Petrobrás: Troca de presidente não deve deixar gasolina mais barata, afirmam analistas
Demissão de Silva e Luna não deve mudar política de preços da estatal
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Joaquim Silva e Luna foi demitido da Petrobrás - anúncio ainda não oficializado, mas já confirmado pelo Ministério de Minas e Energia na segunda-feira (28) -, mas isso não deve alterar a política de preços da estatal, avaliam economistas que atuam no mercado financeiro.
De acordo com analistas ouvidos pelo G1, a demissão significa apenas uma ação política de Jair Bolsonaro (PL) para mostrar ao seu eleitorado que está descontente com a alta de preços dos combustíveis, após o forte reajuste promovido pela Petrobras no início de março, com aumento de 25% do diesel, 19% da gasolina e 16% do gás de botijão.
"Como já aconteceu isso [a demissão de um presidente da Petrobras sob Bolsonaro após reajuste de preços], isso é visto mais como uma 'esperneada', uma tentativa de Bolsonaro de dizer 'eu faço o que consigo, mas o pessoal não ajuda', como ele tem feito recentemente", observa José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.
No entanto, assim como ocorreu com a demissão de Roberto Castello Branco em fevereiro de 2021, após um reajuste de 14,7% no diesel e 10% na gasolina pela estatal naquele mês, os economistas afirmam que a saída de Silva e Luna não deve resultar em uma mudança significativa nos rumos da empresa.
"Foi o que aconteceu com a entrada do Silva e Luna. Estamos vivendo novamente o que vivemos quando Castello Branco saiu, que o mercado ficou superapreensivo e, no fim das contas, o Silva e Luna não alterou [a paridade de preços]. A verdade é que não é fácil alterar a política e o mercado entendeu isso", avaliou Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da gestora de recursos Ryo Asset.
O nome cotado para substituir Silva e Luna é o do consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e que foi conselheiro para a área de energia da campanha de Aécio Neves (PSDB) em 2014.
Durante o governo de Dilma Rousseff (PT), o novo presidente da Petrobrás foi um feroz crítico da política de controle de preço e fiel apoiador da paridade internacional — modelo em que o preço dos combustíveis no mercado interno segue a variação de itens como o preço do barril de petróleo no exterior e a cotação do dólar.
Durante entrevista á BBC News Brasil, no fim de fevereiro, quando iniciou-se a guerra na Ucrânia, o consultor defendeu que o petróleo em alta é bom para o Brasil, apesar de gerar inflação, porque o país é produtor e exportador do óleo e, portanto, a arrecadação de impostos da União, Estados e municípios cresce quando os preços sobem.
"O Brasil hoje, ao contrário do passado, virou um grande produtor e exportador de petróleo. Então o petróleo caro aumenta a arrecadação de Estado, município e União no Brasil. Isso é notícia boa, um país importador está muito pior do que Brasil", disse Pires, na ocasião.
Ainda durante essa entrevista, Pires defendeu que parte do aumento de arrecadação gerado pela alta do petróleo seja usado para criar programas sociais voltados a públicos específicos, como subsidiar as tarifas do transporte urbano, dar um auxílio aos caminhoneiros autônomos e aumentar o número de famílias beneficiadas com o auxílio-gás aprovado no Congresso ano passado.