Pantanal pode ter crise hídrica histórica em 2024, aponta estudo
Bioma está cada vez mais seco e registra baia cobertura de água até no período de cheia
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Pantanal enfrenta desde 2019 o período mais seco das últimas quatro décadas e a tendência é que no ano 2024 seja registrada a pior crise hídrica já observada no bioma, de acordo com estudo da empresa especializada ArcPlan, divulgado nesta quarta-feira (3).
Os resultados apontam que, nos primeiros quatro meses deste ano, quando deveria ocorrer o ápice das inundações, a média de área coberta por água foi menor do que a do período de seca de 2023.
Na Bacia do Alto Rio Paraguai, onde se situa o Pantanal, a estação chuvosa ocorre entre os meses de outubro e abril, e a estação seca, entre maio e setembro. De acordo com o estudo, entre janeiro e abril de 2024, a média da área coberta por água foi de 400 mil hectares, em pleno período de cheias, abaixo da média de 440 mil hectares registrada na estação seca de 2023.
O estudo foi encomendado pelo WWF-Brasil e financiado pela WWF-Japão. O diferencial em relação a outras análises baseadas em dados de satélite é o uso de dados do satélite Planet. “Pudemos mapear a área que é coberta pela água quando os rios transbordam. Ao analisar os dados, observamos que o pulso de cheias não aconteceu em 2024. Mesmo nos meses em que é esperado esse transbordamento, tão importante para a manutenção do sistema pantaneiro”, ressaltou Helga Correa, especialista em conservação e uma das autoras do estudo.
De acordo com os autores do estudo, os resultados apontam uma realidade preocupante: o Pantanal está cada vez mais seco, o que o torna mais vulnerável, aumentando as ameaças à sua biodiversidade, aos seus recursos naturais e ao modo de vida da população pantaneira.
A nota técnica traz uma série de recomendações como mapear as ameaças que causam maiores impactos aos corpos hídricos do Pantanal, considerando principalmente a dinâmica na região de cabeceiras; fortalecer e ampliar políticas públicas para frear o desmatamento; restaurar áreas de Proteção Permanente (APPs) nas cabeceiras, a fim de melhorar a infiltração da água e diminuir a erosão do solo e o assoreamento dos rios, aumentando a qualidade e a quantidade de água tanto no planalto quanto na planície, e apoiar a valorização de comunidades, de proprietários e do setor produtivo que desenvolvem boas práticas e dão escala a ações produtivas sustentáveis.
De acordo com a especialista em conservação do WWF-Brasil, diversos estudos já indicam que o acúmulo desses processos degradação, acentuados pelas mudanças climáticas, pode levar o Pantanal a se aproximar de um ponto de não retorno.