Pandemia da Covid-19 aumenta casos colesterol alto em crianças
Pediatra afirma que cada vez mais é importante manter a alimentação saudável em família e promover a prática de exercícios
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A pandemia da Covid-19 mudou a vida de todos, inclusive das crianças. Há mais de um ano, os pequenos estão enfrentando o isolamento social, aulas remotas, cada dia mais distantes das brincadeiras ao ar livre e das atividades físicas. A nova realidade é o entretenimento com as telas dos celulares, tablets e o computador.
Com essa mudança na rotina diária, houve um aumento nos casos de colesterol alto nas crianças. Especialistas afirmam que o colesterol em criança e adolescentes deve ser inferior a 170mg/dL.
O Farol da Bahia entrevistou a Pediatra e Gastropediatra, Dra Juliana Dórea Pereira de Bulhões, que falou dos riscos que esse aumento pode acarretar para os pequenos.
Confira:
Farol da Bahia: Pesquisa indica que houve aumento nos casos de colesterol alto nas crianças durante a pandemia. O que pode ter acarretado esse aumento?
Juliana Bulhões: Desde março de 2020, a rotina de todas as famílias brasileiras foi totalmente modificada devido a pandemia causada pelo COVID-19. Acredito que faltou desde o início pararmos e perguntarmos: Quais as consequências desse isolamento prolongado para nossas crianças? São exatos 13 meses dentro de casa, sem frequentar escola, sem realizar atividades físicas, com alta exposição a telas de computador, cenário esse que culmina em ansiedade, stress, erros alimentares graves, e, consequente, ganho de peso gerando um aumento da obesidade infantil.
FB: Quais os riscos que as crianças correm com esta taxa alta?
JB: Altas taxas de colesterol sanguíneo podem gerar aterosclerose (depósitos de colesterol nas paredes das artérias). Esse processo pode ter início na faixa etária pediátrica e culminar em infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (popular “derrame”) no adulto. Geralmente, esse depósito nas artérias pode ser ainda mais acentuado em pacientes com obesidade, diabetes ou hipertensão arterial. O acompanhamento pediátrico tem como um dos pilares evitar que essas doenças crônicas se instalem e assim reduzir a morbidade e mortalidade no adulto.
FB: O que você recomenda para evitar este aumento?
JB: Na faixa etária pediátrica temos como principal causa de hipercolesterolemia dieta rica em gordura, sedentarismo e excesso de peso. Como podemos perceber é um fator ligado ao outro. É importantíssimo ter uma dieta saudável, realizar atividade física regular e acompanhamento com pediatra regular. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a dosagem do perfil lipídico em crianças saudáveis entre 9-11 anos de vida. Nas crianças com obesidade, diabéticas ou com história familiar de dislipidemia esses exames devem ser coletados entre 2-8 anos. O diagnóstico precoce possibilita um controle e redução dos riscos na fase adolescente e adulta.
FB: A ansiedade pode ser um fator que acarretou esse aumento?
JB: Sem dúvida alguma! Com a rotina restrita em casa, crianças sem aulas presenciais, sem atividade física estou vendo em consultório comportamentos como ansiedade, insônia, stress e em alguns casos até depressão. Temos que trazer essa discussão e olhar para nossas crianças nesse momento.
FB: O aumento do colesterol ruim está associado a má alimentação. Qual seria a alimentação ideal para quem está passando por este problema?
JB: Alimentação ideal para qualquer criança deve ser evitando ao máximo gorduras/frituras e alimentos ultraprocessados. Não ter em casa guloseimas como biscoito recheado, salgadinhos e chocolates. Estimular o consumo de frutas, legumes, hortaliças e ingestão de água. E lembrar de envolver toda a família nesse hábito alimentar saudável.
FB: O que você diria aos pais que estão passando por esta situação?
JB: Primeiro passo é procurar um pediatra para avaliar a criança, averiguar hábitos alimentares, sono, atividade física, rotina da família. Muito importante ter o máximo de critério ao realizar compras de alimentos evitando industrializados e ultraprocessados. Estimular atividades físicas ao ar livre (caminhadas, andar bicicleta, patins, nadar...) de forma regular tomando os cuidados impostos pela pandemia. Em conjunto família-pediatra-nutricionista essa situação pode ser resolvida.