Pela primeira vez na história, Censo Demográfico inclui comunidades quilombolas na pesquisa
Estudo de 2022 também traz maior detalhamento dos povos indígenas

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O período de pesquisa do Censo Demográfico 2022 segue até o próximo dia 31 de outubro. O estudo passa por todos os domicílios brasileiros, para traçar um perfil da população, levando em conta diversos aspectos, como raça/cor, escolaridade, renda e outros.
Neste ano, duas novidades vão tornar o estudo ainda mais abrangente: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela realização do levantamento, incluiu comunidades quilombolas nas entrevistas e, nas terras indígenas, passou a fazer os questionamentos com os líderes das aldeias antes de coletar os dados nas moradias.
De acordo com a primeira parcial sobre a pesquisa divulgada pelo IBGE, na terça, 30, a Bahia aparece, até o momento, como o estado com maior população quilombola no país (116.437 mil pessoas), além da segunda maior comunidade indígena (81.992 mil).
O Farol da Bahia conversou com a coordenadora de divulgação do Censo na Bahia, Mariana Viveiros, para entender os detalhes das alterações.
Farol: O que muda com a inclusão?
Mariana: O Censo já trazia dados da população indígena desde 1991, tanto para traçar cor/raça, quanto para mapear territórios. A pesquisa sobre esse grupo foi sendo ampliada e agora volta em 2022 com um detalhamento ainda maior, porque agora nossas equipes fazem um questionário específico para o líder da aldeia, para que ele fale um pouco sobre as condições de vida no local. Não é um questionário domiciliar, como o que a gente faz posteriormente nas moradias indígenas. Além disso, a gente incluiu pela primeira vez as comunidades que se autodeclaram quilombolas. Para isso, nós precisamos formular uma logística diferente das visitas.
Farol: E como foi essa adaptação na forma de coletar os dados para os quilombolas?
Mariana: Nessas comunidades as equipes estão fazendo necessariamente uma reunião de abordagem, que é um encontro com representantes de cada local para apresentar o Censo, explicar como é feito, a importância dele, saber se é preciso de algum apoio para fazer a coleta, e organizar como serão realizadas as visitas. Essa conversa é fundamental, porque os quilombolas, assim como os indígenas, têm uma lógica de convivência específica e que é muito importante que o IBGE respeite. A gente tomou o cuidado de não entrar nesses locais de forma autoritária e arbitrária.
Farol: Qual é a importância desse aprofundamento dos dados sobre povos indígenas e da inclusão das comunidades quilombolas?
Mariana: São populações menores, marginalizadas, que só o Censo consegue captar de forma confiável, para identificar características, desafios, demandas. Esse mapeamento é fundamental para a criação ou reformulação de políticas públicas para melhorar a vida deves povos.
Farol: O IBGE já tem planos de incluir outras comunidades que ainda não fazem parte da pesquisa?
Mariana: Nas discussões que tivemos para fazer a inclusão dos quilombolas, estudamos a possibilidade de coletar dados nas populações ribeirinhas, caiçaras. Debatemos também sobre os ciganos, que são uma demanda existente, mas ainda difícil de mapear, porque são grupos que estão, muitas vezes, em movimento. Só que ainda não temos nada concreto. Existe um desafio metodológico, que precisa passar, inclusive, pelo reconhecimento de fóruns internacionais, mas a gente espera que em 2030, no próximo Censo, a gente consiga ampliar um pouco esse escopo.