Pela primeira vez na história uma mulher vai reescrever a Constituição chilena
Junto com outros 154 integrantes, a advogada Amaya Alvez passará entre nove meses e um ano elaborando o novo documento

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
A advogada e professora de direito Amaya Alvez, de 50 anos, será a responsável por reescrever a Constituição do Chile, escrita na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). O regime durou 17 anos e deixou 40 mil tornuradores e mais de 3 mil mortos, segundo relatórios. As informações são da revista Marie Claire.
“O Chile alcançou altos índices de crescimento econômico que escondiam profundas dores da sociedade”, explica em entrevista à Marie Claire. “A desigualdade aumentou e nos converteu em um dos países mais desiguais do continente e do mundo. A natureza sofreu consequências de políticas extrativistas, o que gerou uma crise de água [privatizada no país durante a ditadura militar] e zonas do país destinadas ao sacrifício ambiental, provocando também uma crise na saúde das pessoas”.
Nascida em 1971, Amaya passou a infância sob a ditadura de Pinochet. Apesar da pouca idade, os pais jornalistas contavam a ela da situação que o país vivia. Na adolescência começou a ler e se informar por conta própria sobre as violações cometidas. “Éramos um país dividido, censurado e com profundas feridas que ainda não cicatrizaram. Principalmente por não termos alcançado verdade e reparação às vítimas daquele período”, comenta.
Como alteração na Carta Magna, a advogada propõe a retirada do mercado privado em áreas como saúde, educação e moradias - o que passariam a ser públicos. A professora também prega por uma Constituição com perspectiva de gênero “que se proponha a superar esse modelo que historicamente viola e invisibiliza as mulheres, para assegurar um que consagre nosso direito a vivermos livres de violência, garanta nossos direitos sexuais e reprodutivos, reconheça os trabalhos doméstico e do cuidado, e assegure igualdade e paridade em todos os aspectos políticos e sociais”.
Os 155 integrantes do grupo passarão entre nove meses e um ano elaborando a nova Constituição. O texto será submetido à aprovação da população por meio de um plebiscito, no ano que vem.