Pandemia da Covid-19 pode ter acelerado em 50% o declínio cognitivo em adultos a partir dos 50 anos, aponta estudo
Pesquisadores britânicos alertam para impacto na saúde do cérebro e apontam fatores de risco

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Um novo estudo publicado na revista científica The Lancet Healthy Longevity está lançando luz sobre o impacto da crise de saúde da Covid-19 na cognição de adultos a partir dos 50 anos. Pesquisadores da Universidade de Exeter e do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociências do King's College London (IoPPN) no Reino Unido conduziram a pesquisa e descobriram que houve um declínio 50% mais acelerado das funções cognitivas durante o primeiro ano da pandemia.
Os cientistas utilizaram dados do estudo PROTECT, um projeto a longo prazo que envolve testes cognitivos computadorizados anuais, que avaliam habilidades lógicas, resolução de problemas e memória. O estudo selecionou 3 mil voluntários, com idades entre 50 e 90 anos, residentes no Reino Unido.
Os pesquisadores compararam os dados coletados antes da pandemia, de março de 2019 a fevereiro de 2020, com informações obtidas nos dois primeiros anos da pandemia: de março de 2020 a fevereiro de 2021 e de março de 2021 a fevereiro de 2022.
Os resultados destacaram um aumento na taxa de declínio cognitivo em todo o grupo durante o primeiro ano da pandemia, independentemente de terem ou não sido infectados pela Covid-19. O ritmo do declínio foi 50% mais rápido, com uma aceleração ainda maior entre aqueles que já apresentavam comprometimento cognitivo leve antes do surgimento do novo coronavírus.
No segundo ano da pandemia, os cientistas observaram que a tendência de aceleração continuou, o que levanta preocupações importantes para as políticas públicas de saúde.
Anne Corbett, professora de pesquisa sobre demência e líder do estudo PROTECT na Universidade de Exeter, afirma: "Nossas descobertas sugerem que os bloqueios e restrições experimentados durante a pandemia tiveram um impacto real e duradouro na saúde do cérebro em pessoas com 50 anos ou mais, mesmo após o término dos confinamentos, o que levanta a importante questão de saber se as pessoas estão em risco de declínio cognitivo potencialmente mais alto, o que pode levar à demência".
Além disso, o estudo identificou uma forte associação entre um declínio cognitivo mais rápido e quatro fatores: redução de exercícios físicos, aumento no consumo de álcool, diagnóstico de depressão e sensação de solidão.
Dar Aarsland, professor de psiquiatria para idosos do IoPPN no King's College London, ressalta que, apesar dos riscos, há maneiras de evitar essa perda: "Há evidências de que mudanças no estilo de vida e uma melhor gestão da saúde podem influenciar positivamente o funcionamento mental. O estudo atual sublinha a importância do monitoramento cuidadoso de pessoas em risco durante grandes eventos como a pandemia".
Um estudo recente da Universidade de Oxford destacou que 40% dos casos de demência estão associados principalmente a 11 fatores, sendo oito deles modificáveis para reduzir o risco, como educação, histórico de diabetes, depressão, pressão alta e estilo de vida.