Procuradores da Lava Jato em SP justificam demissão coletiva sob alegação de 'desmonte'
Demissão foi anunciada um dia após saída de Dallagnol

Foto: Agência Brasil
Os sete procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato em São Paulo, que decidiram renunciar coletivamente, disseram, em ofícios enviados para a cúpula do Ministério Público Federal, que a saída foi motivada por um processo de "desmonte" dos trabalhos e "incompatibilidades insolúveis" com a procuradora natural do caso, Viviane de Oliveira Martinez. Os documentos foram divulgados na quarta-feira (2).
Na ação, os procuradores disseram ainda que a procuradora chegou a pedir para que novas investigações não fossem conduzidas, assim como tratativas de delações. O desligamento de sete membros que integravam a Lava Jato paulista, incluindo a coordenadora do grupo, a procuradora regional Janice Ascari, foi anunciado um dia depois que o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da operação em Curitiba, anunciou que deixaria o cargo.
Em um dos ofícios enviados ao procurador-geral da República, Augusto Aras, os procuradores pedem o desligamento do grupo, mas se colocam à disposição para uma transição. Já em outro ofício enviado a integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF), órgão administrativo máximo da instituição, os procuradores detalham em 13 páginas uma série de dificuldades enfrentadas pela força-tarefa paulista, que foi criada em junho de 2017.
No documento, os procuradores relatam que a procuradora, que chegou a dizer que "não faria parte da força-tarefa" e que nem sequer peticionou ou participou de reuniões sobre investigações, começou a criar embaraços para a realização de apurações. Ainda de acordo com o documento, houve um pedido feito por email por Viviane em junho para que uma operação planejada ,que tinha alvo o senador e ex-governador José Serra (PSDB-SP), fosse adiada. Segundo os procuradores, a procuradora não apresentou qualquer razão jurídica para fundamentar o pedido.
"Ao longo dos meses, os signatários tentaram, de todas as formas possíveis no limite de suas atribuições impedir que esse processo de desmonte, conduzido pela nova titular do 5º ofício, seguisse adiante. Mesmo sem poderem contar com as ajudas dela ou de sua assessoria na comunicação dos casos afetos a esta força-tarefa, seguiram neles atuando e cumprindo com seus deveres", disse os procuradores.
"A situação, entretanto, tornou-se insustentável a partir do momento em que a Procuradora da República Viviane, intensificando sua postura de desmonte do acervo da força-tarefa, passou a decidir unilateralmente, sem debater com estes signatários, ou mesmo sequer sem comunicá-los, declinando feitos e trabalhando em várias vias por suas redistribuições", completaram. Até o momento, a procuradora Viviane não se manifestou a respeito das alegações que levaram ao desligamento dos colegas.