Premiê Mark Carney vence eleição e expande domínio liberal no Canadá
Novato na política institucional, Carney assumirá pela primeira vez um assento no Parlamento canadense

Foto: Dave Chan/AFP
O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, 60, continuará à frente do país após o Partido Liberal derrotar a legenda conservadora de Pierre Poilievre, nesta segunda-feira (28), nas eleições nacionais.
Novato na política institucional, apesar de ampla experiência à frente dos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido, Carney assumirá pela primeira vez um assento no Parlamento canadense à frente de um governo minoritário.
Com 100% dos votos contados, os liberais terminaram com 169 votos, 3 a menos do que a maioria de 172 cadeiras necessárias para formar uma maioria parlamentar. Os conservadores concluíram o pleito com 144 assentos; o Bloc Québécois (BC, lê-se 'quebecoá'), da província de língua francesa de Québec, ficou com 22; o Novo Partido Democrático (NPD), com 7 cadeiras; e o Partido Verde, com 1.
Percentualmente, são 49,3% dos votos para o Partido Liberal e 42% para os conservadores. Os liberais, portanto, formarão um governo de minoria, e precisarão de alianças para aprovações de leis e a própria manutenção do governo – Carney, no entanto, disse antes do pleito que não fará alianças com o BC, formado por separatistas do Québec.
Com a redução do NPD, que costumava apoiar o Partido Liberal nos últimos anos e cujo líder, Jagmeet Singh, perdeu seu assento, a margem de negociação para os liberais se reduz, em especial em um pleito que resultou em aumento dos dois principais partidos e perda de força das siglas menores.
Poilivre, o líder conservador, também perdeu sua cadeira no Parlamento em derrota em Carleton, na região de Ottawa, o que traz incerteza sobre seu futuro político -embora ele tenha liderado o aumento da base conservadora, que possuía 120 assentos antes da dissolução da Casa para o pleito atual.
O liberal Carney assumiu o cargo que agora carregará por mais tempo após vencer disputas internas de seu partido, cujo gatilho foi a renúncia, em janeiro, do então primeiro-ministro, Justin Trudeau, que permaneceu cerca de dez anos no posto e passava por longo período de desgaste.
Foi Trudeau, no entanto, que pode ter dado o empurrão necessário para que Carney tivesse sucesso no pleito. Pouco antes de deixar a liderança do partido e o cargo nacional, ele fez um duro discurso em defesa do Canadá em meio à guerra de tarifas implementada pelo presidente americano, Donald Trump.
O discurso, amplamente visto como um dos melhores de Trudeau no cargo, catapultou as intenções de voto no Partido Liberal: até ali com pouco mais de 20% em pesquisas eleitorais, o menor nível em anos, a legenda saltou em poucas semanas para mais de 40%, ultrapassando o até então ascendente Partido Conservador, que por sua vez passou a cair.
Parte considerável da campanha de Carney, não por acaso, foi em tom de resistência às tarifas de Trump. A medida implementada pelo presidente americano atingiu o Canadá, um aliado histórico, como poucos países no mundo -nesta terça, o republicano anunciou alívio nas tarifas ao setor automotivo, amplamente integrado entre EUA, Canadá e México.
O liberal afirmou nesta terça que seu país não deve "jamais esquecer as lições" do que chamou de traição americana. "Venceremos esta guerra comercial", declarou a uma multidão entusiasmada em Ottawa, onde advertiu sobre os desafios pela frente devido a tarifas e ameaças de anexação de Trump.
Após o pleito, o gabinete de Carney disse que ele conversou com o republicano por telefone, que o teria parabenizado. Os dois líderes também devem se encontrar em breve, e concordaram com a importância de Canadá e Estados Unidos trabalharem juntos "como nações independentes e soberanas".
As aspas, nesse caso, são compulsórias, dado o histórico breve e recente de conversas entre os dois líderes. Pouco antes da eleição, o posicionamento firme do premiê canadense contra as ameaças do republicano chegou a balançar depois que uma reportagem da Radio-Canada revelou que Trump havia repetido a ideia de que o Canadá deveria se tornar no 51º estado americano durante conversa com Carney em março.
O premiê havia dito que Trump respeitara a soberania canadense ao ser questionado anteriormente sobre como havia sido a conversa. A revelação estremeceu a imagem do primeiro-ministro como um líder forte que enfrentará o vizinho ao sul, e acabou dando força ao rival conservador, adicionando dúvidas na reta final da disputa, que por fim não se concretizaram.