Produtores brasileiros enfrentam queda nos preços de commodities agrícolas em meio à supersafra
Após anos de recordes de produção, soja, milho e carnes têm desvalorização nos mercados globais
Foto: Wenderson Araújo/Trilux
Os produtores brasileiros no setor agropecuário enfrentam um paradoxo em 2023. Embora o Brasil esteja colhendo uma "supersafra" com recordes de produção e condições climáticas favoráveis, produtos como milho, soja e carnes estão sendo comercializados nos mercados globais por valores significativamente inferiores em relação aos anos anteriores. Dados foram divulgados nessa segunda-feira (29), por Francisco Queiroz, da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Após alcançarem altas históricas em 2021 e 2022, as commodities agrícolas entraram em uma fase de declínio. Na bolsa de Chicago, os contratos futuros da soja e do milho acumulam quedas superiores a 20% em comparação com maio de 2022.
"Se observarmos os números da próxima safra, a produção global de soja tende a atingir um recorde, com crescimento de 11%. No entanto, o consumo só aumentará em 6%, no melhor cenário", afirma. "Começamos a vislumbrar um ciclo menos favorável."
Nos últimos dois anos, a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia e eventos climáticos adversos resultaram no que é chamado na teoria econômica de choque de oferta. A demanda por alimentos permanecia alta em todo o mundo, mas a oferta no campo não acompanhava o mesmo ritmo, o que levou ao aumento dos preços.
Agora, a situação se inverteu: incentivados pelos bons lucros dos últimos anos, os produtores fizeram altos investimentos, levando à produção de recordes no Brasil e no mundo.
Além disso, as perspectivas climáticas para os próximos ciclos no Brasil são favoráveis, sem grandes transtornos para o plantio. Há também boas projeções de safra para outros grandes produtores de grãos, como Estados Unidos e Argentina, este último se recuperando de uma seca que devastou a produção neste ano.
Investimentos não recuperados Um problema adicional para os produtores é o alto custo do plantio da safra atual.
No ano passado, a guerra na Ucrânia causou um aumento nos custos de fertilizantes, muitos dos quais são produzidos na Rússia, além de outros insumos. No setor pecuário, o aumento do preço do milho no mercado internacional também resultou em despesas elevadas para alimentar os rebanhos.
Além disso, os custos em dólar foram mais altos, enquanto a produção atual será vendida com a taxa de câmbio estabilizada em R$ 5 ou menos.
"A safra que estamos colhendo agora foi plantada com custos de produção elevados e um dólar mais valorizado", afirma Tirso Meirelles, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). "O prejuízo com a safra atual será significativo."
Em relação à demanda, o cenário poderia ser ainda pior. Esperava-se que os aumentos nas taxas de juros e a maior inflação em quatro décadas nos países desenvolvidos pudessem frear o consumo a partir deste ano.
Como uma parte dos preços nos mercados internacionais é baseada puramente em expectativas, esse risco contribuiu para a queda nos preços das commodities em todos os setores, desde o agrícola até o de petróleo e minérios.