Pesquisa mostra impactos do cérebro contra o estresse do isolamento
Neurocientistas argentinos alertam que a solidão vem afetando os jovens
Foto: Reprodução/ BBC
Além dos desafios da crise provocada pelo novo coronavírus (Covid-19) que atingem o Brasil, profissionais de saúde mental também analisam os impactos que são despertados no cérebro humano e, em consequência no comportamento das sociedades. Há semanas, o neurocientista argentino Facundo Manes, fundador do Instituto de Neurociências da Universidade Favaloro, em Buenos Aires, e presidente honorário da fundação INECO para pesquisas em neurociências trabalha para encontrar respostas. Ele acredita que o mundo enfrenta mundanças forçadas e "que talvez, sem que percebamos, deixarão marcas em nossas vidas".
Em entrevista ao GLOBO, Manes afirmou que todas as pandemias do mundo alteraram as interações sociais. "Sem dúvidas, a pandemia causará dor e sofrimento. Mas temos de confiar em que isso vai terminar, como terminou outras vezes, com o ser humano derrotando o vírus. Tenho certeza que a investigação científica e a saúde vencerão", disse o neurocientista.
Além dele, a pesquisa também conta com o argentino Fernando Torrente, diretor do instituto fundado por Manes e reitor da faculdade de Ciências da Conduta da Universidade Favaloro. Ambos são uma referência em matéria de estudos do cérebro no país e no continente. Manes e Torrente são otimistas, embora reconheçam que a pandemia terá um custo humano ainda desconhecido. Lembraram ainda que o cérebro tem diversas ferramentas para lidar com este tipo de situação de estresse extremo, e uma delas é justamente a resiliência. "São fatores e mecanismos que nos permitem superar e nos adaptarmos a situações adversas", explica Torrente.
O isolamento social, adotado para combater a pandemias, foi muito estudado pela neurociência e está provado, confirmam os especialistas, que “pode causar dano psicológico significativo e duradouro”. Patologias como ansiedade, depressão, insônia, estresse e ira são frequentes. Mas esta é uma situação inédita, argumentam ambos, e requer “um esforço enorme para estudar o que está acontecendo, ao mesmo tempo em que o atravessamos”.
"Resultados preliminares obtidos por nossa equipe de investigação revelam que mais de um terço de uma amostra de mais de 10 mil pessoas, em nosso país, apresentaram estados depressivos e ansiosos relevantes nos primeiros dias de isolamento. O fator mais importante foi a solidão", revela Torrente.
E apesar dos idosos estarem no grupo de risco e precisam cumprir integralmente o distanciamento social, a solidão afetou principalmente aos jovens. "Também está claro que os setores de menores recursos são mais impactados, assim como pessoas com doenças de saúde mental prévias", amplia o diretor da fundação.