Polícia indicia deputado Lucas Bove por suspeita de violência psicológica e stalking contra a ex-mulher
A defesa de Bove afirma que ele é a vítima do caso e que a influenciadora distorce a verdade

Foto: Reprodução/Redes Sociais
O deputado estadual paulista Lucas Bove (PL) foi indiciado pela Polícia Civil sob suspeita de stalking (perseguição) e violência psicológica contra a influenciadora Cíntia Chagas, sua ex-mulher.
Ela registrou boletim de ocorrência contra o deputado em setembro de 2024, acusando-o de abusos físicos e psicológicos, o que gerou uma medida protetiva e uma investigação pela 3ª Delegacia de Defesa da Mulher, que corre sob sigilo.
A defesa de Bove afirma que ele é a vítima do caso e que a influenciadora distorce a verdade.
No relatório final, a delegada Dannyella Gomes concluiu que havia controle excessivo de Bove contra Cíntia e que mensagens entre os dois comprovam que a influenciadora tinha que, constantemente, comprovar onde estava.
O indiciamento foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo no dia 15 de setembro. Agora a Promotoria vai decidir se apresenta a denúncia (ou seja, faz a acusação formal) contra o deputado à Justiça.
No documento de 60 páginas, a delegada diz que a relação do ex-casal não era harmônica e que ambos mantinham ciúmes exacerbados e desconfiança que extrapolam a normalidade.
Também afirma que o deputado exercia um controle da vida da influenciadora, que causou prejuízo à sua autodeterminação e saúde psicológica. Entre as trocas de mensagens analisadas pela polícia, o deputado diz que a ex-mulher que ela deve apagar um vídeo em que aparece fazendo exercícios e reeditá-lo.
"Pode apagar a perna arregaçada", "vai ser decente de aqui por diante", "eu não quero noiva minha se expondo na internet [sic]", "eu conhecia uma professora de direita, não uma blogueira vendida" são algumas das mensagens do deputado, de acordo com o documento.
Em depoimento, a influenciadora afirmou que viveu um relacionamento tóxico com Bove. Chagas disse ter sido vítima de uma série de abusos durante a relação de pouco mais de dois anos. Segundo ela, tudo começou com episódios de ciúme.
Para a delegada, o deputado também perseguiu a ex-mulher em diversos momentos, especialmente, após a separação do casal.
A defesa de Bove, em nota divulgada pelas redes sociais e representada pelo advogado Daniel Bialski, diz que Chagas "distorce a verdade, como fez desde o início, tentando se favorecer e tirar proveito de suas falácias."
O texto também afirma que ela divulga mentiras e informações que fazem parte de um procedimento sob segredo. Aponta ainda que a influenciadora possui "medida cautelar que lhe proíbe, expressamente, de falar sobre os fatos ainda em andamento."
Trata-se de uma medida cautelar solicitada pelo deputado para proibir Chagas de fazer publicações sobre o processo. A Justiça concedeu o pedido, mas o Ministério Público recorreu e pediu sua revogação.
Gabriela Manssur, que defende Chagas, diz que o indiciamento de Bove é uma vitória importante, mas que também deveria englobar violência física.
Na decisão do indiciamento, a delegada afasta o crime de lesão corporal e diz que, de acordo com as mensagens entre o ex-casal, não foi possível constatar, sem nenhuma dúvida, se as manchas roxas apresentadas pela vítima em fotos eram ou não decorrentes de atos consentidos por ela.
"Esse indiciamento também comprova o absurdo da censura imposta contra Cíntia", diz Manssur, sobre a medida cautelar que proíbe a influenciadora de se manifestar sobre o tema. "O segredo de Justiça tem por finalidade proteger a mulher vítima de violência, e não blindar o agressor", afirma a advogada.
No último dia 15, a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) arquivou por seis votos a um, o processo que pedia a cassação do deputado.
A denúncia foi protocolada pela deputada Mônica Seixas (PSOL). Após a decisão, a influenciadora gravou um vídeo emocionada e disse que os responsáveis pela votação demonstraram não apenas o corporativismo, como a "autodefesa masculina presente na Alesp".
"Os senhores riem da sociedade no momento que discutimos o feminicídio. Eu estou viva graças a mim porque eu denunciei, eu divorciei. Por isso, eu estou viva."