Pela primeira vez, Brasil não atinge meta de crianças no ensino fundamental
Esse é o menor percentual desde o início da série histórica da Pnad Educação, em 2016.
Foto: Joédson Alvez | Agência Brasil
Pela primeira em oito anos, o Brasil não alcançou a meta de ter 95% das crianças e adolescentes de 6 a 14 anos matriculadas no ensino fundamental (do 1º ao 9º ano), etapa escolar adequada para essa faixa etária.
Segundo os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) Educação, divulgada nesta sexta-feira (22) pelo IBGE, em 2023 o país tinha 94,6% da população dessa idade frequentando o ensino fundamental.
Esse é o menor percentual desde o início da série histórica da Pnad Educação, em 2016. O relatório da pesquisa aponta preocupação, já que houve queda de crianças matriculadas na etapa correta em todas as regiões do país, com exceção do norte.
"A análise da série desse indicador mostra que sua estimativa registrava percentual superior a 95% de 2016 até 2022, entretanto, com essa retração ao menor nível da série (em 2023), o indicador passou a ficar abaixo da meta preconizada pelo PNE [Plano Nacional de Educação]", diz o documento.
O maior percentual alcançado pelo país nesse indicador foi registrado em 2018, quando 97,4% das crianças e adolescentes dessa faixa etária estavam no ensino fundamental. A partir desse ano, a proporção começou a cair.
Outra pesquisa, publicada na última segunda-feira (18), já apontava para os problemas de frequência escolar nessa etapa educacional. Segundo um estudo feito pela Fundação Itaú, 48% dos estudantes brasileiros não conseguem terminar o ensino fundamental na idade certa, ou seja, até os 15 anos.
Eles não conseguem concluir a trajetória regular nessa etapa por sofrerem intercorrências como reprovação, evasão ou abandono escolar.
"O Censo Escolar 2023 nos trouxe algumas pistas dos problemas que estão ocorrendo nessa etapa de ensino. Durante a pandemia, a taxa de abandono escolar nos anos finais do ensino fundamental [do 6º ao 9º ano] cresceu e não melhorou no pós-pandemia", diz Jhonatan Almada, membro da Rede de Especialistas em Política Educativa da Unesco.
Ele destaca o aumento da população vivendo em situação de pobreza e miséria no Brasil, como um dos possíveis fatores para o abandono escolar. "A situação de extrema pobreza está relacionada ao trabalho infantil, que voltou a crescer no país. Precisamos de políticas multiarticuladas para manter essas crianças na escola."