Prisão invisível: quando a dependência financeira tranca mulheres em relacionamentos abusivos!
Sem autonomia, o dinheiro se torna arma de controle emocional e físico em relações tóxicas, alerta especialista
Foto: Divulgação
Em meio à complexidade das relações abusivas, há uma prisão silenciosa que captura muitas mulheres: a dependência financeira. Não é raro que essa vulnerabilidade crie uma teia invisível, onde a falta de autonomia econômica se entrelaça com a manipulação emocional, intensificando o ciclo de violência e sofrimento.
De acordo com a psicanalista Ana Lisboa, que também é mentora que orienta milhares de mulheres ao redor do mundo, a dependência financeira é uma das principais amarras que mantém mulheres presas em relacionamentos tóxicos. “Quando a mulher não possui meios para se sustentar, ela acaba refém de uma dinâmica onde o poder econômico é usado como uma ferramenta de controle", pontua.
Estudos indicam que a violência doméstica muitas vezes não começa com a agressão física, mas com uma série de comportamentos que minam a autoestima e a liberdade da mulher. O controle sobre as finanças é uma dessas estratégias, na qual o parceiro assume o comando, seja limitando o acesso a recursos ou impedindo o desenvolvimento profissional e acadêmico da mulher.
A educação financeira, então, surge como uma aliada indispensável para a libertação. Quando as mulheres têm conhecimento sobre suas finanças e aprendem a gerenciar seus próprios recursos, elas estão mais preparadas para tomar decisões com independência e confiança, rompendo com relações nocivas. "Ensinar uma mulher a ter domínio sobre o próprio dinheiro é dar a ela uma chave para sair de uma relação abusiva. A liberdade financeira reflete diretamente em sua capacidade de dizer 'não' e de buscar ambientes saudáveis", reforça a psicanalista.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que mais de 60% das mulheres que sofrem violência doméstica não possuem renda própria. Para elas, o medo de perder o sustento acaba pesando mais do que o desejo de abandonar a relação. "Não é só o medo da agressão física, mas a insegurança de como sustentar a si e aos filhos que mantém muitas mulheres paralisadas", observa Lisboa.
A falta de educação financeira cria, assim, um ciclo de vulnerabilidade. Mulheres que não dominam o básico da economia pessoal tendem a ser mais suscetíveis a aceitar situações que comprometem sua dignidade e bem-estar, temendo a instabilidade que o rompimento traria. "É nesse momento que o agressor usa a fragilidade financeira como mais uma forma de controle, deixando a mulher emocionalmente exausta e fisicamente exposta", comenta Ana.
O impacto da autonomia financeira vai além da conta bancária. Ele se reflete diretamente na autoestima e na percepção de valor que cada mulher tem de si mesma. Quando ela compreende sua força e sua capacidade de gerar renda, cria-se uma rede de proteção contra a violência. Por outro lado, quando essa autonomia é negada, ela se torna alvo fácil de manipulações emocionais que a empurram ainda mais para o abismo de uma relação abusiva.
A psicanalista ressalta que a solução passa por uma educação sistêmica. “Não se trata apenas de ensinar a mulher a lidar com dinheiro, mas de entender todo o contexto em que ela está inserida, suas crenças, medos e padrões familiares. A mudança é profunda e vai além da economia; é uma transformação emocional e estrutural."
E conclui: “Educar financeiramente é empoderar emocionalmente. Ao oferecer conhecimento, estamos armando as mulheres contra os abusos e abrindo portas para uma vida mais livre e segura”.
Ana Lisboa @analisboa
Psicanalista, professora, empresária, advogada, palestrante e fundadora do maior movimento de saúde mental feminina do mundo. Ana possui formações em Psicologia Positiva, Neurociências e Terapia de Casais. Graduada também em Direito, especialista em Direitos das Mulheres, e mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Autónoma de Lisboa. Fundadora e CEO do Grupo Altis, startup inovadora voltada para negócios sistêmicos e universidade reconhecida pelo MEC e especializada em saúde mental feminina, Ana é especialista em terapias sistêmicas e lidera a comunidade Feminino Moderno com mais de 63 mil alunas em 42 países.