Padre Júlio Lancellotti critica pedido de CPI por atuação na Cracolândia: 'forma de perder o foco'

O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, respondeu nesta quinta-feira (4) ao pedido de CPI na Câmara Municipal de São Paulo, referente ao trabalho social realizado com pessoas em situação de rua no Centro da capital paulista. Em entrevista à GloboNews, o padre ironizou a iniciativa do vereador Rubinho Nunes (União Brasil) e enfatizou que criminalizar o trabalho com a população de rua e dependência química desvia o foco da verdadeira questão da Cracolândia.

"A lógica é de quem está do lado dos indesejados, vai ser indesejado. Acho que criminalizar algumas pessoas sempre é uma forma de não enfrentar o problema do tamanho que ele é. A gente criminaliza, ofende e trata de uma forma negativa a pessoa, a gente tira o foco da questão. A questão que nós temos que enfrentar é como lidar com a dependência química, com as cenas de uso, com essa questão que é tão grave no Centro de São Paulo e de outras cidades", declarou o padre Lancellotti.

O coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo destacou que a proposta de CPI é resultado do acirramento da polarização política em ano eleitoral e da influência da especulação imobiliária e empreiteiras na Câmara Municipal. Ele ressaltou que a crescente criminalização de alguns movimentos e entidades visa desviar a atenção da questão central da Cracolândia.

"Aumentou com todas as ações que o Poder Público faz na Segurança Pública na questão da chamada Cracolândia. Nada diminui. Só aumenta. Então, essa criminalização é uma forma de perder o foco. E ela se tornou aguda porque nós não conseguimos enfrentar o problema do tamanho que ele é. Nós ficamos no efeito e não vamos para as causas. Qual é a causa de tudo isso? Por que existe tudo isso?", questionou o padre.

Em nota, a Arquidiocese de São Paulo manifestou repúdio à proposta de CPI e reiterou a importância do trabalho desenvolvido pelo Padre Júlio Lancellotti ao longo das décadas. O texto destaca o papel fundamental do padre na coordenação, articulação e animação dos serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade.

O pedido de CPI foi protocolado em dezembro de 2023 pelo vereador Rubinho Nunes, ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). Em seu requerimento, Nunes alega a necessidade de investigar as ONGs que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários na região da Cracolândia. A Mesa Diretora da Câmara informou que o tema será tratado no Colégio de Líderes em fevereiro, quando ocorre o retorno do recesso parlamentar.