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Bahia

Pesquisa aponta que filhos de famílias pobres têm só 2,5% de chance de chegar ao topo no Brasil

As minorias sociais também sofrem mais dificuldades em ascensão

Por Da Redação
Ás

Pesquisa aponta que filhos de famílias pobres têm só 2,5% de chance de chegar ao topo no Brasil

Foto: Marcello Casal/ Agência Brasil

Uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mostra que as desigualdades sociais, regionais e de renda no Brasil contribuem para perpetuar uma estrutura de baixa mobilidade social no país. Metade dos filhos de pais situados entre os 20% mais pobres do Brasil permanece no mesmo grupo de renda quando adultos.

Enquanto a metade dos filhos dos 20% mais ricos se mantém no topo.  Apenas 2,5% dos que conseguem escapar da pobreza e atingir o topo da estrutura social e de renda em uma única geração. 

As minorias sociais também sofrem mais dificuldades em ascensão. Mulher, preto ou pardo diminui as chances, assim como viver nas regiões Norte e Nordeste, segundo os resultados encontrados pelos pesquisadores.

"Uma parte do Brasil sustenta o discurso de que se você se esforçar na vida, você se dá bem. O estudo coloca uma interrogação nisso", diz o economista Breno Sampaio, um dos autores. "Somos uma sociedade bastante desigual em termos de oportunidade. O esforço não significa sucesso."

A pesquisa foi desenvolvida por Diogo Britto, Alexandre Fonseca, Paolo Pinotti, Breno Sampaio e Lucas Warwar por meio do Gappe (Grupo de Avaliação de Políticas Públicas e Econômicas) da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), em parceria com a unidade de análise econômica do crime da Universidade de Bocconi, na Itália.

O estudo usou dados de diversas fontes, como Censo Demográfico, Rais (Relação Anual de Informações Sociais), Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e o Cadastro Único de programas sociais.

Pela primeira vez no Brasil, os pesquisadores também tiveram acesso a registros administrativos da Receita Federal sobre a renda da população. As informações foram usadas sob supervisão do Fisco, para assegurar a manutenção do sigilo fiscal.

Esse acesso garantiu uma amostra de dados ampla. 1,3 milhão de pessoas nascidas entre 1988 e 1990, bem como seus respectivos pais —as conexões foram estabelecidas graças ao cruzamento das bases de dados. A partir daí, os técnicos observaram os rendimentos de cada um deles para analisar a mobilidade entre uma geração e outra.

O estudo analisa dois conceitos de mobilidade social, a relativa e a absoluta. A mobilidade relativa compara a situação de crianças que nasceram em pontos diferentes da distribuição de renda e serve para medir o chamado efeito permanência —isto é, se o rico permanece rico enquanto o pobre continua pobre.

Assim, um dos resultados mostra que, se a distribuição de renda no Brasil fosse medida em uma escada com 100 degraus, uma família que começasse na posição 25 demoraria sete gerações para chegar ao mesmo patamar de uma família que se encontrava no degrau 75.

O levantamento também traz as probabilidades de se manter rico ou pobre, ou mudar sua posição social. Os filhos de pais que estão entre os 20% mais pobres têm 46,1% de chance de permanecer nesse grupo, mas só 2,5% de subir ao topo. Os dados são ainda piores quando distinguidos por raça: crianças pretas ou pardas têm 52,8% de permanecer na pobreza, percentual que cai a 33,7% para brancas.

Já os filhos de pais que estão entre os 20% mais ricos têm 48,5% de chance de permanecer no topo e só 4% de cair para a base da pirâmide. Ser branco amplia a probabilidade de manter a riqueza para 54,1%, enquanto ser preto ou pardo aumenta a chance de migrar para a pobreza para 5,7%.

Os achados indicam que o patamar de renda dos filhos guarda uma relação de dependência elevada com o nível de renda dos pais. Em uma sociedade menos desigual e com mais mobilidade, essa conexão seria menor, enquanto o esforço, o mérito e a qualificação do indivíduo teriam mais peso na equação.

"Existe uma loteria no nascimento. As crianças que tiveram a sorte de nascer em famílias com pais mais ricos estão, em média, se dando muito melhor do que aquelas que nasceram com pais mais pobres. Isso é um mau sinal para se pensar em meritocracia", diz o pesquisador Diogo Britto.

Os resultados também permitem fazer uma comparação internacional. Enquanto no Brasil a chance de subir da base para o topo é de 2,5%, esse percentual é bem maior nos Estados Unidos (7,5%), na Itália (11,2%) e na Suécia (15,7%).

Com informações do Folha de S, Paulo. 

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