Presidente do Itaú afirma que falta ao governo um administrador da crise
Para Candido Bracher, quarentena é necessária para enfrentar a pandemia

Foto: Reprodução
Em entrevista ao Jornal O Globo, o presidente do Itaú, Candido Bracher fez críticas ao governo Federal frente à administração da crise causada pela pandemia do Coronavírus. De acordo com ele, o governo terá que gastar mais para suavizar os efeitos.
Candido Bracher ocupa a cadeira da presidência do Itaú desde 2017, o maior banco privado do país. O administrador reconhece que as medidas adotadas até o momento são insuficientes para enfrentar um cenário de paralisação da atividade econômica. Para ele, falta ao governo Bolsonaro um administrador da crise, papel exercido por Pedro Parente em 2001, durante a crise do apagão.
Bracher acredita que as medidas adotadas pelo Banco Central para liquidez do sistema não foram suficientes. “São medidas na direção correta, que suprem o mercado de liquidez, mas a liquidez é só uma parte do trabalho. É fundamental, mas não é suficiente. O Banco Central está fazendo um trabalho muito bom, mas não podemos esperar que cumpram o papel de outras medidas”, disse.
Sobre o governo ter voltado atrás com relação a suspensão de contratos trabalho, Bracher afirmou que “sinto falta de um administrador da crise, de alguém que coordene todos os esforços do governo e possa administrar o arsenal variado de medidas para combater a crise. Como um Pedro Parente na gestão do apagão. Falta delegar a uma pessoa assim. Alguém que assuma a gestão nas suas multidisciplinaridades. O Brasil precisa de alguém com experiência em gestão de crise. Perfil mais tecnoburocrático do que um político tradicional”.
Quarentena
Para Candido Bracher a quarentena é necessária. “Naturalmente sou administrador de empresa. Não sou nem economista nem médico. A pergunta é por quanto tempo”, disse.
Ele ainda completou que “estou acompanhando com grande interesse a discussão que está acontecendo nos EUA e acho que temos que começar a fazer aqui também. Tenho impressão que se for daqui a três meses, o estrago econômico será tão grande que sairá mais cara a cura do que a doença. Mas essa é uma análise complexa, difícil, com aspectos éticos e delicados. Você está comparando vidas à vista com vidas a prazo, pois o desemprego custa muitas vidas também”, concluiu.
O Banco Itaú anunciou como uma das medidas para conter a crise diante da pandemia do coronavírus a rolagem de dívidas por 60 dias. Candido Bracher afirmou que em meio a crise, as medidas vão surgindo na medida em que são necessárias.
“Além da rolagem da dívida para os clientes, temos medidas para manter agência aberta. Colocamos 40 mil colaboradores em home office. Decidimos suspender demissões enquanto durar a crise. Estamos comprando novos laptops pra poder colocar todo mundo em casa. A evolução da crise é que ditará as medidas”, frisou.
Sobre a rotina de trabalho em casa, o presidente do Itaú afirmou que está funcionando muito bem tecnicamente. “A gente tem o dia totalmente ocupado e trabalha mais. Mas você está em um ambiente agradável, almoça em casa, uma experiência raríssima. Faço psicanálise de manhã. Tenho feito pelo telefone e tem funcionado super bem. Não sei se quando acabar a quarentena vou voltar a ir fisicamente ao consultório”, disse.