontem com solicitação de atendimento, em decorrência da continuidade dos ventos pela manhã. No momento, a companhia trabalha para restabelecer o serviço para cerca de 830 mil clientes (9,8% da base da distribuidora).
A concessionária afirmou que as rajadas alcançaram 98 km/h, provocaram a queda de árvores e lançaram galhos e outros objetos sobre a rede elétrica. "O evento climático causou danos severos à infraestrutura elétrica, afetando o fornecimento em diversas regiões. Para acelerar a recomposição do sistema, a distribuidora tem mobilizando cerca de 1.600 equipes em campo ao longo do dia", disse em nota.
"A Enel reforça que suas equipes seguem comprometidas com a operação de atendimento a emergências. Em algumas localidades, o restabelecimento é mais complexo, porque envolve a reconstrução da rede, com substituição de postes, transformadores e, por vezes, recondução de quilômetros de cabos. Para atender situações prioritárias, a companhia conta com 700 geradores. A Enel São Paulo reforça que seguirá trabalhando até restabelecer a energia para todos os clientes afetados pelos efeitos do ciclone", disse a Enel.


