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Produção e controle de qualidade do IFA levam 90 dias, diz representante da Fiocruz

Marco Krieger explica a jornada de cientistas na produção da substância necessária para vacina contra Covid-19

Por Da Redação, Agência Brasil
Ás

Produção e controle de qualidade do IFA levam 90 dias, diz representante da Fiocruz

Foto: Reprodução/Fiocruz

Em entrevista à Agência Brasil, o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marco Krieger, explicou o passo a passo da jornada dos cientistas do  Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) que deram início a uma maratona de cerca de três meses para produzir o primeiro lote nacional do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19.   

Para ele, o "coração" do processo produtivo é a utilização do mesmo banco de células e da mesma semente de vírus que os desenvolvedores da vacina usaram, para que se obtenha os mesmos resultados clínicos que confirmaram a eficácia do imunizante.

"Em todo o processo de transferência de tecnologia, a parte mais importante, e que normalmente fica até para o final do processo, é o recebimento desse banco de células e banco de vírus, porque agora a gente tem as condições de iniciar todo o processo de produção a partir de células que já foram analisadas, classificadas, e com que a gente já tem garantias de que terá o produto esperado", diz Krieger. “Já temos aqui todo o coração da tecnologia, o que normalmente aconteceria em 10 anos”.

Antes de trabalhar com as células recebidas, os técnicos de Bio-Manguinhos passaram por um treinamento com células semelhantes para ganhar experiência no descongelamento do banco de células, que chegou dos Estados Unidos a uma temperatura de -150 graus Celsius. "Esse material é tão precioso que não podemos correr o risco de ser desperdiçado", explica Krieger, acrescentando que neste momento a fábrica de vacinas da Fiocruz já iniciou o trabalho com as células que produzirão o IFA.

Apesar de essas células poderem ser multiplicadas em laboratório, Krieger explica que elas são preciosas porque a produção de um lote de IFA deve sempre partir de 1 ml de células que sejam geneticamente próximas do banco inicial. Como as células acumulam modificações de geração em geração ao serem replicadas, esse controle garante que o resultado final se mantenha dentro do esperado. 

Esse 1 ml inicial começa a ser cultivado em pequenos frascos, que são trocados por outros de maior capacidade conforme seu volume aumenta, até que chegue a um biorreator de mil litros. Nesse biorreator, também chamado de fermentador, as células são alimentadas com nutrientes e oxigênio para que se multipliquem ainda mais e aumentem a densidade desses mil litros. Esse processo do 1 ml aos mil litros é chamado de expansão celular e precisa ser cuidadosamente conduzido por cerca de 40 dias. 

É nesse biorreator que as células começam a interagir com os adenovírus de chimpanzé não replicantes, que são usados na vacina. A partir dessa interação, o adenovírus é preparado para atuar como vetor viral, que leva as informações genéticas do SARS-CoV-2 para que nossas células repliquem a proteína S, usada pelo novo coronavírus na invasão celular.

O conteúdo do biorreator precisa passar por uma série de processos após essa interação, como a clarificação e a purificação, já que ocorre um rompimento das células e a produção de partículas que não são necessárias na vacina. Depois de 45 dias, aquele 1 ml que inicia a expansão celular se torna mil litros do concentrado viral, que é conhecido como IFA.

Conforme a estimativa de Krieger, as novas remessas poderão trazer aprimoramentos da vacina que, futuramente, deverão surgir a partir de novos estudos e mutações do vírus. Ou seja, a produção desses bancos de células vai permitir a produção da vacina contra a Covid-19 por cerca de 30 anos.

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