Produção da vacina contra esquistossomose deve ser concluída em breve, afirma Fiocruz
Imunizante será disponibilizada para o Sistema Único de Saúde (SUS)
Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz
A vacina Schistovac contra a esquistossomose, uma doença parasitária, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) deve ficar pronta nos próximos meses. A vacina será disponibilizada para o Sistema Único de Saúde (SUS) no final de 2025, tornando-se a primeira vacina do mundo contra essa doença. O nome da vacina é derivado do Schistosoma mansoni, o verme responsável pela esquistossomose na América Latina e na África.
Miriam Tendler, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, destacou em entrevista à Agência Brasil que a vacina Schistovac é um projeto antigo da Fiocruz e está entrando em sua fase final neste ano. A vacina está sendo desenvolvida e será patenteada pelo IOC/Fiocruz.
Os testes clínicos da vacina Schistovac tiveram início entre 2010 e 2011, com cinco testes clínicos importantes realizados até o momento. As fases 1 e 2 ocorreram no Brasil em uma área não endêmica, após aprovação regulatória da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em seguida, os testes clínicos da fase 2 foram conduzidos em uma estrutura no Senegal, associada ao Instituto Pasteur de Lille, na França, em uma área endêmica desse país africano. Os testes foram realizados primeiramente em adultos e, posteriormente, em crianças. Agora, com a conclusão da fase de campo, está em andamento o processamento dos dados.
Miriam Tendler informou que foi introduzida uma modificação no esquema de vacinação, substituindo o esquema original. Assim como ocorreu com a vacina contra a COVID-19, que começou com duas doses e posteriormente passou para cinco doses, pode ser necessário ajustar o número de doses e o intervalo entre elas no futuro. O protocolo adotado é de duas doses com um mês de intervalo entre elas, seguidas por mais quatro meses até a terceira dose. Essa mudança no protocolo visa induzir uma resposta imunológica mais eficaz.
Um avanço no processo de produção da vacina Schistovac ocorreu com a utilização de um novo lote (Sm14) produzido a partir de um banco de células master nos Estados Unidos. Esse lote foi produzido na Universidade de Nebraska e passou pelos testes clínicos da fase 2 no Senegal, obtendo resultados positivos. O processo de produção sofreu atrasos devido à pandemia de COVID-19, mas o período também permitiu o escalonamento da produção em larga escala.
Com base nesse processo, foi produzido um novo lote da vacina que foi validado. Miriam Tendler destacou que isso agrega valor à tecnologia, que é totalmente brasileira. A próxima etapa é a fase 3, que abrangerá um total de 2 mil pessoas para garantir a segurança da vacina e obter a pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa fase será concluída até o final deste ano.
Atualmente, cerca de 800 milhões de pessoas vivem em áreas de risco para a esquistossomose, e há aproximadamente 300 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. Embora os dados específicos do Brasil sejam incompletos, estima-se que cerca de 2% da população seja afetada pela doença, com maior incidência na Região Nordeste e no sul de Minas Gerais. A esquistossomose está se espalhando para o Sul e Sudeste do país, especialmente em regiões sem saneamento básico.