Presidente do Bahia relata preconceito com gays no futebol: 'uma vida inteira escondendo quem realmente sou'
Emerson Ferretti falou das dificuldades enfrentadas pelos atletas homossexuais no esporte
Foto: Reprodução/Farol da Bahia
O presidente do Bahia, Emerson Ferretti, expôs as dificuldades enfrentadas pelos homossexuais no mundo do futebol e revelou sua jornada pessoal, marcada por anos de ocultação de sua orientação sexual e os desafios enfrentados desde a infância até ascensão no esporte.
"Foi uma vida inteira dentro de um campo de futebol escondendo quem realmente sou", lamentou Ferretti. Ele compartilhou que apenas em 2022, durante uma entrevista para um podcast, decidiu assumir publicamente sua homossexualidade, tornando-se o primeiro ex-jogador a fazê-lo no Brasil. No entanto, foi somente após ser fotografado ao lado do namorado durante o pré-Carnaval de Salvador, no mesmo ano, que ele se sentiu genuinamente "saindo do armário".
No depoimento ao repórter Duda Monteiro de Barros, da Revista Veja, Ferretti destaca as décadas de solidão e medo de ser descoberto em um ambiente esportivo permeado por preconceitos e machismo. Ele descreve sua infância em Porto Alegre, onde aprendeu cedo que seria marginalizado se assumisse a orientação sexual.
Entrando para a escolinha do Grêmio aos 8 anos, Ferretti percebeu que precisaria esconder sua verdadeira identidade para alcançar sucesso no esporte.
Mesmo após se tornar goleiro titular do Grêmio aos 20 anos e ganhar destaque, Ferretti enfrentou pressões e ameaças à sua carreira devido ao "segredo". Ele relembra momentos de depressão e a constante vigilância sobre sua vida pessoal, com "fofocas correndo soltas pela cidade e piadas homofóbicas nos vestiários e nos estádios".
Apesar das adversidades, o atual presidente do Bahia enxerga sua experiência como uma oportunidade para inspirar jovens gays que sonham em seguir carreira no futebol. Ele destaca a importância de quebrar estereótipos e abrir caminho para uma maior aceitação no esporte.
"É claro que há muitos homens gays no futebol, mas isso é ignorado. Namoradas e até mulheres de fachada são mais comuns do que se imagina. Eu realmente entendo quem recorre a esse teatro. Não querem se tornar o centro das atenções, nem ser prejudicados por isso. Contar minha história é uma forma de inspirar meninos gays que pretendem ser jogadores a ter coragem de fazer o mesmo. Sinto que posso acabar com uma série de estereótipos, como o de que homossexuais não têm talento com a bola", disse o ex-jogador.
Ao finalizar o relato, Ferretti elogiou o Bahia e disse não ter enfrentado nenhum comentário negativo ou piada dentro do clube. "Deixar de encenar um personagem depois de tanto tempo foi libertador. Doa a quem doer, este é o Emerson de verdade, que nunca mais vai ter de se esconder", concluiu.